Rafael Ramírez, parte do círculo íntimo do falecido presidente Hugo Chávez, renunciou como embaixador na ONU a pedido do mandatário venezuelano, Nicolás Maduro, ruptura que alguns vinculam a uma guerra no chavismo.

Continua depois da publicidade

Ramírez enfrenta há anos acusações de seus inimigos políticos de que liderava uma ampla rede de corrupção na petrolífera estatal PDVSA, que presidiu entre 2004 e 2014.

No entanto, foi há três meses que o cerco contra ele começou a se estreitar, quando um novo procurador chavista, Tarek William Saab, revelou múltiplas tramas de corrupção na PDVSA pelas quais foram detidos vários de seus homens de confiança.

“Renunciei, por solicitação do presidente da República, a mei cargo como embaixador (…) Se me removeu por minhas opiniões, me manterei, aconteça o que acontecer, leal ao Comandante Chávez!”, afirmou Ramírez nesta terça-feira no Twitter.

Continua depois da publicidade

Na última quinta-feira, quatro dias depois de serem destituídos por Maduro, Eulogio del Pino e Nelson Martínez, ambos ex-ministros de Petróleo e da PDVSA, foram presos acusados de alterar os dados de produção de petróleo e de um dano patrimonial de 500 milhões de dólares.

Esta ação foi interpretada por analistas como uma advertência a Ramírez, que um dia depois da prisão de seu primo, o empresário Diego Salazar, por desvio e lavagem de dinheiro em Andorra na quantia de 1,498 bilhão de euros entre 2011 e 2012.

A quantia poderia ultrapassar os 4,2 bilhões de euros desde 2006, assegurou Saab nesta terça-feira.

– Aberto ao “escrutínio” –

Engenheiro de 54 anos e próximo às filhas de Chávez, Ramírez assegura que sua administração foi de mãos limpas, na qual os recursos da bonança do petróleo -que acabou em 2014- foram postos a serviço dos mais pobres.

Continua depois da publicidade

“Tenho um nome e uma trajetória de atuação que foi permanentemente do domínio e do escrutínio público”, se defendeu em sua carta de demissão dirigida ao chanceler Jorge Arreaza.

Maduro, que apoia as investigações da Procuradoria nas quais foram detidas uma centena de pessoas, ordenou por sua parte uma “limpeza” na petrolífera para erradicar a corrupção “custe a quem custar”.

“Não tenho medo deles”, disse desafiante o presidente socialista, que nomeou como ministro do Petróleo e presidente da PDVSA o general Manuel Quevedo, ampliando assim o poder militar no governo.

Continua depois da publicidade

Em substituição de Ramírez nomeou ao diplomata Samuel Moncada.

Os ataques contra o embaixador aumentaram nas últimas semanas não só por parte da oposição, como pelo próprio chavismo.

A dirigente Iris Varela rejeitou críticas veladas de Ramírez pela crise econômica que o país sofre, em meio da qual a PDVSA foi declarada em moratória parcial por credores e agências de classificação de risco. “Siga em frente, Iris”, disse Maduro.

A petrolífera também enfrenta uma queda da produção, de 3,2 milhões de barris diários em 2008, a 1,9 milhão na atualidade.

Continua depois da publicidade

– “Vendetta” –

Opositores e analistas atribuem a briga com Ramírez a uma luta de poder no governo com a aproximação das eleições de 2018, nas quais Maduro buscará a reeleição segundo seu vice-presidente, Tareck El Aissami.

Ramírez “não necessariamente busca a candidatura, mas Maduro o percebe como uma ameaça porque ele tem poder econômico e conhece gente com dinheiro para financiar a campanha de um adversário do presidente dentro do governo”, comentou à AFP uma fonte próxima chavismo que pediu anonimato.

A oposição discursou contra ele no Parlamento, onde tem maioria.

“Parece uma ‘vendetta’ entre o cartel de Medellín e o cartel de Cali”, afirmou o deputado Julio Montoya, evocando a duas organizações do narcotráfico na Colômbia já desarticuladas.

Continua depois da publicidade

Sem mencionar a Ramírez, o procurador negou uma guerra interna e disse que “o que há é uma luta frontal contra aqueles que prejudicaram o país”. Nesta terça-feira a hashtag #RamírezTraidor ocupou o primeiro ligar dos trend topics do Twitter na Venezuela.

Por sua vez, o analista Axel Capriles estima que a briga é por quem fica com o controle da PDVSA.

Ramírez, que jura lealdade ao “legado de Chávez”, antecipa que a ofensiva não terminará com sua renúncia. “Não imagino que agora os ataques e os vilipêndios por eu expressar minhas opiniões vão acalmar”, disse.

* AFP