Ele entrava no campo com um gingado de sambista e ria com uma satisfação de boêmio gaiato. Na escalação, era goleiro, e jogava com aquela malandragem que só entende quem sabe que, para o ano começar, fevereiro tem que abrir alas ao Carnaval.
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Ganhou o apelido de Risadinha, porque, para sorrir, não tinha hora. Era homem do samba, e fazia justiça ao nome que hoje é sinônimo de Carnaval na Grande Florianópolis.
– Era um Nego Quirido. E ele jogava no meu time – recorda o aposentado Augusto Barbosa da Fonseca.
Aos 91 um anos, após jogar profissionalmente pelo Avaí e pelo Figueirense, Augusto lembra do tempo em que compartilhava o mesmo uniforme que Juventino João Machado, o sambista que deu nome à Passarela do Samba Nego Quirido, em Florianópolis.
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No Jabaquara, todos jogavam
O apelido surgiu porque, para Juventino, todos os amigos eram “quiridos”, com o jeito típico de manezinho.
– O nosso time era o Jabaquara, que ele fundou aqui no Morro da Caixa. E o Quirido chamava gente de tudo que era canto pra jogar – diz Augusto.
Bola e cuíca
Depois do jogo, não faltava a cervejinha, ao som das cuícas que o próprio Juventino confeccionava para tocar. A dedicação tinha motivo: apaixonado pelo Figueira, seu grande amor era o samba. E foi depois de uma partida, com amigos, na mesa de bar, que Nego Quirido participou da fundação da Escola de Samba Embaixada Copa Lord, em 1955.
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Feijão e batucada no sábado
Natural de Tijucas, Juva, como era chamado, foi criado por famílias tradicionais da Capital, trabalhando como caseiro e ajudando nas tarefas da casa. Na adolescência, foi viver com a família de Otília Garoffalis Fialho, em um casarão na Rua dos Ilhéus, no Centro.
– Ele veio para nós depois que os Araújo foram para o Rio de Janeiro. Eles disseram para levarmos o Juventino para trabalhar com a gente, porque ele era uma criatura muito boa – recorda Otília.
Aos 101 anos, lembra do jeito matreiro de Juva, sempre bem vestido, com seus sapatos bicolores, terno e chapéu, num tempo em que os sábados eram sinônimo de feijoada e samba.
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– Ele cozinhava muito bem. Ajudou a criar a minha filha, Tereza, e depois cuidou também das minhas netas, Luciane, Cláudia e Fernanda – conta.
Figura popular
A neta de Otília, Cláudia Fialho Daux, guarda com cuidado o álbum de fotos feito por Juventino para a família. As tardes que passeava com as irmãs e Juva no Parque da Dona Tilinha, na Praça dos Bombeiros, são lembranças agradáveis, com sabor de bala queimada.
Mais do que a importância de Nego Quirido para sua família, ela destaca sua contribuição para a história de Florianópolis:
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– Naquela época, Floripa era uma rua e uma praça. Ele era uma pessoa popular, que divulgava o samba. Foi um dos fundadores da Copa Lord.
O vínculo de Juventino com a família perdurou por toda a vida. Ele faleceu em dezembro de 1987, com câncer de pulmão, dois anos antes de ser inaugurada a passarela.