As noites de 2013 de Luana Lopes Lara foram longas, por vezes quase alcançando a manhã, e por um breve período tinham a mãe, Cláudia Lopes, demonstrando preocupação na porta do quarto, no apartamento que as duas dividiam no Centro de Joinville. Mineira, Luana mudou para o Rio de Janeiro ainda na infância e, aos 13 anos, trocou a capital fluminense por Joinville.

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Agora, ela deixa a cidade para voos mais distantes: vai estudar no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, nos Estados Unidos. Um resultado daquelas noites em que, cursando o último ano do Ensino Médio, lutava contra o sono para completar todas as atividades escolares e ainda estudar para garantir as notas mais altas, mantendo o lugar de melhor aluna da sala.

Entre abril e maio deste ano, Luana foi notícia em alguns dos maiores portais da internet e participou de programas de televisão nacionais. Tudo porque, além de passar para o MIT, também foi selecionada para estudar em Harvard, Stanford e Yale – nada menos do que quatro universidades que estão no topo da lista das melhores do mundo.

.::Após aprovação no MIT, bailarina do Bolshoi em Joinville terá que escolher também entre Harvard e Yale::.

Este já seria um grande feito para uma jovem brasileira se a rotina de Luana estivesse focada apenas em se preparar para as seleções das universidades americanas mas, neste período, pelo menos metade do dia da adolescente era dedicado ao balé na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, motivo pelo qual ela havia se mudado para Joinville.

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Entre a bailarina e a nerd (título que Luana carrega com orgulho), fica a jovem perfeccionista que acordava às 5 horas para estudar alguma matéria que havia ficado sem leituras suficientes, ia para a escola de manhã, almoçava no trajeto entre o colégio e a sede do Bolshoi e, depois de passar a tarde na instituição de dança, onde cursava a sétima série, ainda ia para as aulas de pilates à noite.

As horas seguintes eram dedicadas, então, aos estudos – ela criava metas e não ia dormir sem que tivesse cumprido toda a lista. Essa rotina dura agora é lembrada aos risos por Luana e pela mãe.

– No início, eu tentava ficar acordada com ela, mas depois desisti. Meu humor fica horrível se eu não durmo, mas ela não tem esse problema – conta Claudia, enquanto observa a menina elétrica ser fotografada.

Nas últimas semanas, Luana visitou as quatro universidades que a convocaram a compor o corpo discente. Assim, ela esteve em Massachusetts e em Connecticut, e cruzou o país americano para conhecer Stanford, na Califórnia.

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– As universidades tem uma espécie de disputa entre elas pelo aluno, então eles promovem festas no campus, oferecem para ficar nos dormitórios, assistir a aulas, quer dizer, vivenciar mesmo como é a vida naquele lugar. Como é onde passamos a maior parte do tempo, você precisa se sentir em casa na universidade – conta ela.

O caminho para o MIT

Depois de visitar as quatro universidades, ela não teve dúvidas. Na verdade, foi quando parou em frente ao prédio principal do Massachusetts Institute of Technology (MIT) enquanto os raios de Sol iluminavam o campus, que Luana sentiu: aquele era o lugar onde queria viver e estudar. O MIT fora o primeiro a enviar a “carta” de admissão via e-mail e era o mais desejado pela menina que quer se formar em engenharia elétrica e, depois, dedicar-se à robótica.

– Eles tem um “Pi Day” [referindo-se ao símbolo que na matemática significa um número que tem como três primeiros dígitos 3,14], então, o resultado sairia em 14 de março, às 6h28. Na Áustria, eram 23h28. Eu acessei a internet neste horário e acabei acordando as minhas amigas gritando quando vi que tinha sido escolhida – conta ela, que estava em Salzburgo com uma turma do Bolshoi selecionada para fazer intercâmbio no Salzburg Ballet.

Pouco mais de seis meses antes havia começado a preparação para tentar estas vagas. Luana já sonhava em estudar no exterior, principalmente depois que visitou a irmã mais velha na North Carolina State University, em 2012, quando esta participava do programa Ciências sem Fronteiras, e sonhou com ainda mais força vivenciar a experiência do campus.

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– Eu queria desde pequena, mas não achava que era possível. Então, na metade do ano passado, um colega da Escola Avançada de Engenharia Mecatrônica da Universidade de São Paulo (curso de uma semana que a USP oferece a formandos do Ensino Médio ou Técnico) me falou sobre a Fundação Estudar. Já tinha passado o prazo de inscrição, mas consegui que me aceitassem mesmo assim – recorda.

Com a Fundação Estudar, ela aprendeu as melhores formas de enviar os formulários para as universidades americanas, que exigem currículo, histórico escolar, cartas de recomendação e entrevista, além da execução da prova SAT, um exame padronizado para todos os aspirantes às universidades americanas, com testes de raciocínio e de matérias como literatura, história, matemática, ciências e línguas. Além disso, a fundação tem um programa de mentores que auxiliam os jovens aspirantes neste processo.

– O trabalho deles foi fundamental para me ajudar a passar, assim como o nome do Bolshoi no currículo – avalia ela.