O ex-presidente da Libéria Charles Taylor foi condenado nesta quarta-feira a 50 anos de prisão pelo Tribunal Especial para Serra Leoa (TESL), por crimes contra a Humanidade, e se tornou o primeiro ex-chefe de Estado sentenciado pela Justiça internacional.

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– O tribunal o condena de forma unânime a uma pena única de 50 anos de prisão. O acusado é responsável por ter ajudado, estimulado e planejado alguns dos crimes mais odiosos da história da Humanidade. Os efeitos destes crimes sobre os familiares das vítimas, assim como sobre a sociedade em geral, têm sido devastadores – anunciou o juiz samoano Richard Lussick, durante uma audiência pública em Leidschendam, na periferia de Haia.

A acusação “recomendou” em 3 de maio uma condenação de 80 anos de prisão, algo considerado “desproporcional e excessivo” pela defesa do ex-presidente, o primeiro chefe de Estado condenado pela justiça internacional desde o tribunal militar de Nuremberg.

Os juízes também consideraram a pena de 50 anos excessiva e lembraram que Taylor havia sido declarado culpado por ter desempenhado um papel-chave na execução de crimes sem ter o controle “efetivo” dos rebeldes de Serra Leoa, nem ter cometido diretamente os crimes.

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Mas alegaram como circunstância agravante o fato de Taylor, 64 anos, ter “traído”, segundo eles, a postura de “confiança pública” que deveria ter respeitado como presidente da Libéria, assim como o fato de não ter demonstrado nenhum remorso.

Vítimas da guerra civil de Serra Leoa celebraram a condenação de Charles Taylor por seu apoio aos rebeldes que espalharam o terror no país. Centenas de pessoas se reuniram diante do edifício do Tribunal Especial para Serra Leoa, em Freetown, para acompanhar, em silêncio, o anúncio do veredicto.

– Fecham-se as cortinas para Charles Taylor. Espero que seus atos o atormentem enquanto apodrecer na cadeia – afirmou Al Hadji Jusu Jarka, que teve os braços amputados pelos rebeldes.

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O ativista dos direitos humanos Charles Mambu também comemorou a decisão:

– É excelente! Nós, como defensores dos direitos humanos, estamos felizes com a sentença.

O ex-presidente da Libéria (1997-2003), detido em 2006 na Nigéria, foi declarado culpado no fim de abril de 11 crimes contra a Humanidade, incluindo estupro, assassinato e saques, cometidos entre 1996 e 2002 em Serra Leoa. Tanto a defesa quanto a acusação têm um prazo de 14 dias para apelar da decisão e da pena.

Segundo os juízes, Taylor ajudou e estimulou uma campanha de terror com o objetivo de controlar Serra Leoa e poder explorar seus diamantes, durante uma guerra civil marcada por atos de canibalismo e mutilações, que deixou 120 mil mortos entre 1991 e 2001. Em troca dos diamantes, o ex-presidente entregou armas e munições aos rebeldes de Serra Leoa, da Frente Revolucionária Unida (RUF), desempenhando assim um papel “crucial” nos crimes cometidos pelos insurgentes.