O proprietário do Índio Tattoo, estúdio de tatuagem no Canto da Lagoa, em Florianópolis, é conhecido na vizinhança como um tipo tranquilo. Só quem tem mais de 40 anos reconhece em seus olhos e no corte de cabelo (ainda o mesmo!) alguma coisa familiar, embora a pele exiba marcas da exposição ao sol e ao mar. Lembra do hit dos anos 1980 Não se Reprima? Sim, vem daí a memória. O Índio da Lagoa da Conceição já foi um Menudo. Ele era o Roy Rosselo “2”, um brasileiro que substituía o Roy “1” nas apresentações pelo país.
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::: Relembre sucessos do grupo Menudo
Confira o vídeo com Índio, o Roy Rosselo “2”
Discreto e envergonhado, Índio pouco fala de seu passado no Menudo, a boy band que Ricky Martin integrou antes de partir para carreira solo. Mas quando se dispõe a lembrar dos velhos tempos, não poupa detalhes um tanto frustrantes para as fãs e fofocas do showbiz daquela época.
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– Falavam que eram de Porto Rico, mas nem todos eram. Muitos não falavam espanhol, mas forjavam sotaque – conta.
Índio – seu nome de nascimento é Jorge Prado – entrou para grupo aos 14 anos, em 1983. Filho de índios do Mato Grosso, foi morar com a família em Campinas, no interior de São Paulo, depois de ter circulado por algumas aldeias. Por lá, aos 11, foi descoberto por um caça-talentos e passou a participar de comerciais e desfiles infantis.
– Como eu era modelo, o Helio Batista, um empresário, começou a me seguir. Ele descobriu vários talentos na época.
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Helio enxergou nele o perfil para ser um integrante do Menudo, que na época era um estouro no Brasil.
– Eu gostava de reggae, essas coisas. Mas achei legal a ideia, mais por causa das meninas – brinca Índio, hoje com 45 anos.
Se a meta era fazer sucesso com as mulheres, ela foi atingida. A lista de famosas e subcelebridades com as quais Roy Rosselo “2” teve um affair é grande, começando com Mara Maravilha, passando por Rita Cadillac e chegando a Amanda Françoso. Mara Maravilha, na época, era namorada do Roy oficial, o porto-riquenho.
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– Ele ficava com a Mara, ela era meio doidinha. Uma vez, rolou uma história entre nós na praia – confessa.
Ele deixa claro, porém, que quem foi acusado de bater numa mulher foi o outro Roy, que também protagonizou diversas polêmicas e não desperdiçou as oportunidades de incriminá-lo em seu lugar.
– Nessa época eu já estava fazendo shows pelo Brasil todo, e ele ficou descontente, com ciúmes eu acho. Também aconteceu de eu ter um filho com a ex-namorada dele. Foi aí que brigamos.
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Você reconhece? Foto da formação clássica do Menudo
Menudo no Brasil
No começo dos anos 1980 a gravadora RCA lançou no Brasil um grupo de garotos porto-riquenhos que vinha fazendo sucesso no universo pop latino. Era a banda Menudo (a palavra de origem hispânica quer dizer miúdo, pequeno), criada ainda em 1977 pelo produtor Edgardo Díaz. A proposta era ter sempre rapazes adolescentes como integrantes. Quando completavam 17 anos eram substituídos por outros. O apogeu foi com a chamada formação clássica (foto), composta por Robby Rosa, Charlie Massó, Roy Rosselo, Ray Reyes e Ricky Melendez.
Quem da nova geração pesquisar na internet sobre o Menudo talvez não entenda as razões de um grupo que usava roupas coloridas e colantes, cantando músicas de qualidade duvidosa, fazer tanto sucesso. Mas há que se lembrar que o seu auge foi nos anos 1980, a década do tudo over, do exagero, das fluorescências.
– Achei a banda interessante. Fui a Porto Rico e fechei contrato para 12 shows no Brasil – lembra o empresário Helio Batista.
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Foi ele o responsável por fazer explodir a boy band no país. Na época, o quinteto arrastava milhões, lotava estádios e deixava garotas suspirando, num fenômeno comparado à beatlemania.
Helio acabou fazendo 18 apresentações no Brasil, duas delas no Estádio do Morumbi, em São Paulo. Esses shows reuniram pelo menos 2 milhões de pessoas. A fama era tamanha que o Menudo se tornou um dos grupos da época com mais participações em programas televisivos e fã-clubes espalhados por todo país.
O próprio Helio Batista criou o Menudo Mania, atração de TV semanal em que os garotos compareciam todos os sábados. Ele conta que o Roy “Índio” era quem se apresentava no lugar de Roy Rosselo.
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Apesar do sucesso estrondoso (além dos shows, eles contavam com a venda de produtos como camisetas, bottons e pôsteres), Índio diz que a maior parte do faturamento ia para as mãos dos empresários.
– A gente não via o dinheiro. Eram cinco menudos, cada um ficava com apenas 5%.
Ele também revela que a convivência entre os garotos não era das mais genuínas.
– Era meio falso. Nos encontrávamos nos ensaios, nas produções e gravações de TV e rádio, mas não saíamos juntos e nem íamos para o parque brincar.
Vida tranquila em Florianópolis
Durante e depois do período Menudo, Roy “Índio” desfrutou de todas as benesses e encarou os problemas que a fama traz. Entre as coisas que recorda com carinho estão os romances, como o que teve com Rita Cadillac, de quem hoje é amigo, e Luiza Ambiel (alguém lembra da Banheira do Gugu?). Continua depois da publicidade
– Rolava muito assédio nos hotéis – comenta ele.
Flávia, uma de suas filhas, foi concebida depois que uma fã invadiu o quarto de um hotel em que ele estava hospedado.
– Esta década (1980) foi muito boa, época do new wave. Conheci todo aquele pessoal, o Paulo Ricardo, o Evandro Mesquita…
Depois que deixou de ser menudo, Índio montou uma agência de publicidade no interior de São Paulo, com a qual produzia comerciais e montava elenco de mulheres para sentarem no auditório de programas televisivos. Continua depois da publicidade
Veio para Florianópolis nos anos 1990 e demonstra sinceridade ao dizer que o Menudo ficou em seu passado. Hoje gosta de tatuar, fazer artesanato e pegar ondas, tudo com discrição.
– Aqui em Florianópolis algumas pessoas ainda lembram de mim.