Se conseguir a maioria dos votos e confirmar a vitória no segundo turno, neste domingo (30), Jorginho Mello (PL) estará concretizando um desejo e uma previsão de pelo menos quatro anos. O atual senador nunca escondeu a intenção de disputar o governo do Estado nas Eleições 2022, e não mediu esforços para isso. Fortaleceu o partido com mais filiados, mais deputados e ajudou a articular a ida do presidente Jair Bolsonaro para o PL, um dos principais trunfos do senador na corrida eleitoral deste ano.
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O caminho até a disputa pelo governo do Estado, no entanto, começa muito antes. Jorginho dos Santos Mello tem 66 anos e nasceu na pequena Ibicaré, vizinha às cidades de Herval d’Oeste e Joaçaba, no Meio-Oeste. Nasceu prematuro, com sete meses de gestação, e foi batizado Jorginho – assim mesmo, no diminutivo, por conta do tamanho quando era bebê.
Segundo de sete irmãos, o hoje candidato a governador tem origem em família humilde, com a mãe do lar e professora, e o pai que trabalhava em indústrias e comércios do Oeste. Gosta sempre de lembrar que trabalha desde os 12 anos, época em que vendia paçoca e “pé de granfino” em uma praça para ajudar nos gastos de casa. O doce, aliás, variação do pé de moleque feito pela mãe, é sempre divulgado pelo político com ar de nostalgia quando lembra dos tempos difíceis.
Já adolescente, trabalhou como office boy em um frigorífico. A habilidade de se relacionar com as pessoas no trabalho e no ensino médio logo lhe abriram o caminho para a política. A estreia ocorreu em 1976. Com 18 anos, foi eleito vereador em Herval d’Oeste e, com 19, presidiu o Legislativo do município catarinense.
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A trajetória que parecia precoce na política, no entanto, teve um hiato. Jorginho foi aprovado em um concurso público do extinto Besc, o Banco do Estado de Santa Catarina, e dedicou os anos seguintes à carreira e à família. Cursou a faculdade de Direito, casou, teve dois filhos e rodou cidades catarinenses como Irani, Gaspar, Tubarão e São Miguel do Oeste a serviço do banco, onde foi escriturário e diretor.
A relação com a vida pública foi retomada somente em 1994. Jorginho se candidatou a deputado estadual e foi eleito. A partir dali, atuou em outros três mandatos como deputado estadual. Foi presidente da Assembleia Legislativa em 2009, ano em que chegou a ser governador interino por 11 dias, durante viagem do titular Luiz Henrique da Silveira (MDB) e do vice Leonel Pavan (PSDB).
Em 2010, então pelo PSDB, Jorginho deu um passo adiante e disputou as eleições a deputado federal. Nova vitória, para um cargo que ocupou por dois mandatos, até 2018. Naquele ano, decidiu tentar uma vaga como senador. Em uma eleição com nomes como os ex-governadores Raimundo Colombo e Esperidião Amin e o ex-senador Paulo Bauer, Jorginho foi o segundo mais votado e garantiu a vaga, com menos de 20 mil votos de vantagem sobre Lucas Esmeraldino, do então PSL de Bolsonaro, a sensação daquela eleição.
No Senado, assumiu a defesa firme do governo Bolsonaro chegando a fazer parte da “tropa de choque” do presidente na CPI da Pandemia. Em uma das ações que mais gosta de citar, foi autor do Pronampe, projeto para garantir crédito a juros reduzidos para pequenas e microempresas. Em paralelo, pôs em prática a construção partidária para viabilizar a candidatura ao governo neste ano.
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Tempo dividido entre a política e os netos
A política consome a maior parte do tempo de Jorginho. Nos raros espaços de tempo livre, gosta de ficar com a família. Os netos Laura, de 10 anos, e Vitor, de quatro, são os xodós. A pequena já apareceu até em dancinhas nas redes sociais na campanha deste ano, animando a campanha do avô.
Nos churrascos e encontros entre família e amigos, costuma ser bem-humorado e gosta de puxar uma piadinha ou uma frase de incentivo. O jeito simples combina com uma frase que costuma repetir sobre a importância de gostar de estar perto das pessoas para exercer a vocação política: “O bom político é o político pobre”.
— Ele é um cara extremamente família. Tranquilo, uma pessoa simples. Se tiver um café preto e um cacho de banana para você conversar, para ele é o suficiente — conta o irmão mais novo José Mello, o Juca.
Leitura aguçada no comando do partido
Uma característica destacada por quem divide a vida pública com o possível novo governador é a capacidade de fazer leituras e previsões sobre o cenário político. O deputado estadual reeleito e líder do PL na Assembleia Legislativa, Ivan Naatz, diz que as projeções feitas por ele sobre as eleições deste ano, como os apoios que o atual governador receberia e a dificuldade enfrentada por ele, se confirmaram.
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Quando o presidente Bolsonaro se filiou ao PL e atraiu com isso uma nova legião de convertidos ao partido, houve quem levantasse dúvidas sobre a viabilidade de candidaturas em regiões que teriam mais de um nome brigando pelo mesmo cargo.
— Ele sempre garantiu que todo mundo iria se dar bem, que não era para ninguém sair, que mesmo se houvesse mais de um nome, iriam se eleger. Aconteceu. E quem não acreditou e saiu, se deu mal — afirma o parlamentar.
Naatz destaca também a determinação e o jeito “paizão” de lidar com os deputados, e reconhece que ele também tem a sorte a favor em episódios como a escolha de Bolsonaro pela filiação ao PL para disputar as Eleições 2022. A vinda do presidente ajudou a colocar Jorginho como favorito e o partido, a dar um salto em número de parlamentares no Estado.
A capacidade de projetar resultados é confirmada também pelo deputado federal eleito Jorge Goetten, que convive no partido com Jorginho desde 2011. Ele diz que Jorginho previa que o partido faria até cinco deputados federais e 10 estaduais nas eleições deste ano. Impulsionado pela nova onda Bolsonaro, o partido fez até mais: foram seis eleitos na Câmara e 11 na Alesc.
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— Eu olhava meio atravessado. Mas pensava, “poxa, nas outras eleições ele também falou isso, e deu”. Então, eu duvidava, mas meio acreditando — afirma Goetten.
A mesma convicção foi demonstrada quando ele concorreu ao Senado contra nomes como Esperidião Amin e Raimundo Colombo, em 2018, e nos últimos anos, enquanto colocava em prática a candidatura para disputar o governo. Aliados afirmam que essas falas “vão convencendo” quem está junto no projeto e dão corpo à candidatura, que hoje lidera as pesquisas e é tida como favorita no 2º turno. Neste domingo, as decisões e a capacidade de prever cenários de Jorginho serão colocadas à prova mais uma vez. Agora, no entanto, a desconfiança nunca foi tão pequena.
Perfil
- Nome: Jorginho dos Santos Mello
- Idade: 66 anos
- Profissão: Bancário e advogado
- Cidade de nascimento: Ibicaré (SC)
- Estado civil: Divorciado