Na tarde de terça-feira, um militar do 62º Batalhão de Infantaria de Joinville tentava resolver, de forma amistosa, problemas com o banco do qual é correntista por meio de um telefonema do quartel. A cena seria comum, não fosse o fato de ele ter de insistir para que a situação fosse resolvida a distância, uma vez que está impedido de sair do batalhão há uma semana, assim como outros 591 companheiros.
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A medida foi adotada pelo comandante do 62º BI, tenente-coronel Ronaldo França Navarro, depois que o desaparecimento de 47 armas de cano curto, provenientes de apreensões na região de Joinville, foi descoberto, em 25 de setembro.
Terça-feira, 592 militares ainda estavam em regime de prontidão no quartel – inclusive o comandante, que afirma que o procedimento é necessário porque o Exército tem o “compromisso” de dar retorno à sociedade sobre o desvio.
Apesar de Navarro não abrir detalhes sobre os inquéritos para apurar o caso, o chefe do Estado Maior da 14ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército, coronel Pedro Osvaldo Andrade Carolo, disse, em Florianópolis, que há dois militares suspeitos de furtar as armas: um cabo e um soldado responsáveis por cuidar da repartição onde elas eram armazenadas.
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– Mas pode haver mais gente envolvida. Isso será determinado pelo inquérito militar que foi instaurado, e corre na Circunscrição Judicial Militar -, afirma.
A 5ª Circunscrição Judiciária Militar de Curitiba, que abrange Santa Catarina, confirmou a abertura de inquérito, mas informou ainda não ter ocorrido prisões.
Terça-feira de manhã, um grupo de quase 100 militares foi liberado para passar o dia fora do quartel. De acordo com o comandante Navarro, eles deixaram as instalações do 62º BI por volta das 8 horas sob a condição de retornar até as 21 horas. Nesta quarta, outro grupo deve ser liberado, já que a escala irá funcionar em esquema de rodízio.
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O lado mais visível do aquartelamento dos militares de Joinville é o incômodo na vida de algumas famílias. É o caso de Maristela de Sousa, 19 anos, que levou a pequena Yasmim, de seis meses, na tarde de terça-feira ao 62º BI para visitar o pai.
– Foi bem complicado, a gente não esperava. Chamaram ele à noite sem dizerem o motivo -, conta.
A falta de informações também incomoda Maristela.
– Não falam nada para a gente.
Outra mulher de militar, que não quis se identificar, conta que casais com filhos pequenos estão sofrendo mais com a mudança na rotina.
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Mas a diretora de secretaria da 5ª Circunscrição Judiciária Militar de Curitiba, Alessandra Emília Merlin, afirma que, a princípio, não há irregularidade na ação do comando do batalhão em Joinville.
– Questões administrativas é o comandante que determina -, disse.
Alessandra explica que a Justiça só pode tomar medida se as famílias que estão se sentindo prejudicadas encaminharem a situação com a ajuda de um advogado.
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