Escrever um livro nunca esteve nos planos de Raissa Souza Rezende. No entanto, a vontade de falar sobre mulheres que transformaram o mundo através da Ciência surgiu durante a faculdade de Química. A partir disso, a estudante da UFSC de Blumenau deu vida à obra que retrata um pouco da trajetória de personalidades que contribuíram para a descoberta de elementos da tabela periódica. Histórias essas que nunca tiveram o reconhecimento que mereciam.
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Raissa concluiu o curso em 2022, mas conta que o pensamento sobre o tema surgiu logo nos primeiros semestres da graduação, quando estudou a disciplina de Química Inorgânica. Ao conversar com a professora Keysy Solange Costa Nogueira, que foi a orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) desenvolvido pela aluna, as duas começaram a amadurecer a ideia.
— Acabei lendo um artigo da revista Galileu que falava sobre as mulheres esquecidas por trás da tabela periódica. Achei a temática muito interessante e então comecei a pensar em uma forma de juntar os dois assuntos — explicou Raissa.
A partir disso, a aluna definiu o que abordaria no TCC e focou em pesquisas para encontrar personalidades que haviam descoberto elementos químicos e contribuído para a compreensão deles. Esse processo ocorreu logo no primeiro ano da pandemia da Covid-19, em 2020, quando as aulas na UFSC estavam suspensas.
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Raissa conta que também precisou escolher apenas algumas mulheres para retratar no livro, pois seria inviável falar sobre todas. Ela chegou em 10 nomes e, apesar de não ter encontrado nenhuma referência no Brasil, as demais personalidades mencionadas na obra fizeram Ciência ao redor do mundo.
O trabalho só foi finalizado depois de dois anos, em julho de 2022. Ela explica que o objetivo era tentar abordar a trajetória dessas mulheres de maneira que aproximasse o leitor da Ciência.
— Geralmente a imagem que temos de um cientista é daquela pessoa super inteligente, como se fosse um dom. E a gente tentou mostrar que não é bem assim, que não precisa ser um gênio, pois tem todo um processo para que a pessoa chegue em uma descoberta — finaliza.
Mulheres esquecidas no tempo
Diante dessas histórias, Raissa também não poderia deixar de falar sobre as dificuldades ligadas ao contexto machista — naquela época e nos dias atuais — que fizeram com que essas personalidades não fossem conhecidas pelo público. Para ela, compartilhar com as pessoas a trajetória de mulheres que praticam a Ciência já se tornou uma necessidade.
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Ela relembra que, até mesmo no Ensino Médio, não costumava ouvir sobre outras cientistas além de Marie Curie, por exemplo, que é referência no universo da Química. Para ela, foi triste ver o elevado número de mulheres que permanecem sem o devido reconhecimento por suas contribuições à Ciência.
— Contar a história delas é fundamental para abrir caminhos e conhecer a história de outras mulheres também — ressalta.
O que o futuro reserva para a escritora
Aos 30 anos e já formada em Química, Raissa trabalha atualmente como professora orientadora de laboratório de tecnologias educacionais na escola José Bonifácio, em Pomerode. Mesmo longe da faculdade, ela não descarta a possibilidade de escrever uma continuação da obra.
— Nunca tive o sonho de ser escritora, mas penso em talvez fazer um mestrado e produzir um outro livro que conte a história de cientistas que a gente acabou deixando de fora porque não tinha ligação direta com a descoberta, mas que também tiveram contribuições muito significativas. Eu penso em escrever um volume dois contando a história delas — revela Raissa.
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Nesta quinta-feira (31) ocorre o lançamento oficial do livro produzido pela aluna e a professora Keysy, intitulado de “Mulheres e a tabela periódica: caminhos que se cruzam”. O evento, que é aberto ao público, será no Auditório Professor Fernando Ribeiro Oliveira da UFSC Blumenau, a partir das 18h30min, com a presença das autoras.
O encontro também contará com uma mesa-redonda para abordar o papel da mulher na ciência.
Conheça as mulheres mencionadas no livro
- Julia V. Lermontova (1846-1919): natural da Rússia, ela refinou os processos de separação dos metais do grupo da platina;
- Marie Curie (1867-1934): a polonesa descobriu, em 1897, os elementos polônio (Po) e rádio (Ra). Um ano depois ela também percebeu a existência da radioatividade;
- Harriet Brooks (1887-1942): nasceu no Canadá e sugeriu, junto com Ernest Rutherford, que a difusão de um gás pesado radioativo emitido do rádio era, na verdade, a evidência da produção de um novo elemento formado durante o decaimento radioativo. Mais tarde, estudos confirmaram que se tratava do radônio (Rn);
- Lise Meitner (1878-1968): natural da Áustria, Lise descobriu o protactínio (Pa). Em 1982, o elemento Meitnério (Mt) foi batizado em homenagem à cientista;
- Ida Noddack-Tacke (1896-1978): além de descobrir o elemento rênio (Re), a alemã fez uma reivindicação não comprovada da descoberta do elemento tecnécio (Tc), denominado por ela e pelo marido, na época, de “masurium”;
- Marguerite Catherine Perey (1909 -1975): natural da França, a cientista foi responsável pela descoberta do elemento frâncio (Fr);
- Darleane Hoffman (1926): nasceu nos Estados Unidos e ajudou a confirmar a síntese dos elementos seabórgio (Sg), livermório (Lv), fleróvio (FI) e Oganessônio (Og). Atualmente, Darleane tem 95 anos;
- Clarice Phelps (1981): também estadunidense, Clarice fez parte da equipe que sintetizou o Tenessino (Ts). Tem 42 anos e foi a primeira afro-americana envolvida na descoberta de um elemento químico;
- Dawn Shaughnessy (data de nascimento não encontrada): outra cientista natural dos Estados Unidos, Dawn participou da equipe que sintetizou os elementos 114 a 118 da tabela periódica (Fl – fleróvio, Mc – moscóvio, Lv – livermório, Ts – tenesso, Og – oganessônio).
*Estagiária sob supervisão de Augusto Ittner
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