Uma jovem de olhos amendoados esteve nesta terça-feira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para falar sobre seu país antes e durante a ditadura e a revolução social também conhecida como guerra civil que, para ela, inspirou um sentimento novo, de coletividade.
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Aos 24 anos, Sara Al Suri é exilada política no Líbano. Há sete meses, por força de um mandado de prisão, ela deixou a Síria, país onde nasceu e cresceu. Desde janeiro de 2011 a Síria está em conflito interno entre a oposição formada por civis e desertores do Exército e o governo do ditador Bashar al-Assad. O conflito tem provocado milhares de mortes.
Sem poder continuar a participar da resistência contra al-Assad em seu próprio país nem voltar para casa na capital Damasco, Sara atua na revolução pela internet e em debates pelo mundo.
Para um auditório lotado no Centro de Ciências Jurídicas, a mestre em Antropologia, formada em Ciências Políticas, exibiu documentários antes do debate promovido pela Conlutas e Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (CSP).
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Os curtas mostram o jornalismo revolucionário e as zonas livres que a palestrante observou serem prova para o Ocidente de que os árabes podem organizar e administrar suas próprias vidas.
Entre as imagens, pessoas cantando pela liberdade e o vilarejo Kafranbel, libertado no ano passado e bombardeado em novembro.
– Estão destruindo famílias, casas, memórias. E dizendo que as pessoas serão presas e sua vida destruída se participarem da vida política – disse a militante, em um ótimo inglês.
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Sara criticou a mídia por chamar a Revolução Síria de guerra civil, ironizou o governo de ter se sentido ameaçado por crianças fazendo grafiti na escola, ato que deu início aos conflitos (ver box) e disse que a revolução em seu país integra a Primavera Árabe não só pela proximidade física, mas por todo o processo de luta por liberdade e democracia.
Econômica e enérgica nos gestos, Sara Al Suri contou que a luta armada foi algo imposto pelo próprio regime e que o primeiro gatilho da militarização na Síria foi quando os soldados do Exército se recusaram a atirar contra manifestantes. Rapidamente, as deserções se espalharam pelo país que sentencia à morte seus desertores.
– A Revolução Síria se encontra em uma etapa democrática, numa fase de construção de um processo social. Não queremos mais uma ditadura militar. O massacre contra o povo sírio é contra o ser político. Minha vida começou depois da revolução.
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A origem do conflito:
As manifestações contra o governo sírio começaram na cidade de Deraa, no sul da Síria, em março de 2011, quando um grupo de pessoas se uniu para pedir a libertação de 14 estudantes de uma escola local.
Eles foram presos e supostamente torturados por terem escrito no mural do colégio o conhecido slogan dos levantes revolucionários na Tunísia e no Egito: “As pessoas querem a queda do regime”.
O protesto reivindicava maior liberdade e democracia na Síria, mas não a renúncia do presidente Bashar al-Assad. A manifestação, pacífica, foi brutalmente interrompida pelas forças do governo, que abriram fogo contra os opositores, matando cinco pessoas.
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A reação desproporcional do governo acabou por impulsionar o protesto para além das fronteiras de Deera. Cidades como Baniyas, Homs e Hama, além dos subúrbios de Damasco, juntaram-se a partir desse episódio aos protestos contra o regime.
Segundo a ONU, mais de 9 mil pessoas foram mortas por forças de segurança e, pelo menos, outras 14 mil foram presas. A partir de tanta violência, os opositores ao regime começaram a pedir a renúncia do presidente Bashar al-Assad e uma série da atentados ocorrem com frequência no país.