Acostumado a dividir bolas com Pelé, Rivelino e Sócrates, hoje o lateral esquerdo apelidado de Ladinho tem outro adversário: um novo rim. A disputa tem tudo para se tornar parceria. Por enquanto, Adelardo Madalena, ex-JEC e ex-Grêmio, toma imunossupressores para evitar a rejeição do novo órgão.
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Aos 68 anos, com 18 quilos a menos do que tinha quando apresentou os primeiros sintomas de insuficiência renal, ele vive na terra Natal dele, Tubarão, e voltou a Joinville nesta quarta-feira para fazer exames.
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A passagem por Joinville é tão rápida quanto é intensa a vontade de se recuperar. Hoje, o canhoto de pé e sinistro de mão, já não joga mais futebol. Faz uns sete anos que a chuteira foi realmente pendurada. Ele começou a perder peso rapidamente. Enfrentou os primeiros quatro anos de insuficiência renal sem nem ir ao médico. Por insistência da esposa dele, Ladinho descobriu que um dos rins estava seco e o outro funcionava com 8% da capacidade. Assim, começaram os três anos e meio de hemodiálise.
O braço esquerdo é a memória viva do tempo em que passou ligado a máquina durante 4 horas, três vezes por semana. Grandes bolas se formaram nas veias do jogador, que tem ainda uma fístula debaixo da pele – ela faz o sangue correr mais rápido pelo corpo, criando condições para que ele seja filtrado com mais rapidez durante a hemodiálise.
– Não é agora que vou ficar revoltado. Tive bons momentos na minha vida – explica o sempre lateral, que ainda ensina – A vida não é só coisa boa.
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E não faltam coisas boas na bagagem. Os primeiros chutes da história profissional que durou 17 anos foram pelo Ferroviário de Tubarão, em 1964. Depois vieram América de Joinville, Portuguesa de Esportes de São Paulo e Atlético Paranaense. Dos tempos de Grêmio, ele guarda alguns gols inesquecíveis e a consolidação do papel de lateral esquerdo que joga para o ataque. Depois de alguns Grenais, Ladinho voltou para Joinville, desta vez para compor o time do JEC, com a parceria e amizade do também jogador Nardela.
Ainda no Grêmio, em uma goleada de cinco a dois contra o Flamengo de 1978, Ladinho fez um gol. Um gol de gogó. Ele nem viu de onde veio a bola, só sabe que bateu no pomo de Adão e balançou a rede. A voz rouca desde criança poderia até ser uma presságio do momento inusitado vivido no futuro. Como treinador, a voz chegava a sumir de tanto gritar.
– Bom era pra namorar. Ninguém ouvia – brinca.
Os últimos chutes e passes Ladinho deu aos 35 anos, em 1982, jogando pelo Avaí. Chegou a se dedicar como treinador a times do Sul, como o próprio Avaí, o Brusque, o Tubarão, o Ferroviário onde estreou e o Hercílio Luz. O que ele ensinou a partir da própria experiência foi que para se tornar um bom jogador futebol é preciso ter “preparo físico, psicológico e matemático”. O fôlego para enfrentar os 90 minutos, a tenacidade para resistir às derrotas são complementos de um campo matematicamente dividido, em que cada um reconhece sua responsabilidade.
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Hoje a ideia de ser gerente de futebol está em segundo plano. Saúde e a recuperação vêm primeiro. Ele deve voltar ainda mais vezes às terras jequianas para os acompanhamentos semanais, que se tornarão quinzenais, depois mensais e semestrais. Certo é que passará “a vida toda em observação”.