Ser o Estado escolhido para sede da montadora da maior fabricante de carros de luxo do mundo, a alemã BMW, não é o único ponto em comum entre Santa Catarina, no Brasil, e Carolina do Sul (South Carolina), nos EUA. Outro ponto é que ambos usam a sigla SC. E o terceiro aspecto está reservado para um futuro não muito distante: o sonho de Araquari e região, no Norte catarinense, alcançar um dinamismo econômico e social parecido com o registrado em Spartanburg, onde está a fábrica americana, e nas suas vizinhas Greer e Greenville.
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A BMW, cuja logomarca reproduz uma hélice porque a empresa fundada em 1916 começou fabricando motores de aviões, instalou sua filial americana em 1992. Com investimento inicial de US$ 300 milhões (R$ 597 milhões), a montadora iniciou a produção voltada somente aos EUA.
O investimento projetado a Araquari, para o início do projeto que terá contrato assinado em 8 de abril, é de 200 milhões de euros (cerca de R$ 514 milhões), podendo chegar a R$ 1 bilhão na segunda fase da unidade. Nos EUA, desde a estreia da montadora em Spartanburg, em 1994, até agora – durante 18 anos – o total de investimentos alcançou US$ 6 bilhões e a produção ganhou o mercado mundial. Dos carros que saem das linhas americanas, 70% são para o mercado externo e 30%, ao interno.
Em visita à região da SC dos EUA, a comitiva catarinense liderada pelo secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável, Paulo Bornhausen, buscou identificar os impactos que poderão ocorrer no Norte catarinense e como alcançaram o crescimento econômico.
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Integraram o grupo o prefeito de Araquari, João Pedro Voitexem; o vice-prefeito, Clenilton Pereira, o diretor regional do Senai-SC, Sérgio Arruda; o diretor Técnico do Sebrae-SC, Anacleto Angelo Ortigara; e o empresário do setor de tecnologia, Guido Dellagnelo.
Os catarinenses constataram que os efeitos positivos incluíram crescimento da economia regional, aumento da população (o número de moradores triplicou), avanço tecnológico, aprimoramento da mão de obra, crescimento da renda média, salto no nível de educação, mais investimentos sociais, urbanos e ambientais.
Empregos multiplicados
Conforme Bornhausen, quando a fábrica foi instalada, foram abertos 2 mil empregos diretos e, hoje, são quase 8 mil funcionários. No início, a cidade contava com apenas 34 empresas do exterior e, atualmente, são 108. A companhia paga salários mais elevados do que a média e é grande a disputa de universidades da região para colocar o maior número de profissionais, especialmente engenheiros, no quadro da montadora alemã. Os trabalhadores da BMW são colaboradores e o turnover (rotatividade) é baixíssimo.
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– Como a unidade dos EUA saiu do zero, dá para termos a projeção do que é o potencial da fábrica brasileira para o futuro. Estamos diante de uma janela de oportunidades. Talvez as pessoas não têm entendimento do que isso significa, mas no futuro vai representar uma diferenciação para Santa Catarina dentro e fora do Brasil. A empresa vai melhorar a relação entre o setor produtivo e a sociedade – prevê Bornhausen.
Foto: BMW Group/Divulgação
Cada vaga é disputada por cem concorrentes
A disputa pelos empregos oferecidos pela BMW, quando ela abriu sua unidade nos EUA, foi de cem candidatos por vaga, quase como um vestibular para os cursos mais concorridos de Medicina no Brasil. E quem está no emprego não quer sair.
A companhia tem um dos mais baixos turnover dos EUA e segue como um dos locais mais desejados para trabalhar. Tanto que, em universidades da região, há até o índice BMW, ou seja, quem consegue empregar mais engenheiros na companhia.
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A par destas informações, o diretor do Senai-SC concluiu que a preparação da mão de obra será um dos maiores desafios para a instituição. Para iniciar esse treinamento de trabalhadores, a BMW está instalando unidade no Perini Business Park.
– Também chamou a minha atenção o processo de fabricação, com grande rigor na seleção de fornecedores – disse Arruda.
A situação econômica do Norte catarinense é diferente da registrada em South Carolina. Enquanto, aqui, a empresa vai para um município baseado em uma das regiões econômicas mais dinâmicas do Brasil, o condado de Spartanburg, à época, tinha uma indústria têxtil em dificuldades. E só. Por isso a BMW garantiu um salto à economia regional.
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– Eles trazem a fábrica mas, junto, virá a demanda de sistema viário, escola e infraestrutura de água e esgoto. A região de Araquari e Joinville vai ter que oferecer esse serviço – diz Arruda.