A Áustria e os países balcânicos persistiram, nesta quarta-feira, em sua ofensiva para conter o fluxo migratório, “uma questão de sobrevivência” para a União Europeia (UE), o que antecipa uma reunião difícil nesta quinta-feira, em Bruxelas.

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“Devemos reduzir o fluxo migratório agora. Trata-se de uma questão de sobrevivência para a União Europeia”, declarou a ministra do Interior austríaca, Johanna Mikl-Leitner, durante a conferência regional em Viena.

Após a Áustria impor cotas diárias para a admissão de imigrantes, os principais países de trânsito restringiram drasticamente sua passagem, o que tem afetado principalmente a Grécia, onde há 12 mil refugiados bloqueados.

Apesar desta situação, Atenas foi excluída da reunião em Viena.

Na prática, refugiados econômicos, pessoas sem documentos e os que prestarem falsas declarações serão sistematicamente rejeitados, segundo o acordo que será apresentado nesta quinta-feira, em Bruxelas, pelos ministros do Interior da UE.

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Em uma declaração comum, os dez países reunidos nesta quarta-feira em Viena (Albânia, Áustria, Bósnia, Bulgária, Croácia, Eslovênia, Kosovo, Macedônia, Montenegro e Sérvia) destacaram que o “fluxo migratório através dos Bálcãs deve ser reduzido massivamente”, apesar das reservas da Comissão Europeia sobre os métodos para obter isto.

“Queremos pressionar a UE para que adote uma solução comum”, resumiu Mikl-Leitner.

Grécia com fardo mais pesado

A Grécia, diretamente envolvida na crise migratória, protestou energicamente por ter sido excluída desta reunião ministerial na capital austríaca.

Estas negociações são realizadas após o anúncio de que desde o início do ano 110.000 migrantes chegaram apenas à Grécia e à Itália, somando-se aos mais de um milhão que desembarcaram ali no ano passado.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), dos que chegaram até agora neste ano, 31.000 fugiam da guerra na Síria. Um total de 413 pessoas morreram desde 1º de janeiro ao viajar à Europa, entre elas 321 tentando chegar à costa grega.

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Este fluxo imparável gera mal-estar na Europa, e estimula a ascensão de partidos populistas anti-imigração em muitos dos 28 membros da União Europeia. Além disso, gera dúvidas sobre a viabilidade da zona Schengen de livre trânsito de pessoas na Europa.

A Anistia Internacional (AI) criticou nesta quarta-feira a vergonhosa resposta dos países europeus à chegada maciça de refugiados.

“Esta Europa, que é o bloco mais rico do mundo, não é capaz de velar pelos direitos básicos de algumas das pessoas mais perseguidas do mundo, é vergonhoso”, disse o secretário-geral da organização, Salil Shetty.

“A maioria dos países, com a honrosa excepção talvez da Alemanha, decidiram simplesmente que a proteção de suas fronteiras é mais importante que a proteção dos refugiados”, estimou o diretor da AI na Europa, John Dalhuisen.

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Restrições nas fronteiras

A Áustria, ao tomar nota da impotência da UE em regular o fluxo de migrantes e assegurar a divisão de refugiados entre os 28, instaurou em 19 de fevereiro quotas diárias de entrada em seu território: 80 solicitantes de asilo e 3.200 pessoas em trânsito por dia.

Este anúncio gerou como efeito dominó uma série de medidas restritivas nos países dos Bálcãs, como Macedônia – não membro da UE – que fechou sua fronteira aos afegãos e impôs controles e restrições à passagem de sírios e iraquianos que viajam por seu território com destino à Europa do Norte.

Estas decisões foram duramente criticadas pela UE, que falou na terça-feira de risco de crise humanitária.

A Grécia, onde estão bloqueados milhares de refugiados provenientes da Turquia – até agora autorizados a prosseguir sua viagem à Europa -, protestou tanto ante Viena quanto ante a UE por sua falta de cooperação para enfrentar a crise migratória.

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A partir da ilha grega de Lesbos, principal porta de entrada dos migrantes na Europa, o Alto Comissário da ONU para os Refugiados (Acnur), Filippo Grandi, disse na terça-feira que o crescente fechamento das fronteiras aos refugiados na rota balcânica pode criar um caos na Europa.

Mais de 102.000 migrantes e refugiados chegaram de 1º de janeiro até agora às ilhas gregas, procedentes da costa turca, segundo a OIM.

Um total de “2.000 pessoas, um terço delas afegãs”, continuam chegando diariamente a estas ilhas, segundo o responsável da ACNUR na Grécia, Philippe Leclerc.

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