Em pleno exercício do mandato de presidente da Bolívia mas já projetando para si uma gloriosa eternidade, Evo Morales acompanha dia a dia a construção de um museu dedicado às lutas indígenas e a sua gestão. As obras devem consumir 14 meses – a inauguração, portanto, ocorrerá no início de 2014.
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O local de tão monumental auto-homenagem foi escolhido criteriosamente: será a cidade de Orinoca, 350 quilômetros ao sul da capital, La Paz, com 6 mil metros de área construída.
Por que, exatamente, Orinoca? Porque foi nesse povoado do departamento de Oruro, de 1,6 mil habitantes, que, em 26 de outubro de 1959, nasceu o aimará Juan Evo Morales Ayma, o primeiro indígena a presidir a Bolívia.
É nesse local que Evo, com ajuda da iniciativa privada, investirá 50 milhões de bolivianos (US$ 7,2 milhões ou R$ 15 milhões) para o erguimento do prédio onde funcionará o museu. A edificação é dividida em três módulos construídos na forma de um animal de importância ancestral para os povos indígenas andinos: um tatu, um puma e uma lhama.
No módulo da lhama, constarão uma exposição sobre a vida e a carreira política de Evo e os presentes por ele recebidos desde que chegou ao poder, em 2006. O que mais está despertando a curiosidade dos bolivianos são as gravações do presidente tocando trompete, quando o próprio se arriscava na carreira de intérprete de música andina, antes de se dedicar às atividades de sindicalista ligado aos cocaleiros (plantadores de coca) e à política.
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No módulo tatu, haverá um templo andino, um auditório e exposições temporárias. No puma (na verdade, o perfil da cabeça de um puma), uma exposição permanente conterá objetos que, amparados em textos, relatará a história do país, um dos mais pobres da América do Sul e um dos mais espoliados pela coroa espanhola, encravado no centro-oeste do subcontinente e hoje com 10 milhões de habitantes sem saída para o mar – motivo de animosidade com o Chile, para o qual perdeu o porto de Antofagasta.
Obra foi projetada para guardar presentes
Em 30 de novembro, Evo, reeleito em 2009 para um mandato de cinco anos, anunciou a obra, sem esconder o orgulho que sentia por ela.
– O museu será histórico, inédito, alguns dizem que será o maior de toda a América do Sul – gabou-se.
O presidente referiu-se a si mesmo na terceira pessoa:
– Precisamos ter um museu de Evo Morales, onde fiquem todos os presentes, há presentes de países da Europa e da Ásia, alguns deles custam US$ 5 mil, US$ 10 mil ou US$ 15 mil.
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A obra, porém, é alvo de críticas.
– Trata-se de um complexo que se somará a uma estrada, um estádio e um teatro, que já foram construídos nesse pequeno povoado orurenho. Para a oposição, não se justifica a criação de um museu em Orinoca só porque ali nasceu o presidente. O desejável é que a mesma sensibilidade seja vista em outros lugares e com outros setores – diz Francisco Justiniano Suárez, analista do jornal boliviano El Deber.