Denise Fraga não consegue entender as DMs (mensagens enviadas nas redes sociais) ou o porquê dos stories do Instagram sumirem depois de 24 horas. Diz que isso causa ansiedade. Com uma rotina de ensaios e gravações, a atriz também diz não ter tido tempo de assistir filmes e ver séries. A lista do que quer assistir tem conteúdos para suas próximas três gerações. Mas faz questão de ouvir histórias e prestar atenção ao seu redor. Vê três pessoas na rua e imagina se elas formam uma família. “Estão felizes?”, pensa.
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Com a premissa de contar histórias do cotidiano, que tanto a encanta, Denise está em cartaz com a peça “Eu de Você”. Nela, a atriz interpreta histórias de pessoas comuns em uma embalagem de arte.
Famosa pelo “Retrato Falado”, série transmitida dentro do Fantástico por mais de uma década, Denise acredita que é difícil achar uma pessoa que tenha uma boa história para contar.
Em entrevista exclusiva ao NSC Total, a atriz falou sobre a peça em cartaz e que será apresentada na quinta-feira (23) no Teatro Ademir Rosa (CIC). Denise também falou sobre o legado que espera deixar.
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Veja vídeo da entrevista com a atriz Denise Fraga
Confira a entrevista
O que te atrai na vida comum? O que é tão interessante?
Eu sempre fui a pessoa que vai na padaria e volta com uma história, desde antes de ser atriz. Eu tenho curiosidade mesmo pela história do outro, pela vida do outro. Às vezes, eu estou em um restaurante, na rua, no metrô, eu fico pensando: “Ah aquela moça deve ser filha dela e aquele é o genro. Eu faço famílias [risos]”. Eu tenho uma curiosidade nata. Mas aí teve o “Retrato Falado” na minha vida. Um programa que a gente fez por 10 anos, que também eram histórias reais, causos pitorescos com começo, meio e fim. Agora essa peça é diferente porque ela na verdade é um convite para a gente atravessar, se deixar vestir o outro. Por isso assim o nome “Eu de você”. Desde o início a ideia era você se deixar atravessar pelas experiências dos outros. Pegar as histórias não só como uma coisa que eu conto daqui para lá, mas entender essa história aqui no meio de nós. Quanto mais comuns, as histórias têm me interessado mais. Todo mundo tem uma história que interessa, é difícil achar uma pessoa completamente desinteressante. É só você cavoucar, é só você pedir porque vai ter alguma coisa que você vai falar “sério”. Tem um ponto de diferença naquela pessoa, que faz aquela pessoa única. Eu sempre tive essa essa coisa de atriz mesmo antes de ser atriz. Quando eu contava uma história, eu interpretava as pessoas envolvidas. Eu lembro que tinha 11 anos e minha tia falava fazendo um carinho no pescoço. Cada vez que eu falava alguma coisa que ela tinha dito, eu recorria a aquele jeito dela [fazendo carinho no pescoço].
Como foi o desenvolvimento da peça “Eu de Você”, que você está trazendo aos palcos de Florianópolis?
Essa peça é diferente. Nela você se deixar atravessar pelas experiências dos outros não é pegar a história só como uma coisa que eu conto daqui para lá. É entender essa história aqui no meio de nós e por isso acabaram sendo assim. No Eu de Você, [as histórias] têm uma particularidade. Eram 300 e a gente acabou trabalhando em cima de 25.
Por que foi difícil escolher?
Porque chegou uma hora que todas as histórias que tínhamos deletado nós falávamos “mas aquela é interessante “. Então voltamos nelas porque todas têm um pedaço de beleza. O que começamos a fazer era grifar com marca texto, eu comecei a grifar tudo que me movia naquelas cartas que a gente recebeu. Ficaram pedaços de histórias cotidianas que a gente trançou na peça com poesia, música, trechos da literatura. Por isso eu acho que, se é que existe alguma receita de sucesso, essa é a de “Eu de Você”. Um dos motivos, eu diria, não é receita, mas é porque ninguém escapa. Todo mundo se identifica. Começamos a montar a peça em 2018 e tinha uma melancolia nas cartas que recebemos. Eu falava: mas, gente, as pessoas já estão tão tristes, eu não quero fazer um espetáculo triste e uma das coisas que a gente se colocou como desafio era como tratar com leveza da vida dura? Eu me sentia muito responsabilizada por aquelas histórias que tínhamos sido confiadas, histórias que não são histórias que se postadas, né? São histórias não potáveis. Histórias delicadas, sofrimentos delicados e também de percepções da vida. E eu não queria ser desleal e tratar aquilo com leviandade, mas eu queria tratar com leveza. É você pegar a história cotidiana e você colocar sobre ela um holofote da arte, da beleza, da poesia, iluminando ela com a arte. Com isso você está falando olha o que você viveu, não é como se eu devolvesse para o espectador a história que ele me deu eu devolver embalada em papel de presente da arte, da beleza, da poesia.
As pessoas te procuram nas redes sociais para mandar histórias? Te param na rua?
Na rede social, pouco. Eu ainda vou achar um jeito de existir na internet. Eu achei na pandemia, quando fiz um programa que era bem uma contação de histórias, o Horas em Casa. Era um programa semanal que a gente lançava no Youtube. Dizemos 27 programas ao todo falando do que as pessoas estavam passando em suas casas durante a pandemia. Isso eu achei que tinha sido a minha melhor maneira de usar a rede social. Eu mostrava a minha casa, panela, prato, gato, quarto, porque a gente gravava tudo dentro de casa e eu com meu figurino, meu filho filmando — que ele também fez cinema — e dirigindo o Luiz Villaça, meu parceiro da vida e na arte, que dirigiu a peça também. Eu não tenho muita habilidade com uma rede, então, eu não vejo muitas mensagens de DM [mensagem direta]. Quando vejo já passou. Não entendo porque fica lá escrito que alguém citou você no seu histórico e esse negócio do story sumir? É um negócio que me dá muita ansiedade. Eu tenho que ver nesse tempo? Não vão deixar eu ver se não for em 24 horas? Acho uma loucura, uma escravidão. É pela boca das pessoas na rua, no sacolão, que vêm as histórias. Eu vou na feira e aí tem alguém contando histórias. Tenho uma vida muito comum porque insisto em ter urbanidade. Me reconhecem às vezes, mas eu passo e ninguém olha para ninguém. As pessoas estão se olhando muito pouco, na verdade. Então você fica muito invisível se você. É mais um onde está o Wally, sabe?
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Com sua rotina de ensaios, você tem conseguido assistir alguma coisa?
Eu estou trabalhando muito. Eu estava gravando um negócio direto no estúdio no início do ano. Do Oscar, eu vi o Triângulo das Tristezas. Eu adorei, adoro esse diretor. Eu tenho um pouco de aflição desse negócio de você ficar escravo da série. O negócio, que ponto que põem gancho na nossa vida, que põem gancho na nossa boca e parece que te fisga. Eu adoro ver um filme mais do que série. Coisa de você ter que ver a próxima temporada, ter que ver…E hoje você tem que ver tudo, né? Todo mundo chega para você e fala assim, você não viu, você não viu isso no YouTube? Aí acessá-la você não viu? E você não viu essa série? Você não viu esse filme? Eu já tenho uma lista de espera de 3 gerações de mim mesmo. Tudo que eu quero ver, fui fazendo um grupo comigo mesmo e botando lá.
Como você quer ser lembrada? Qual o legado que quer deixar?
O legado é uma coisa que eu me preocupo todo dia, sabe? Acho que todo mundo tinha que prestar atenção no seu legado, porque você passa por essa vida assim de raspão. É uma pena, né? Porque é tão Interessante, tão fascinante a vida. Eu ainda acho, pois é, eu sou um otimista crônica. Mas tá pesada, né? De a gente viver tantas injustiças sociais. A gente vive num país muito injusto, uma desigualdade absurda. Agora, essa polarização é uma tristeza. Eu sinto que a vida é muito fascinante, muito rica, então eu acho que você todo dia você tem que prestar atenção. Primeiro, se está vivendo com intensidade e segundo para deixar esse mundo melhor, né? Eu acho que todo mundo tem obrigação de passar por essa vida tentando melhorar. Então, como exercício, agora precisa até mesmo dar nome para as coisas. Eu vejo pessoas falarem que amor salva tudo. Mas é preciso dizer o que é o amor porque as pessoas estão destreinadas de exercitar isso.
Serviço
- O quê: Peça Eu de Você
- Quando: 23/3, às 19h
- Onde: Teatro Ademir Rosa (CIC), Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica
- Quanto: Gratuito. Os ingressos poderão ser retirados uma hora antes do espetáculo começar
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