Edésio Meira, 42 anos, passou o último Réveillon na rua. Não como apreciador dos fogos coloridos que costumam dar boas-vindas ao novo (agora velho) ano. Nem como turista à beira-mar disposto a dar sete pulinhos sobre as ondas para chamar sorte. Mas como morador de rua. Não lembra se dentro de um mocó, nas imediações do Terminal Rodoviário Rita Maria, na Capital, ou em um carro velho estacionado no Bairro Tapera, Sul da Ilha, onde passava noites a fio. Também não recorda se embebido em cachaça ou sob o efeito de outra droga. Sabe é que, nesta virada de 2014 para 2015, estará sob o telhado de uma casa onde na parede estará o diploma de eletricista e instalador predial.

Continua depois da publicidade

– Eu me orgulho de mim – conta, ele, enquanto mostra o certificado do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado pelo governo federal, em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica.

Dos 24 inscritos alunos do curso oferecido pela prefeitura, por intermédio do Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis (Igeof), oito se qualificaram. Mas apenas seis receberam o diploma.

Edésio é um desses e se emociona e reconhece ao falar da conquista de uma profissão. Não foi fácil para um morador de rua e com histórico de alcoolismo dedicar-se ao aprendizado. Se por um lado recebeu o incentivo e apoio do pessoal do Centro POP, que presta atendimento especializado à população em situação de rua, por outro enfrentou a desconfiança de outros:

Continua depois da publicidade

– Muita gente achava perda de tempo eu ir para a aula e dizia que não iria dar em nada. Agora posso dizer: sou um morador de rua que está saindo da situação.

Edésio é viúvo e tem um casal de filhos com 17 e 21 anos. A vida dele começou a mudar quando se separou da esposa, que morreu tempos depois. Além de desgosto com o fim do casamento, sentiu muito a morte da ex-esposa. Aliviou a dor no álcool, sem se dar conta da dependência que criou. Cada vez mais isolado da família, buscou tratamento em uma fazenda terapêutica. Deixou o lugar 100 dias depois sem ter contato com o álcool:

– Podia ter ido para um outro lugar, mas preferi voltar para as ruas – recorda.

Edésio acha que tem certas vantagens sobre outras pessoas, e não apenas dos que vivem em situação de rua. Consegue ter consciência da força interior:

Continua depois da publicidade

– Tem muita gente com maior posses do que eu, mas é mais fraco nas decisões.

Edésio está cheio de planos para 2015. Reconhece a ajuda da amiga Neuza Alves Amaro, a qual emprestou um quarto para ele dormir na casa dela, mas pretende um trabalho com carteira assinada. Com o salário pretende pagar um lugar para ficar. Por enquanto, faz serviços elétricos na casa de particulares. Ainda com ferramentas emprestadas.

– Acho que vou me organizar melhor: primeiro vou comprar um alicate de garra, um cinturão de eletricista e um jogo de chaves. A casa pode esperar.

Edésio conta que sempre gostou de mexer com eletricidade. Mas somente em 2014 apareceu-lhe uma oportunidade.

Continua depois da publicidade

– Quando criança, olhava para a lâmpada e ficava admirado como com um simples toque tudo podia ficar iluminado.