Quase cinco anos depois, a apuração do desaparecimento de mais de 100 revólveres do 8º Batalhão da Polícia Militar de Joinville chegou a um desfecho na Justiça. Em um julgamento militar realizado na última segunda-feira, dois ex-policiais militares foram condenados pelo crime de furto-peculato, previsto no Código Penal Militar para punir quem se vale da condição de militar ao praticar o delito.

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O ex-cabo Ademir Tomelin recebeu pena de 6 anos, 10 meses e 27 dias de reclusão, enquanto o ex-soldado Jucemar da Silva Poleza foi sentenciado a 7 anos, 2 meses e 12 dias de reclusão. As condenações são em regime semiaberto, mas ambos poderão recorrer em liberdade. Eles ficaram presos preventivamente entre setembro de 2012 e maio de 2013. Os dois também responderam a processos administrativos e já foram expulsos da corporação.

Além de determinar as condenações, a sentença da 5ª Vara Criminal da Capital (antiga auditoria da Justiça Militar) traz à tona detalhes sobre como 103 armas calibre .38 e 414 munições desapareceram de um dos maiores batalhões da PM no Estado. Conforme a investigação, Poleza atuava como armeiro do quartel, responsável pelo armazenamento dos revólveres, e facilitava a entrada de Tomelin ao local, que deveria ser de acesso restrito.

“O modus operandi empregado consistia em o soldado Poleza, armeiro, permitir o acesso do cabo Tomelin à reserva de armamento, sempre com uma mochila em que eram depositadas as armas e, posteriormente, subtraídas do interior daquela unidade policial”, diz a denúncia do Ministério Público.

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Segundo a apuração, que teve como base uma planilha controlada por armeiros do batalhão, as armas desapareceram em maior número entre os meses de março e junho de 2012. Eram revólveres considerados antigos, usados para o treinamento e instrução dos policiais, mas que chegaram a ser aproveitados durante a Operação Veraneio na temporada 2011/2012.

Apenas nove revólveres foram recuperados, em ocorrências isoladas, após a descoberta do sumiço. A denúncia do Ministério Público aponta que o ex-cabo Ademir Tomelin chegou a contratar um primo para vender as armas. Cada revólver era comercializado a R$ 800,00, sendo pagos R$ 100,00 em comissão para o familiar.

Em depoimento, pelo menos três testemunhas confirmaram que compraram revólveres por intermédio do primo do ex-policial militar. O parente do ex-PM também confirmou o esquema.

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—As armas iam para o comércio ilegal. O mais grave é que a Polícia Militar, que luta para tirar as armas das ruas, teve de enfrentar criminosos com os próprios armamentos. Efetivamente se comprovou que os acusados subtraíam e repassavam os revólveres para pessoas que cometeram crimes — destacou à reportagem o promotor de justiça Wilson Paulo Mendonça Neto.

Policiais militares ouvidos em depoimento confirmaram que o único armeiro que permitia o acesso do ex-cabo Tomelin à reserva de armamento era o ex-soldado Poleza. Um soldado ouvido pela Justiça observou que, na época dos fatos, armas curtas eram colocadas numa gaveta e não havia muita organização na reserva de armamentos. Depois, disse, o procedimento foi melhor organizado.

Ex-PMs negam participação no sumiço das armas

Os dois ex-policiais militares negam envolvimento no desaparecimento das armas. Interrogado, Ademir Tomelin afirmou que não tem boa relação com o primo citado na denúncia e alegou que foi injustamente incriminado pelo parente. Disse que frequentava a reserva de armamento apenas uma vez por mês para verificar a folha de pagamento.

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Também disse que esteve apenas duas vezes no local no mês de junho de 2012. Alegou ainda que jamais esteve na reserva de armamento com mochila. Em uma ocasião, afirmou o ex-cabo, entrou no local carregando cervejas em uma bolsa marrom e preta para presentear o ex-soldado Poleza.

Ao ser interrogado, Jucemar da Silva Poleza também negou participação no sumiço das armas. Em juízo, afirmou que o cabo Tomelin entrou na área de reserva de armamento em algumas oportunidades, mas sempre em sua presença. Em junho de 2012, disse Poleza, o ex-cabo Tomelin esteve no local cerca de 15 vezes para utilizar o computador.

No entanto, Poleza apontou que o ex-cabo usava mochila e ficava sozinho no local em algumas oportunidades, como nas saídas dele para jantar e ir ao banheiro. Também em depoimento, disse que o ex-cabo Ademir Tomelin ficou sozinho na reserva de armamento na noite de 29 de junho de 2012, quando dois revólveres desapareceram, durante o momento em que ele jantava.

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O ex-soldado ainda afirmou que só recebeu duas caixas de cerveja do ex-cabo, levadas dentro de uma mochila preta. Em depoimento, Poleza afirmou que não tinha visão sobre a mochila, pois ela ficava no balcão, pelo lado de fora.