A tecnologia abriu as portas para quem tem vontade de ajudar ao próximo. E o segundo município brasileiro a receber uma iniciativa com este espírito é Florianópolis. O Festival de Ideias 2012, criado pelo Centro Ruth Cardoso, vai promover, na Capital catarinense, junto com o Social Good Brasil, um encontro de cocriação de ideias e um seminário internacional sobre inovação em ações sociais.

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Permeando os dois eventos está o concurso nacional de ideias do festival, que dará um estímulo de R$ 25 mil, no total, para os melhores projetos de inovação tecnológica aplicados a uma causa social. A escolha das ideias ocorrerá durante o seminário internacional do evento, nos dias 6, 7 e 8 de novembro, no Centro de Cultura Integrada (CIC), em Florianópolis.

O fundo para ações sociais pertence a uma nova categoria do Festival de Ideias, o Social Good Brasil. É a primeira vez que a apresentação e a eleição das melhores ideias, dentro de uma categoria, acontece fora de São Paulo.

Criado pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom) em parceria com o Instituto Voluntários em Ação (IVA), o Social Good identifica e apoia experiências inovadoras para a mudança social, além de oferecer ferramentas e capacitações para iniciativas na área. O programa foi inspirado em um seminário internacional americano, o Social Good Summit, e conta com o apoio da Fundação das Nações Unidas. Um dos coordenadores do Festival de Ideias, Bruno Ayres, conta que a parceria com o Social Good Brasil foi natural.

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– Os dois programas utilizam a tecnologia para colocar as pessoas em rede, colaborando com as ideias umas das outras, e sendo agentes da transformação social – explica.

A coordenadora do Social Good Brasil, Carolina de Andrade, ressalta que não é preciso ser nenhum especialista em tecnologia para inscrever uma ideia no festival.

– A internet mostrou que o poder de transformação social pode estar na ponta dos dedos. Hoje, qualquer pessoa pode fazer a diferença usando a tecnologia – reforça.

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Ideias simples e de baixo

custo tem boas chances

Bruno afirma, inclusive, que as ideias com mais chances de receberem o estímulo em dinheiro, no concurso, são as mais simples e as de menor custo. Outro critério importante, segundo ele, é a abertura do projeto para colaboração. O coordenador explica que, ao inscrever uma ideia no site do evento, o usuário está permitindo que outras pessoas opinem e modifiquem o projeto.

– A ideia será avaliada pelo júri em sua versão final. E quanto mais modificada pela colaboração de outras pessoas, melhor. Recomendo que quem estiver concorrendo vá ao encontro de cocriação, no dia 16 de outubro, na Acate – observa Bruno Ayres.

As inscrições das ideias vão até o dia 26 deste mês no site festivaldeideias.org.br. Os autores das oito ideias selecionadas vão apresentá-las no seminário internacional nos dias 6, 7 e 8 de novembro. O resultado sai no último dia do seminário.

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Apesar de abrigar o concurso, nem o encontro de cocriação, nem o seminário internacional têm restrição de público. Os dois eventos são gratuitos e abertos a todos os interessados.

O presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), Guilherme Bernard, analisa o investimento das empresas de TI do Estado em programas sociais:

– O perfil do empreendedor digital, jovem, antenado e muito mais sensibilizado com causas sociais tem favorecido o surgimento de negócios que usem aspectos sociais e sustentáveis como premissas do negócio. Estamos em um processo de transição. A Acate tem estimulado o debate em parceria com instituições como o Instituto Voluntários em Ação e ICom. Em 2010, organizamos juntos o TiB (Together is Better), que foi o embrião para o Social Good Brasil.

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Uma rede que alimenta estudantes no Quênia

Em julho do ano passado, a estudante de Economia e Relações Internacionais, Julia Nogara Marcon, viajou para o Quênia através de um intercâmbio de trabalho voluntário de uma organização mundial de estudantes, a Aiesec. A sua missão, no país, era a de ser professora em uma pequena escola, localizada em uma favela, e a de desenvolver um projeto para levantar fundos para a instituição.

Julia conta que a situação em que se encontrava a escola era pior do que ela esperava:

– Os 50 alunos dividiam um só lápis e algumas crianças não se alimentavam há três dias.

A primeira ação da estudante foi buscar ajuda financeira entre as empresas locais. O problema, segundo ela, é que os empresários estão tão acostumados com a miséria que os rodeia, que é muito difícil darem apoio a alguma causa em particular.

Foi então que ela começou a pedir ajuda a parentes e amigos por e-mails e pelo Facebook. A iniciativa foi crescendo, dando certo, e hoje é um projeto de apadrinhamento chamado 50 Sorrisos (www.50sorrisos.com). Cinquenta por causa do número de crianças que estudavam na escola. Mas agora o nome já nem se justifica mais.

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Depois da ajuda que recebeu, principalmente pela comida, a escola atraiu mais que o dobro de alunos que tem hoje. No total, são 130 crianças. Julia explica que R$ 20 são suficientes para alimentar uma criança durante um mês. Então, o sistema de apadrinhamento funciona assim: uma pessoa pode doar R$ 20 ao mês para uma determinada criança, durante três meses, seis meses ou um ano. O dinheiro vai para a conta da voluntária queniana, amiga de Julia, que cuida da distribuição das doações na escola. Quem doa, recebe relatos mensais, com fotos, sobre a situação da escola e o destino do seu dinheiro.

O próximo objetivo da estudante e da equipe de quase 10 pessoas do 50 Sorrisos, no Brasil, é criar um site novo para construir uma nova escola, que abrigue mais crianças. E o principal: trabalhar para que professores e voluntários da escola, no Quênia, consigam, sozinhos, arrecadar fundos, libertando-os da assistência social.

Loja realizadora de sonhos

A estudante de jornalismo Adriana Gabriela da Silva, de 26 anos, sempre participou de grupos de voluntariado, desde o da igreja do bairro até o de um centro de ajuda a pessoas com necessidades especiais. Mas foi sozinha – apenas com a ajuda de um computador – que ela começou a mobilizar mais pessoas e a causar um impacto maior na sociedade.

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Há cerca de um ano, a estudante passou uma noite em claro projetando mentalmente um site que fizesse a ponte entre crianças carentes e pessoas dispostas a ajudar. No dia seguinte, ela foi até uma agência de criação de sites e começou a disparar ideias confusas para o webdesigner que, mesmo sem entender muito bem o que Adriana queria, desenvolveu o Shopping de Sonhos (www.shoppingdesonhos.com.br).

O site funciona como uma loja virtual. Só que, ao invés de comprar coisas para você, a ideia é comprar presentes para crianças. Ou melhor, comprar a realização de um sonho. O site apresenta a foto, o desejo da criança e a cartinha que ela escreveu com o pedido. É só escolher uma delas e fazer a doação.

Segundo Adriana, a média de visitantes do site é de 800 por dia. O Shopping dos Sonhos já recebeu 1,6 mil cartas e já realizou mais de 600 sonhos. O próximo projeto da estudante é tornar o site uma ONG.

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Números do Festival de Ideias

Mais de 600 ideias propostas

Cerca de 1.000 participantes em comunidades online

30 mil reais investidos em 10 ideias

Programe-se

16 de outubro – Encontro de cocriação de ideias, das 18h às 21h, na Associação de Empresas de Tecnologia (Acate), na Rua Lauro Linhares, 583, 3° andar, bairro Trindade, em Florianópolis. Qualquer pessoa pode participar, desde empreendedores e especialistas em tecnologia até idealizadores de qualquer outra área ou apenas curiosos.

26 de outubro – Encerramento das inscrições de ideias. Para participar, é só clicar em “Inicie uma Ideia” no site festivaldeideias.org.br

31 de outubro – Divulgação pública das oito ideias selecionadas para participar da final do Festival de Ideias 2012, na categoria Social Good Brasil, no site festivaldeideias.org.br e no blog.festivaldeideias.org.br

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6, 7 e 8 de novembro – Seminário Internacional Festival de Ideias Social Good Brasil, no Centro Integrado de Cultura (CIC), Avenida Governador Irineu Bornhausen, 5.600, Agronômica, Florianópolis. O evento é aberto a todos os interessados. É só se inscrever pelo site socialgoodbrasil.org.br. No seminário, além de palestras de especialistas brasileiros e estrangeiros, os autores das oito melhores ideias vão apresentá-las ao público.

8 de novembro – Divulgação das ideias selecionadas para receber o estímulo em dinheiro. A relação delas estará no site e blog oficiais do Festival de Ideias e no site, página do Facebook e a conta do Twitter do Social Good Brasil.