Cinquenta e cinco homens do Exército chegaram nesta sexta-feira a Governador Valadares, no leste mineiro, e iniciaram distribuição de garrafas de água mineral à população local, que sofre com colapso no abastecimento desde a segunda-feira. Centenas de pessoas formavam filas que davam voltas no quarteirão da Praça dos Esportes, no centro. A espera por quatro garrafas de um litro chegava a ultrapassar três horas e meia.

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A cidade interrompeu a captação no Rio Doce em razão da chegada à região dos rejeitos das barragens em Mariana (MG). A distribuição de água à população integra o plano emergencial para socorrer a população.

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O vigilante Sebastião Valério, de 60 anos, aguardava há duas horas para pegar as garrafas. Ele contou ter estocado água em casa desde o fim de semana em caixas e galões.

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– Acho que ainda dura uns três dias. Depois, todos os dias vamos ter de enfrentar filas como essa – disse.

Com o tempo quente, a tarefa de aguardar na fila representou esforço excessivo para algumas pessoas. A cozinheira Romilda Monteiro, de 37 anos, não aguentou e desmaiou, sendo rapidamente atendida.

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– Faz tanto tempo que estou aqui que nem lembro a hora que cheguei – disse.

Romilda contou que o restaurante onde trabalha na cidade está fechado por falta de água.

Plano

A prefeitura de Governador Valadares informou nesta sexta-feira que pretende instalar caixas de 20 mil litros em pontos estratégicos de bairros da cidade para levar água potável à população. Os cerca de 40 caminhões-pipa que estão hoje no município atendem apenas pontos prioritários, como hospitais e abrigos. O objetivo é elevar o número de veículos para 150 ainda neste fim de semana.

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– O plano com caminhões-pipa vai garantir a vinda de 3, 2 milhões de litros por dia. Mas precisamos de ao menos 15 milhões para conseguir fornecer 50 litros por família, que já é uma quantidade reduzida – disse a prefeita Elisa Costa (PT).

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Para complementar a demanda, a administração pretende contar com auxílio de vagões-tanque da Vale, que trafegam pela ferrovia que corta a cidade, além de obras que devem levar um mês para terem a execução finalizada.

Os vagões da Vale carregam 60 mil litros por viagem. A prefeitura pondera, no entanto, que só o hospital municipal consome 200 mil litros por dia. As ações planejadas incluem também a perfuração de 15 poços artesianos em pontos do município, com previsão de fornecimento de cinco litros por segundo; o Rio Doce fornecia 120 litros por segundo no mesmo tempo.

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As captações alternativas não devem ser suficientes para permitir a retomada da distribuição pelo sistema encanado, já que o volume não atinge o mínimo para garantir a pressão necessária, segundo a prefeitura.

A solução poderá estar na construção emergencial de uma adutora de engate rápido anunciada nesta quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff em visita a Governador Valadares.

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A obra deve levar 30 dias para ser concluída.

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– A ação definitiva para colocar água novamente nas torneiras é a construção da adutora. Estamos estudando soluções para que o prazo encurte. Estamos tentando diminuir o desconforto, mas haverá algum desconforto – disse o secretário nacional de Defesa Civil, general Adriano Pereira Júnior, que está na cidade para apoiar as ações.

A construção da adutora deverá contar com o apoio da mineradora Samarco, que enviou representantes a Governador Valadares na quinta-feira.

– Conseguimos fazer a empresa Samarco assumir o compromisso de que ela é a única responsável de todo esse desastre – disse a prefeita Elisa.

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*Estadão Conteúdo