Subir ou não subir neste ano as taxas de juros dos Estados Unidos? Esse dilema divide o Federal Reserve (Fed) e leva ansiedade aos mercados.
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Entre os integrantes do Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC), dois membros se mostraram reticentes nesta semana em elevar os juros nas reuniões previstas para a semana que vem e para dezembro.
Já a presidente do Fed, Janet Yellen, disse há cerca de dez dias que considera provável que a taxa de juros, em aproximadamente 0% desde 2008, subam no máximo até dezembro.
O número dois do Fed, Stanley Fischer, bateu na mesma tecla e afirmou que prevê um aumento, nas advertiu que isso não poderia ser considerado uma promessa.
“Não é comum ver dois integrantes do Fed expressar publicamente pontos de vista diferentes aos do presidente da entidade”, disse à AFP Stephen Oliner, economista do American Entreprise Institute.
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Uma voz dissonante foi a de Daniel Tarullo, que disse ter dúvidas sobre o aumento ainda neste ano. Ele pediu para que se espere “sinais tangíveis” de uma maior inflação.
Outro que está nessa é Lael Brainard, que pediu prudência devido “aos riscos que veem do exterior, que são especialmente negativos”.
Para Tim Duy, professor de Economia da Universidade do Oregon, essas posições críticas reduzem as possibilidades de um aumento dos juros em dezembro”, quando o Fed realizará nos dias 16 e 17 sua última reunião do ano.
“A dissidência é significativa porque a última coisa que o FOMC quer é um voto dissidente de um dos seus membros”, disse Stephen Oliner.
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Ao contrário dos presidentes dos Fed regionais, que não têm voto no comitê e não hesitam em marcar suas divergências, os membros permanentes fazem parte da equipe que trabalha cotidianamente com Yellen.
Menos confiantes na inflação
O Fed tem o mundo em xeque. Os juros dos EUA são uma referência para outros países.
Os aumento dos juros deixará o dólar mais forte, castigando outras moedas, e pode aumentar a fuga de capitais dos países emergentes para os EUA, que oferecerá investimentos mais rentáveis.
Em sua reunião de setembro, o Fed avaliou a situação da economia chinesa e as incertezas nos mercados e decidiu manter os juros inalterados, em quase 0% desde 2008 para tirar os Estados Unidos da grande recessão da época.
Após a reunião de setembro, foram recebidos dados decepcionantes sobre o emprego e as vendas a varejo. E todos concordaram que o crescimento dos EUA vai cair no último trimestre, ficando um pouco acima de 1,9%, percentual bem abaixo dos 3,9% do segundo trimestre.
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O Livro Bege, relatório que servirá de base para a reunião do Fed que começa na próxima quinta-feira, aponta que o dólar forte e a desaceleração da China dificultam a indústria americana.
Para Stephen Oliner, a origem das divergências está nas expectativas de inflação que é de quase 0%.
Se o Fed não para de dizer que os fatores da queda de preços são “passageiros”, as dúvidas do comitê parecem ser mais profundas.
“As projeções dos membros do comitê publicadas em setembro, mostram que nove, ou seja a maioria dos 17 presentes, acreditam que são grandes os riscos de que a inflação não se direcione gradualmente à meta de 2%, como quer o Fed”, diaaw Oliner.
Nas vésperas de um ano eleitoral essas divergências podem refletir um certo nervosismo entre os membros nomeados na administração de Obama?
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Stephen Oliner não acredita: “nunca vi nenhuma referência a considerações políticas em uma reunião do comitê”, disse o especialista que passou 25 anos trabalhando no Fed. “Se tiverem que tomar uma decisão importante para a economia, a tomarão”, afirmou.
* AFP