Após sete anos, Taíza Thomsen, joinvilense e miss Brasil 2002, volta à cidade natal e, em entrevista, conta sobre o tempo que ficou na Europa. Fala de tráfico de mulheres, dos sonhos que deixou pelo caminho e das dificuldades que passou neste período.

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A ex-miss Brasil Taíza Thomsen rompeu um silêncio de sete anos. Na última sexta-feira, ela conversou com quatro jornalistas e contou a própria versão para a história que cercou o desaparecimento dela, desde o fim de 2006. Dois jornalistas de “A Notícia” (o repórter especial Leandro Junges e a colunista social Adri Buch); a apresentadora Renata Seliprim, da RBS TV; e Janara Nicoletti, do portal G1, puderam fazer perguntas por quase duas horas.

Taíza falou abertamente sobre a fuga do País, os boatos que cercaram a saída em 2006 e sobre os sete anos em que viveu na Europa. Sem revelar nomes, sugere ter sido vítima, aos 23 anos, de um esquema de aliciamento e tráfico de mulheres para prostituição.

Na maior parte do tempo, viveu com medo. Uma paixão-relâmpago pelo homem belga que controlava o suposto esquema, um namoro conturbado com um italiano, muitos trabalhos informais, sem nenhuma relação com a carreira de modelo. Contou que passou fome e buscou alimentos no lixo. Um ano inteiro sem sair de casa, o encontro com uma família que a teria ajudado nos últimos três anos e até uma tentativa de suicídio. Esses foram alguns dos ingredientes do drama que ela descreve em detalhes e sempre entre lágrimas.

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Em um vestido florido azul, acompanhada do pai, o empresário Antônio Severina, e do advogado Carlos Adauto Vieira, Taíza fala em um português perfeito, mas com um inconfundível sotaque britânico.

Está pesando 61 quilos, distribuídos em 1,73 metro _ cinco quilos a menos do que no ano em que disputou o título de mulher mais bonita do Brasil. O peso é só um dos indícios de que algo não saiu bem. Ao contar sua história, Taíza intercala momentos de reflexão com outros de profunda tristeza. O sorriso e o olhar continuam iluminados, quase hipnóticos.

Preço alto pela segurança

Após receber o título de miss Brasil 2002, Taíza Thomsen foi para São Paulo para estudar. Queria ser jornalista e apresentadora de TV. Chegou a fazer cursos e alguns trabalhos, mas não deu tempo de tentar a faculdade de jornalismo. Trabalhou durante alguns meses como vendedora de roupas em uma loja de um shopping na capital paulista. Começou a trabalhar em uma agência, onde conheceu o ex-namorado, que tempos depois se transformou no pivô da fuga dela do Brasil.

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Em 2006, após o término do namoro, uma amiga em comum do casal a ajudou a sair do País. Essa mulher teria convencido a joinvilense de que o ex-namorado a estava perseguindo, que ele era uma ameaça e que a ex-miss estava em perigo, por isso deveria ir para longe. A melhor saída para Taíza era ir ao encontro de um “amigo belga” que a tal mulher conhecia na Europa.

Ele ajudaria a ex-miss financeira e emocionalmente. Ele também daria as condições necessárias para que ela pudesse desenvolver a carreira de modelo na Europa. Mas, segundo Taíza, o preço a ser pago era alto: ela não poderia mais se comunicar com os pais e os amigos. Conforme a mulher informou à ex-miss, os telefones estavam todos grampeados e o risco de morte estava estendido à família e aos amigos.

– Eu ligava para ela (amiga brasileira) chorando, dizendo que não queria sair do Brasil, que iria procurar a polícia. Mas ela dizia: “Não, a polícia não vai acreditar na história, não vai te ajudar”. Eu era inocente. Hoje, eu vejo que ela fez uma lavagem cerebral em mim – diz Taíza, sempre lembrando que, aos 23 anos, “não tinha consciência de que poderia estar entrando em algo tão perigoso”.

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Essa mulher, segundo Taíza, foi denunciada e está sendo investigada pela Polícia Federal em São Paulo. ?

As ilusões, os medos e a fome

Na Europa, a ex-miss Brasil Taíza Thomsen disse ter sido muito bem recebida pelo belga indicado pela amiga de São Paulo. Ele a levou para a Bélgica, onde morou por um tempo.

– No começo, esse homem era muito querido, muito sedutor. Mas, depois, saía de casa e me deixava lá sem comida, sem bebida, só água da torneira. Ele não me deixava sair. Tive de procurar comida no lixo – diz.

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Essa rotina durou dois meses. Logo, Taíza descobriu a senha do computador dele e, então, percebeu que o belga agenciava e coordenava outras meninas. A fuga ocorreu em uma das vezes que esse homem a levou para sacar dinheiro em um caixa eletrônico em Londres.

– Fui andando para trás. Toda vez que ele olhava para o outro lado, eu ia colocando o pé para trás. Quando ele virava, eu procurava a saída daquele lugar. Quando ele tirou o dinheiro eu corri. Corri pela minha vida. Parece que eu corri uma maratona. Meu coração estava acelerado. Não sabia para onde ir.

Das 100 libras que tinha, Taíza entregou 20 a um taxista e pediu que a tirasse dali. Tomou mais alguns ônibus e foi ajudada por um brasileiro conhecido por Graveto.

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– Para mim, naquele momento, foi um anjo – diz Taíza.

Dois meses após chegar à Europa, o medo era ainda maior e sem nenhum sinal de que sonhos profissionais se tornariam realidade, a joinvilense diz ter vivido uma rotina de medo.

– Tinha medo de tudo, do ex-namorado brasileiro, do belga, da polícia. Só sentia medo – resume, sobre sua vida em Londres.

Linha do tempo ?

Agosto de 2005

Taíza deixa Joinville para tentar a carreira de modelo em São Paulo. Lá, começa a namorar um rapaz do meio artístico e conhece uma amiga dele que, mais tarde, seria a responsável por sua fuga do País. ?

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Abril de 2006

Viagem para a Bélgica. Ela se envolve com o homem belga por dois meses. Ele seria uma espécie de agenciador de meninas para a prostituição. No começo, ele a tratava bem, mas logo começou a trancá-la em casa e a deixou passar fome. ?

Junho de 2006

Após ficar em cárcere privado na Bélgica, Taíza aproveitou uma viagem a Londres e num momento de descuido do homem belga, fugiu. Nesta época, foi ajudada por um brasileiro conhecido por Graveto. Ele a teria levado para um abrigo, onde começou a procurar empregos. ?

Começo de 2007

Taíza teria ficado 27 dias detida na imigração, sendo entrevistada todos os dias. Ela queria asilo no país, mas as autoridades britânicas consideravam que o Brasil não representava ameaça a ela. Contou sua história muitas vezes, acabou desistindo e continuou sem os vistos necessários para trabalhar no país. ?

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Junho de 2007

Duas reportagens complicam ainda mais a permanência de Taíza em Londres. A revista brasileira Isto É, que circulava em Londres, e o jornal The Mail on Sunday, que é distribuído de graça no metrô da capital inglesa, publicam histórias que a envolvem em prostituição e brigas com a família. Taíza disse que nunca deu as entrevistas e que, desde aquele momento, passou a fugir ainda mais. ?

2007 a 2010

Depois de ler a reportagem da revista brasileira e de ver sua foto em vários jornais de Londres, a joinvilense entrou em pânico e se refugiou na casa de um namorado italiano. Teria saído de casa apenas duas vezes em um ano. Apesar de conturbado, Taíza diz ter sido agredida, inclusive com um martelo, o relacionamento teria ajudado a estabilizar sua vida. ?

2010

Conheceu um casal que a ajudou e a adotou como filha em Londres. Trabalhava como ajudante de garçonete, limpando mesas, servindo, lavando louça e limpando o restaurante. Ela conta que pedia que as pessoas a chamassem por outros nomes. ?

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Outubro de 2012

Os contatos com a família se tornam frequentes e começa a ser planejada a volta para o Brasil. Taíza ajuíza uma ação pedindo para que a Editora Três retirasse a reportagem de seu site, decisão que a Justiça tomou em dezembro do mesmo ano. ?

Outubro de 2013

Os pais e os tios viajam a Londres para buscá-la. A ex-miss chega a Joinville no dia 3 de novembro disposta a recomeçar a vida. Fica uma semana na casa dos pais e da avó. Concede entrevista e se prepara para a audiência marcada para o dia 26. Taíza não pretende voltar a Londres e diz não ter planos para a carreira de modelo.

Vídeo: Taíza conta como foi reencontrar o pai:

Vídeo disponível também no YouTube