Dois anos depois de chegar à praia dos Ingleses, em Florianópolis, para começar uma nova vida, e de investir todos os seus recursos em um imóvel de dois andares onde, além de morar, também abriu um restaurante, Denise Guimarães Santana convive, agora, com duas inseguranças diárias. Ter a casa soterrada pela areia e perder a única fonte de renda dela e da família são as grandes preocupações.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Florianópolis e região no seu WhatsApp
A casa de Denise está interditada desde a última terça-feira (6), quando a Defesa Civil da Capital esteve na servidão Fermino Manoel Zeferino, no canto Sul dos Ingleses, para averiguar o avanço das dunas. Outra residência, que teve a estrutura comprometida pela pressão da areia, anteriormente, já tinha sido fechada pelo órgão.
Desde junho, quando uma telha da moradia já encoberta pela duna rachou, e sem recursos financeiros para continuar custeando a realocação das dunas, muito por conta da pandemia e da baixa temporada de verão, ela e seus dois filhos, de 12 e 25 anos, se acomodam em ambientes improvisados. Isso porque a areia, embora removida diariamente pelos moradores, já invadiu quase todos os cômodos da residência.
– Eu estou me virando como dá. A minha casa, que foi interditada terça, é a mais afetada aqui da rua. E logo também vai afetar os vizinhos, que também estão com medo porque sabem que as casas deles vão ser engolidas – comenta.
Continua depois da publicidade
Em vídeos gravados por moradores a pedido do Hora de Santa Catarina e enviados à reportagem, é possível ver o avanço das dunas para dentro da casa de Denise (assista abaixo).
Praia da Joaquina em Florianópolis é tomada por festas clandestinas e drogas; veja vídeo
A areia, além de pressionar a estrutura do imóvel do lado de fora, bloqueia a porta da cozinha e encobre todo o banheiro do andar superior. Em um quarto já desocupado, os grãos de areia se acomodam em um dos cantos e ganham, dia após dia, mais altura.
– Ela (areia) entrou no meu banheiro, no meu quarto, na minha cozinha. Eu tenho uma duna dentro de casa. Faço a retirada diária dela, mas isso tem um custo, e os meus recursos acabaram. Eu estou tentando, tento diariamente achar um jeito de organizar, mas está muito difícil – lamenta.
Continua depois da publicidade
Veja como está a casa da moradora:
Interdições temporárias
Além da casa de Denise, que se recusa a abandonar o imóvel por ser também o local de trabalho, outra moradia está interditada por risco de desabamento na servidão Fermino Manoel Zeferino, no canto Sul dos Ingleses. Um agente da Defesa Civil de Florianópolis foi até a região na terça-feira (6) e, além de encontrar as casas quase encobertas, se deparou com parte da rua escondida pela camada de areia.
Na ocasião, a Defesa Civil informou ao Hora de SC que uma reunião entre o órgão, a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram) e Ministério Público de Santa Catarina seria agendada para deliberar sobre as medidas a serem tomadas com o menor impacto à natureza. Já nesta quinta-feira (8), o agente do órgão, Marcos Alberto Leal informou que uma nova avaliação deve ser feita nas residências antes de marcarem a data do encontro.
Para Denise, a interdição temporária não é apresentada como solução, porque outras casas interditadas anteriormente, na região, acabaram soterradas. Os moradores, segundo ela, ficaram sem o imóvel e sem recursos, o que ela não quer que aconteça agora.
Quais as melhores praias de Florianópolis dependendo da direção do vento?
– A minha casa é só mais uma. Tinha uma vila, um campo de futebol aqui atrás (da residência) e outras casas, mas todas foram soterradas. Eu não quero que isso aconteça com a minha. É desesperador – conclui.
Continua depois da publicidade
Às pessoas que têm suas casas interditadas, o município disponibiliza abrigos, por meio de hoteis ou outras estadias, temporariamente. O proprietário da outra residência interditada não foi encontrado pela reportagem. Vizinhos relataram que a casa foi desocupada há muito tempo por conta das dunas.
A prefeitura de Florianópolis foi procurada pela reportagem na quinta e retornou apenas na manhã de sexta-feira (9). Disse, por meio de nota, que a nova vistoria foi agendada para segunda, dia 12 de julho, com o acompanhamento de um perito. O objetivo é ver em que nível de comprometimento estão as duas casas interditadas, ainda, conforme a nota. Sobre a realocação da areia disse, apenas, que uma medida é avaliada.
Leia também
Dunas dos Ingleses avançam sobre casas e causam risco de desabamento em Florianópolis
Continua depois da publicidade