A Polícia Federal em Florianópolis recebeu em seus quadros uma servidora que nos últimos três anos esteve no centro da apuração das maiores entranhas políticas e empresariais relacionadas à corrupção do País: Érika Mialik Marena, a delegada que deu o nome à Operação Lava Jato, investigação em que atuou como uma das coordenadoras em Curitiba. Para policiais federais, se trata da maior especialista em crimes financeiros e lavagem de dinheiro dos quadros da PF.

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A transferência se deu no fim de 2016. Érika deixou a robusta equipe montada em Curitiba acostumada aos holofotes nacionais com a repercussão das fases da Operação e às prisões de envolvidos em crimes do colarinho branco, para chefiar a discreta e tímida estrutura da delegacia de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da PF na Capital catarinense. Oficialmente, a mudança seria por promoção na carreira. Para o presidente da Associação Nacional dos Delegados da PF (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, a remoção para uma unidade menor causou estranheza aos delegados federais e evidentemente não se tratou de uma promoção.

Nesses dois meses em Santa Catarina, a presença de Érika ainda é restrita ao convívio de colegas e ações internas. Até agora não houve nenhuma entrevista coletiva ou divulgação de alguma Operação que se tenha notícia de sua participação. A reportagem tentou uma entrevista com ela por meio da assessoria de comunicação da PF e também pela ADPF, mas não houve retorno até o fim da tarde de sexta-feira.

Nos bastidores, colegas afirmam que certamente a figura da delegada com conhecimentos e experiência na Lava Jato resultará em novos trabalhos policiais profundos e complexos, com desdobramentos e repercussões no Estado.

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Paranaense de Apucarana, 41 anos, a delegada Érika foi eleita em uma votação nacional informal da ADPF como a preferida para chefiar a PF como diretora da instituição. O nome dela é defendido pela associação para o cargo de diretor da PF em uma eventual substituição ao atual diretor, Leandro Daiello.

Se a indicação parece improvável de se confirmar diante do contexto político, o foco agora está direcionado para as investigações em território catarinense. Nas últimas semanas também houve expectativa na Superintendência da Beira-Mar Norte em razão da mudança no comando da instituição no Estado. O Ministério da Justiça em Brasília nomeou o delegado gaúcho Marcelo Mosele para o cargo de superintendente em Santa Catarina (leia matéria abaixo). Mosele estava desde 2014 em Paris como adido da PF e substituirá no cargo a delegada Mara Baiocchi de Sant’Anna, na função desde 2015.

Divisor de águas em trabalhos no Estado

Em relação ao trabalho de Érika, há quem a veja como uma possibilidade de avanços significativos em investigações em torno de desvios de dinheiro público na delegacia de combate à corrupção:

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— Sem dúvida vai ser um divisor de águas na qualidade da apuração dos casos de desvios de verbas públicas em SC — diz um experiente delegado federal.

Outro delegado federal há bastante tempo na PF catarinense considera que a policial já demonstrou expectativas procedentes em experiências anteriores à Lava-Jato.

O presidente da ADPF, Carlos Eduardo Sobral, afirma que a delegada antes mesmo da Lava Jato foi uma peça importantíssima nas investigações do caso Banestado, que revelou um esquema bilionário de remessa ilegal de dólares ao exterior.

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— Esse, inclusive, foi o berço da Lava Jato, pois aí surgiu a figura do doleiro Alberto Youssef, que mais tarde ficaria conhecido como um dos principais operadores também do esquema de corrupção investigado pela Lava Jato. Tenho certeza que, pela sua qualidade técnica, a Érika realizará um belíssimo trabalho também em Santa Catarina — aposta o presidente Sobral.

Em palestras da categoria, a delegada costuma dizer que a Lava Jato passou a limpo o país, cujas entranhas empresariais e políticas começaram a aparecer — até fevereiro, mais de 80 pessoas haviam sido condenadas pela Justiça do Paraná desde o início da apuração. Em março, entre os dias 20 a 23, a delegada será um dos destaques do VII Congresso Nacional dos Delegados de Polícia Federal em Florianópolis, onde deverá falar sobre a Lava Jato.

A delegada Érika Marena:

Na PF desde 2003, deu o nome à Lava-Jato devido ao uso de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis, em Brasília, para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas.

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Atuou também na delegacia de crimes financeiros de São Paulo e coordenou a força-tarefa CC5 (Caso Banestado) em Curitiba, em que chefiou o grupo de repressão a crimes financeiros.

Professora da academia nacional de polícia da PF da disciplina de lavagem de dinheiro.

No filme sobre a Lava Jato que deverá ser lançado em julho, “Polícia Federal – A lei é para todos”, Érika é interpretada pela atriz Flávia Alessandra.

Novo superintendente da PF em SC direto de Paris

Além da chegada da delegada Érika Marena, a Polícia Federal catarinense passa por reestruturação que envolve a mudança no cargo de superintendente regional, o mais alto posto da instituição no Estado. O novo número 1 da instituição em SC desembarcou direto de Paris. É o delegado federal Marcelo Mosele, que desde 2014 atuava como adido da PF na França. A nomeação foi publicada em fevereiro no Diário Oficial pelo Ministério da Justiça.

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Apesar do recente trabalho no exterior, Mosele é conhecido em SC — comandou a delegacia de Joinville e em Florianópolis exerceu diversas funções como chefe da delegacia de repressão a entorpecentes e delegado regional executivo (número 2). Obteve destaque ao comandar investigações sobre grandes traficantes de drogas. Depois, Mosele foi superintendente da PF no Distrito Federal e no Rio Grande do Norte. Ainda não há data para a posse.

Há dois anos como superintendente em SC, Mara Baiocchi Sant’Anna deixou a função. Ela participou do processo de substituição e está de férias, segundo a assessoria. Ainda não se sabe qual cargo exercerá ou se irá se aposentar.