Os evangélicos pentecostais darão nesta quinta-feira, em São Paulo, uma demonstração de força. Na presença de candidatos de olho nos votos de milhares de fiéis, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) inaugura uma obra faraônica no coração da capital paulista.

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Com capacidade para 10 mil pessoas, o Templo de Salomão custou R$ 680 milhões, estende-se por uma quadra e tornou-se alvo de investigação do Ministério Público (MP) por suspeita de fraude. Para a construção, a IURD apresentou à prefeitura um pedido de reforma de um prédio antigo, e não de construção de uma nova edificação, o que, conforme o MP, pode resultar em ação demolitória. O local é considerado sagrado pelo bispo e empresário Edir Macedo, fundador da denominação que tem mais de 1,8 milhão de adeptos no país.

Não à toa, a inauguração promete ser um desfile de políticos e autoridades. Além de Dilma Rousseff, foram convidados governadores, deputados, senadores e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Integrantes do Partido Republicano Brasileiro (PRB), que reúne membros da Universal, também devem comparecer em massa.

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O prestígio tem explicação. Nos últimos anos, a presença de evangélicos vem aumentando no Brasil – segundo o IBGE, representam cerca de 22% da população. Além disso, as igrejas pentecostais contam com um arsenal midiático que potencializa seu alcance.

Para o cientista político Antonio Lavareda, é natural a atenção crescente dos políticos à Universal.

– O interesse decorre não só do peso demográfico que esse eleitorado assume, mas do estilo de sua confissão religiosa, que se caracteriza por uma influência maior de seus pastores e bispos, se comparada aos católicos – diz Lavareda.

Embora o segmento tenha representantes em diferentes siglas, três delas concentram os líderes pentecostais: PRB, PR e PSC. Dilma garantiu o apoio dos dois primeiros. Já o PSC concorre em voo solo.

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:: Dimensões faraônicas

O prédio: 11 pavimentos com espaços para escolas bíblicas capazes de acomodar 1,3 mil crianças, estúdios de rádio e TV, auditório e ala de hospedagem para pastores

Localização: Avenida Celso Garcia, 605, Brás, São Paulo

Capacidade: cerca de 10 mil pessoas sentadas

Estacionamento: 1,2 mil vagas

Área construída no complexo: cerca de 74 mil m²

Altura: 56 metros sobre a superfície e sete metros no subsolo

Volume de concreto: cerca de 28 mil m³

Quantidade de aço: cerca de 2 mil toneladas

Custo: R$ 680 milhões

:: Para comparar

Templo de Salomão: 56 metros de altura, 104 metros de largura e 126 metros de comprimento

Cristo Redentor (sem o pedestal): 30 metros

Catedral Metropolitana de Porto Alegre: 65 metros de altura (cúpula), 47 metros de largura e 80 metros de comprimento

Basílica de Aparecida: 80 metros de altura (cúpula), 173 metros de comprimento, 168 metros de largura e área coberta aproximada de 18 mil metros quadrados

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:: Um rei sábio e justo

A obra em São Paulo é inspirada no Templo de Salomão, construído há 3 mil anos em Jerusalém. A construção original não existe mais.

O rei Salomão, que ergueu o templo para cerimônias judaicas, era filho do rei Davi e entrou para a história como governante justo.

Certa vez, duas mulheres diziam ser a mãe de um menino. O rei ordenou que ele fosse cortado ao meio e que cada mulher recebesse metade. Uma delas disse que preferia que o menino fosse dado à outra, para não vê-lo morrer. Salomão, então, disse que esta era a verdadeira mãe.

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:: “É uma força religiosa, midiática e política poderosa”, diz especialista

Professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Mariano considera crescente a influência das igrejas pentecostais no cenário eleitoral. Ele pesquisa o movimento pentecostal no Brasil e a atuação política dos evangélicos há décadas.

Na sua opinião, até que ponto a religião influencia o voto dos brasileiros?

Há pesquisas mostrando que as igrejas evangélicas, sobretudo as pentecostais, influenciam mais o voto dos fiéis do que a Igreja Católica. Uma das razões para isso é o fato de que a Igreja Católica não costuma orientar a escolha de um determinado candidato ou partido, ao contrário do que fazem várias igrejas pentecostais.

Quando começou o fenômeno?

Até o fim dos anos 1970, a maioria das igrejas pentecostais se opunha à participação política. Nos anos 1980, com a nova Constituição, isso mudou. A Assembleia de Deus disseminou o boato de que a Igreja Católica pretendia tornar o catolicismo religião oficial do país, o que resultaria em perseguições religiosas. Por isso, decidiu participar da escrita da nova Carta Magna, mobilizando o rebanho. Deu resultado. Em 1982, os pentecostais tinham dois deputados federais. Em 1986, elegeram 18. Foi o grande marco de ingresso deles na política.

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Como isso evoluiu?

Desde então, a participação desse segmento só cresceu. Hoje, é quase 25% da população brasileira e domina 15% do Congresso. É uma força religiosa, midiática e política poderosa. A Igreja Universal tem até um partido, sem contar a presença de pentecostais em praticamente todas as legendas. Então, não interessa se Dilma, ou seja quem for, tem ojeriza a isso, por ser ateu ou agnóstico. É preciso lidar politicamente com esse segmento.

Existe possibilidade de os fieis serem influenciados pela igreja?

Em parte, sim. Comparando com outras religiões, eles dispõem de capacidade muito maior de transformar o rebanho em curral eleitoral.