Blumenauense e agora dono de uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL). O romancista Godofredo de Oliveira Neto, aos 71 anos, será o primeiro escritor catarinense a se tornar “imortal” nesta sexta-feira (2). Antes de conquistar esse espaço, porém, há por trás um caminho de muita ficção, histórias, lutas identitárias e pesquisas.
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Atualmente professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), casado e pai de uma filha, Godofredo nasceu em Blumenau em 1951. Quando criança, gostava das aulas de literatura e ainda se recorda da professora “dona Frida”, que apresentou as obras de Machado de Assis, quando tinha por volta de 10 anos.
Na adolescência, passou a escrever – inicialmente, poesias e, depois, prosa. Quando ingressou no curso Clássico (correspondente ao Ensino Médio atual), participou do movimento estudantil, despertando a visão crítica para questões sociais e sentindo-se mais motivado a ler, apesar da maioria dos colegas não manter esse hábito.
Do Rio de Janeiro à França
Mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer a faculdade. Por causa de alguns textos, foi intimado a prestar depoimento na época da ditadura. O desaparecimento de amigos na mesma situação o fez exilar-se na França, onde morava uma amiga com quem se casaria mais tarde.
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Em Paris, formou-se em Relações Internacionais e em Letras, além de cursar mestrado também em Letras na Universidade de Sorbonne. De volta ao Brasil, fez o doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é professor desde os anos 1980.
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Além de “Esquisse”, outros dois romances foram traduzidos para o francês: “Menino oculto” (2005) e “Amores Exilados” (2011), este sobre os exilados políticos durante a ditadura no Brasil, que recebeu destaque da crítica literária. “Ana e a margem do rio” (2002) foi publicado na Bulgária e recomendado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
No total são 21 livros de contos e romances publicados.
O escritor catarinense recebeu premiações como a Medalha Euclides da Cunha da Academia Brasileira de Letras e a Medalha Cruz e Sousa do Estado de Santa Catarina, além do segundo lugar no Prêmio Jabuti (2006) para a obra “Menino Oculto”. É membro desde, 2018, da Academia Catarinense de Letras e também integra a Academia Carioca de Letras.
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No ano passado, concorreu a um espaço na ABL, mas não conseguiu. Em abril de 2022, no entanto, 22 votos na eleição garantiram a cadeira 35, que era de Cândido Mendes de Almeida, morto em fevereiro.
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Godofredo pretende representar na ABL traços da cultura catarinense desconhecidos da maioria dos brasileiros, mas também lutas identitárias. Habituado a criar ficção a partir de episódios históricos, como a Guerra do Contestado, o escritor vê nos movimentos de negros, mulheres, indígenas e LGBTQIA+ afirmações da soberania nacional.
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