As tropas afegãs recuperaram nesta quinta-feira parte da cidade estratégica de Kunduz, norte do país, ocupada durante três dias pelos talibãs, mas ainda são registrados combates esporádicos em alguns bairros da região.

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Embora tenha sido confirmada, a recuperação de Kunduz está longe de significar uma vitória no longo prazo de Cabul contra os talibãs, derrubados pelos ocidentais em 2001 e protagonistas desde então de uma sangrenta insurgência.

Muitos habitantes indicaram à AFP no início do dia que o exército havia tomado o controle de vários bairros centrais dos rebeldes, que entraram na cidade na segunda-feira em um ataque fulminante.

“As forças afegãs retomaram o controle de Kunduz”, afirmou Sediq Sediqqi, porta-voz do ministério do Interior, embora tenha ressaltado que as “operações ainda levarão um tempo, já que os talibãs disparam a partir de casas e instalaram artefatos explosivos”.

Por sua vez, os talibãs negaram um recuo. O porta-voz do grupo, Zabihulah Mujahid, afirmou que os combatentes “expulsaram os invasores e as forças do governo fantoche”.

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Mas um comandante rebelde entrevistado pela AFP informou, sob a condição de anonimato, que os talibãs estão deixando a cidade, o que abre caminho para a recuperação total por parte do governo.

“Os talibãs deixaram a maioria dos bairros, mas esta retirada é parte da estratégia. Nosso objetivo era mostrar força e conseguimos. Demonstramos que podemos tomar qualquer cidade a qualquer momento”, explicou.

De acordo com um morador entrevistado pela AFP, combates esporádicos eram registrados nesta quinta-feira e os corpos de alguns combatentes talibãs estavam nas ruas. Outro, Mangal, disse ouvir confrontos violentos a partir do porão no qual havia se refugiado, a 2 km do centro da cidade.

A tomada de Kunduz, uma cidade estratégica no caminho para o Tadjiquistão, foi um revés para o presidente Ashraf Ghani, no poder há 12 meses, e para as Forças Armadas, que combatem os insurgentes por conta própria desde o fim da missão de combate da Otan em dezembro do ano passado.

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A Aliança Atlântica mantém apenas 13.000 soldados no Afeganistão, limitados ao papel de treinamento e assessoria. Mas, diante das dificuldades das tropas afegãs, soldados alemães, americanos e britânicos das forças especiais foram enviados a Kunduz. O exército americano também executou bombardeios aéreos, um apoio crucial.

Abdul Rahman, morador da cidade, afirmou que a bandeira afegã substituiu o estandarte branco dos talibãs na principal praça de Kunduz.

“Os talibãs sofreram importantes perdas durante a noite”, disse.

Negociações de paz

Durante três dias de ocupação, muitos moradores fugiram e a possibilidade do retorno ao regime fundamentalista dos talibãs (1996-2001) assustou especialmente as mulheres. As lojas fecharam, os alimentos começaram a acabar e muitos bairros ficaram sem água e energia elétrica.

Neste período, meia centena de pessoas morreram e outras 300 ficaram feridas, segundo fontes de saúde locais e uma porta-voz da ONG Médicos sem Fronteiras (MSF).

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A tomada de Kunduz, com 300.000 habitantes, constituiu o primeiro grande êxito do novo líder dos talibãs, o mulá Akhtar Mansur, nomeado após o anúncio em julho da morte de seu antecessor, o mulá Omar. A designação provocou divisões internas no grupo.

“Os talibãs sabem que não têm os meios para manter o controle de uma grande cidade como Kunduz. Mas a tomada mostra todo o peso que terão nas futuras conversações de paz”, afirmou o analista militar Atiqula Amarjil.

A primeira fase das negociações aconteceu em julho no Paquistão, mas as conversações foram suspensas depois do anúncio da morte do mulá Omar.

* AFP