A rua é pública.

Pode parecer óbvio, mas isso tem ficado mais claro não só diante das manifestações, como nos eventos culturais que vêm ocorrendo em Porto Alegre especialmente desde o ano passado.

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Neste sábado, por exemplo, estava marcado um piquenique comunitário no Parque Marinha do Brasil. O evento, que comemora um mês do programa Cidade Elétrica, da Rádio Elétrica, foi adiado para o próximo sábado, devido à previsão de chuva. Na quarta, o Largo Glênio Peres deve se tornar palco para artistas no evento Revolução com Bolha de Sabão.

A tendência tem, claramente, fundo político. Em um momento em que grande parte da população se mostra insatisfeita com o preço das passagens de ônibus – e as exigências evoluem para os mais diversos assuntos -, o uso do espaço público urbano também entra na pauta. E, nesse contexto, ocupar um parque é mais uma maneira de transmitir a mensagem.

Se em outros países esse movimento já faz parte do cotidiano, em Porto Alegre começou a ser percebido principalmente no ano passado, quando o Tutti Giorni, o bar dos cartunistas, teve de deixar a escadaria da Borges de Medeiros. Frequentadores continuaram indo ao local, mesmo com o fechamento do estabelecimento. Mas as iniciativas se espalham pela cidade. Um dos lugares que se tornou recorrente palco de atividades culturais é o Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público. A mais recente, no último dia 14, reuniu centenas de pessoas, com bandas, artistas e manifestações diversas.

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– A causa disso tudo é perceber que a cidade gira em torno da mobilidade, e a vida se resume em sair de uma caixa, que é a casa, entrar em outra caixa, que é o carro, para ir para uma terceira caixa, que é o trabalho. É criar espaços de convivência que, na verdade, já existem – diz a jornalista Paola Kremer, uma das tantas pessoas que ajudaram a organizar a festa.

Nesses eventos, não há um grupo formal de organizadores. A divulgação ocorre nas redes sociais, em iniciativas de grupos como Largo Vivo, Defesa Pública da Alegria, Caminhos Livres e Block Party POA.

Tal horizontalidade é uma das características dos protestos recentes, sendo também um reflexo de como se organiza a internet, explica Lucas Liedke, diretor do núcleo de tendências da agência Box 1824:

– Todo mundo pode falar algo, e as coisas vão evoluindo de uma forma bem orgânica. É um termômetro, um pulso do momento.

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Para ficar sabendo das festas, vale ouvir amigos, pesquisar nas redes sociais, prestar atenção em cartazes na rua. Os lugares mais comuns são a Redenção, o Largo Glênio Peres, o corredor de ônibus da Osvaldo Aranha e o Parque Marinha do Brasil.

A Serenata Iluminada, um dos maiores eventos em espaços públicos da Capital e que ocupa há um ano a Redenção à noite, surgiu com a ideia de “uma cidade para as pessoas”. Renata Beck, arquiteta e uma das idealizadoras, acredita que esse tipo de evento provoca reflexão:

– As pessoas começam a discutir e pensar a cidade. Por que elas ficam em casa? Por que têm medo de sair à rua? Quando começa o debate, o evento já cumpriu seu papel.

Considerando os cartazes de “sai do Facebook” vistos nas manifestações recentes, a ocupação de espaços públicos com eventos culturais é a expressão de uma demanda coletiva.

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– Ir para a rua dá uma sensação de pertencimento, que é legal. É uma questão de apropriação: isto também é meu – explica Liedke.

Os próximos

Piquenique Elétrico

> Estava marcado para este sábado. Foi adiado devido à previsão de chuva e deve acontecer no próximo sábado.

> No Parque Marinha do Brasil.

O ponto de referência é a placa de 400m no parque.

> O evento comemora o aniversário de um mês do programa Cidade Elétrica, da Rádio Elétrica

Revolução com Bolha de Sabão

> Quarta-feira, dia 5, às 18h

> No Largo Glênio Peres

> Reúne música, teatro, artes plásticas e fotografia em frente ao Mercado Público