As eleições municipais de 2024 terão ex-aliados que estarão em lados opostos nas disputas pelas prefeituras de grandes cidades de Santa Catarina. Casos de rompimentos políticos e mudanças de partido fizeram com que algumas corridas eleitorais tenham como adversários rostos que os eleitores costumavam ver juntos.

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Um dos casos de maior repercussão é o de Gean Loureiro (União) e Topázio Neto (PSD). Vice-prefeito eleito na chapa de Gean em 2020, Topázio assumiu a prefeitura após a renúncia do ex-prefeito para concorrer ao governo do Estado, há dois anos. De lá para cá, os grupos políticos dos dois foram vendo o distanciamento aumentar. O movimento coincidiu com a aproximação de Topázio ao grupo do atual governador Jorginho Mello (PL).

O rompimento tomou forma definitiva no fim de junho, quando Gean Loureiro passou a fazer oposição ao governo de Topázio. Sem poder concorrer por ter exercido dois mandatos seguidos, o ex-prefeito anunciou nas semanas seguintes apoio a um dos adversários de Topázio na corrida pela prefeitura em 2024: o também ex-prefeito e ex-senador Dário Berger (PSDB).

Com o início do período de propaganda eleitoral, Gean já se mostrou presente na campanha de Dário contra o ex-aliado Topázio. O ex-prefeito acompanhou o candidato do PSDB no debate da CBN Floripa e do NSC Total, logo no primeiro dia de campanha, e tem aparecido em vídeos e caminhadas do concorrente tucano.

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Mas a presença de ex-aliados em lados opostos nas eleições deste ano não é exclusividade de Florianópolis. Na vizinha São José, a corrida pela prefeitura tem sido protagonizada pelos dois últimos nomes a comandarem o município: a ex-prefeita Adeliana Dal Pont (PL) e o atual, Orvino Coelho Ávila (PSD).

Em 2020, Orvino foi o candidato à sucessão apoiado por Adeliana, que deixou a prefeitura após dois mandatos. Nos últimos anos, no entanto, os dois romperam politicamente e acabaram sendo escolhidos como os líderes dos projetos políticos que disputam a gestão municipal este ano. Adeliana, que migrou para o PL e tem o apoio do governador Jorginho Mello, tem feito críticas nas redes sociais à gestão do ex-aliado e atual prefeito Orvino.

Balneário Camboriú é outra cidade que tem ex-parceiros políticos em posições antagônicas nas eleições de 2024. A disputa pela indicação do candidato do PL dividiu nos últimos meses o atual prefeito Fabrício Oliveira e o deputado estadual Carlos Humberto (PL), que foi eleito vice-prefeito na chapa de Fabrício em 2016 e 2020, fazendo dobradinha com ele no comando da prefeitura até 2022, quando saiu para ser deputado estadual.

O rompimento entre os dois mostrou-se definitivo. Em uma articulação que teria envolvido o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Fabrício conseguiu o direito de indicar o candidato à sucessão, Peeter Grando (PL). Preterido na disputa interna pela indicação à corrida pela prefeitura, Carlos Humberto já anunciou que não apoiará o candidato do PL local. Em nota divulgada pela assessoria, o deputado afirma que projeto do partido na cidade não defende os valores dele e que “não tornará público o seu voto na eleição para a prefeitura de Balneário Camboriú”. Nas redes sociais, o deputado tem declarado apoio a candidatos da sigla apenas em outros municípios.

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Veja candidatos a prefeito de Florianópolis

Concorrência também em Blumenau

Outras grandes cidades de Santa Catarina também têm exemplos de lideranças que estiveram juntas em eleições passadas, mas agora disputam os mesmos votos. Em Blumenau, Napoleão Bernardes (hoje PSD) e Mário Hildebrandt (atual PL) foram eleitos prefeito e vice em 2016. Após a renúncia de Napoleão para concorrer a vice-governador em 2018, Hildebrandt assumiu a prefeitura e acabou eleito para um segundo mandato em 2020. Nas eleições deste ano, no entanto, tomaram rumos divergentes. Enquanto Hildebrandt apoia a candidatura a prefeito do deputado Egídio Ferrari (PL), que tem na chapa a sua vice Maria Regina de Souza Soar (PSDB) e articuladores como João Paulo Kleinübing, adversário do atual prefeito em 2020, Napoleão apoia a campanha do promotor Odair Tramontin (Novo).

Em Criciúma, onde a pré-campanha teve reviravoltas e mudanças de candidato, o deputado federal Ricardo Guidi (PL) concorre à prefeitura com o apoio do governador Jorginho Mello. Para isso, precisou deixar o PSD e migrar para o PL. O parlamentar já tinha bom trânsito com figuras do partido, como a deputada federal Júlia Zanatta. Ainda assim, na eleição deste ano concorre contra um colega do ex-partido, o ex-secretário Vaguinho Espíndola (PSD).

Em Joinville, terra do ex-governador Luiz Henrique da Silveira, a corrida pela prefeitura mostrou uma movimentação em sentido contrário, na linha de aproximação. MDB e PP, adversários históricos nos municípios catarinenses, firmaram aliança em torno da candidatura de Luiz Carlos Gubert (MDB) com Anelísio Machado (PP) de vice. A chapa disputa contra o atual prefeito Adriano Silva (Novo), que busca a reeleição, e outros três concorrentes: Carlito Merss (PT), Rodrigo Bornholdt (PSB) e Sargento Lima (PL).

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Busca por votos da direita favorece embates

Um ponto em comum entre a maioria dos exemplos citados acima é a presença do PL do governador Jorginho Mello nas composições. Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Tiago Daher Padovezi Borges, essa organização do PL em nível municipal é um elemento novo que ajuda a explicar os embates entre antigos parceiros em SC.

Ele cita que essas disputas entre ex-aliados não são algo recente e muitas vezes se devem a competições internas travadas por políticos que formam antigas alianças e às vezes alcançam um protagonismo maior.

Apesar disso, no caso das disputas catarinenses de 2024, o professor explica que o contexto de disputa pelo eleitorado de direita pode favorecer esses duelos. Borges lembra que esta é a primeira eleição municipal do PL após a chegada de Jair Bolsonaro ao partido, e que a sigla ainda está se organizando nos municípios.

Na avaliação dele, a entrada de novas lideranças no PL, às vezes enfrentando adversários que já estiveram nas mesmas fileiras partidárias anteriormente, é natural por haver uma disputa para saber quem serão as lideranças fortes desta nova fase do PL nos municípios de SC.

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— É absolutamente normal esse tipo de competição interna para ver quem fica com os votos tanto da eleição de prefeito anterior quanto quem se aproxima dos votos para a eleição presidencial (de 2026) — avalia.

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