A pedagoga e professora Celene Costa, de 51 anos – destes, 26 envolvidos com o Centro de Educação Popular (Cedep) – mostra um caderno com desenhos e objetivos de crianças de 7 a 8 anos que atende no contraturno escolar, através do projeto Oficina do Saber, da entidade que fica no bairro Monte Cristo, em Florianópolis. Ela fez uma simples pergunta aos pequenos: o que eles querem ser quando crescer? Algumas das respostas traduzidas em lápis de cor desviaram do propósito. O papel de Celene é inspirá-los e mostrar que é possível ter outros sonhos, muito maiores. E o principal: que é possível realizá-los.

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— Meu pai me dizia que estudar era coisa para branco. Mas eu insisti. Se eu consegui ser professora, eles também conseguem ser o que eles quiserem. E nós estamos aqui para ajudar a eles encontrarem estas oportunidades — afirma a professora.

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Desenhos como uma menina com um bebê na barriga, indicando que ela quer ter um filho quando adolescente, chocam. Meninos de sete anos que falam que querem virar traficantes para comprar um par de tênis legal e para ter várias namoradas também são relatos que surgem no dia a dia no centro de educação. As tristes histórias acabam se tornando combustível para pessoas como Celene, que querem fazer a diferença na vida de crianças que estão em situação de vulnerabilidade social e que podem não enxergar um futuro diferenciado para elas.

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— Eu falo para eles que o tráfico dá dinheiro, sim. Mas eles só têm duas opções de futuro: cadeia ou morte — orienta Celene.

Quando identificada, essa criança recebe uma atenção especial dos educadores. Celene, por exemplo, incentiva a leitura. Ela avisa que estudar faz a diferença. Aí surgem desenhos como uma menina que quer ser professora quando crescer, outra que quer ser cantora, outro jogador, e outro doutor – para cuidar da saúde dos mais velhos.

— Um menino uma vez me disse que queria ser médico. Um dia o vi na rua, na correria das drogas. Perguntei: ¿E aí, doutor? O que é isso?¿. E ele me afirmou que voltou a estudar durante a noite no EJA (Educação de Jovens Adultos), porque vai mudar. Eles só precisam enxergar que tem outra oportunidade — afirmou a professora.

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É possível

Ajudar a buscar a segunda chance das crianças e adolescentes do Monte Cristo é o objetivo principal do Cedep. A entidade nasceu em 1987, com a então ocupação de áreas do Continente de Florianópolis, quando surgiram as comunidades Nova Esperança, Novo Horizonte, Ilha Continente e Vila Aparecida. Neste cenário estava justamente a agora professora Celene. Com dois filhos na época, sendo uma de oito meses, ela participou da ocupação do Nova Esperança. Morou em barraco de lona, sozinha com os pequenos. Ali conheceu os primeiros voluntários, que juntos do padre Vilson Groh a instruíram a fazer magistério e perseguir seu sonho de ser professora. Com apoio do Cedep, estudou Pedagogia na Udesc. Entrou pela lei de cotas na universidade. E hoje é exemplo às crianças.

Na sede oficial do Cedep, construída em 2005, são desenvolvidas atividades de três projetos. O Oficina do Saber – o primeiro a ser criado – oferece aulas de karatê, futebol, dança, teatro, aulas circenses, de música e de alfabetização também.

O projeto Fênix tem o objetivo de trazer as crianças que ainda não estão no Cedep para dentro da entidade. Elas são atraídas, principalmente, por atividades de esportes radicais. O projeto Avançar orienta os adolescentes de acima de 14 anos acima sobre o primeiro emprego, através do projeto Jovem Aprendiz.

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— Não orientamos eles só a conseguir o primeiro emprego, mas principalmente como se portar, no trabalho quais são seus direitos e responsabilidades — contou o professor, Paulo César Matias.

— Eu tenho alunos que viraram gerentes de supermercados, que conseguiram empregos em empresas, em escritórios. É gratificante — desabafou Celene Costa.

Um empurrãozinho pra mudar a realidade

É possível ajudar estas crianças e adolescentes a enxergar a segunda chance. Uma das principais fontes de renda para manter o projeto vivo o ano inteiro ocorre neste fim de semana. A já popular Benefest, que chega este ano à 11ª edição, ocorre no domingo, a partir das 11h, com uma feijoada feita por cozinheiros renomados da cidade, no Music Park, em Jurerê Internacional.

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A festança vai contar com samba dos bons, com o grupo nacional Art Popular, o pagode do Em Cima da Hora e o som do Sound´Trio. Vai ter ainda espaço para as crianças brincarem. O valor pode parecer salgadinho: R$ 80. Mas se pensar que comida, bebida e o samba serão liberados e que isso ainda vai ajudar cerca de 500 crianças e adolescentes atendidos pelo Cedep, pode ter certeza que o investimento valerá a pena.

Como participar da festa

Os ingressos da festa já estão sendo vendidos. Mais de 2 mil pessoas já garantiram o seu, afirmou a organização. Vai perder?

SERVIÇO

O quê: 11ª Benefest.

Onde: Music Park, na Rodovia Maurício Sirotsky Sobrinho, 2.500, em Jurerê Internacional.

Quando: 18 de setembro (domingo), das 11 às 18 horas.

Quanto: Ingressos estão sendo vendidos a R$ 80, com comida (feijoada e surpresinhas dos chefs) e bebida incluídas.

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Como: Os ingressos estão sendo vendidos no Supermercado Imperatriz Gourmet e no Blueticket, que ficam no Beiramar Shopping. É possível comprar diretamente no Cedep, que fica na rua Frei Fabiano de Cristo, no Monte Cristo. O site do Blueticket ainda oferece a opção para parcelar o valor ou pagamento à vista. Mas é cobrada uma taxa de R$ 8, para envio do ingresso: www.blueticket.com.br.

Mais informações: (48) 3244-7497.