Antes de ser um Micro Empreendedor Individual (MEI) do ramo automotivo, Cleiton Pezzini vendia temperos gourmet para mercados e restaurantes da Grande Florianópolis. A ideia de investir no negócio atual foi da esposa. Para montar a Estetic Clean, Cleiton pediu dinheiro ao sogro, fez um curso e correu para a internet a fim de se atualizar sobre equipamentos e produtos.
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– Eu sempre gostei de carros e apostar neste tipo de serviços de limpeza faz bem até à minha alma – diz ele, enquanto com um paninho remove manchas no capô de um dos três carros no pátio de casa, no bairro Ponta de Baixo, em São José.
Asseio, explica, é uma coisa que mexe com ele. Cleiton chega a ser chato com os filhos, impondo-lhes uma rotina rígida sobre banho, escovação dos dentes, roupa limpa. A inquietação nasce de uma fase da vida que o próprio define como degradante.
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– Isso vem do tempo em que eu vivia nas ruas, quando eu me sentia sujo, imundo, um lixo. Mesmo naquela situação indigna eu pedia para tomar banho. Se deixassem, amenizava aquela sensação de autodesprezo, de automutilação.
Cleiton lembra de uma infância feliz cheia de brincadeiras típicas do interior – corria atrás de passarinhos, andava de bicicleta pelas estradas da comunidade, jogava futebol no campinho do bairro. Os pais, filhos de agricultores e sem muito estudo, mas que se esforçaram para garantir escola e comida. Mas Cleiton acredita que houve um fato que mudou a trajetória: a amizade com amigos que usavam drogas. Tinha 14 anos quando experimentou maconha. Com 18, cheirou cocaína.
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Ainda assim, continuava com sua rotina: trabalhava como fichado numa indústria moveleira na mesma empresa onde a mãe era funcionária, seguia morando com a família, estudava à noite e nos fins de semana saía para se divertir. Porém, diferentemente do que ocorre com outros jovens que têm contato com as drogas e não desenvolvem dependência, para ele o desfecho foi trágico.
– Com 19 anos eu experimentei o crack. Ali foi a minha perdição, o final da minha história – diz.
Cleiton recorda que seguiu trabalhando. Não mais para comprar roupas, ajudar os pais, adquirir um par de tênis.
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– Eu trabalhava exclusivamente para manter o vício. Não conseguia mais ter constância nos empregos, não me interessava por ter carteira assinada devido às exigências legais e passei a fazer bicos. Até que comecei a furtar: lembro do dia em que roubei o botijão de gás da casa dos meus próprios pais. Ali eu perdi a noção do que era ser gente.
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“A rua fascina. Sair dela é quase um milagre”
A juventude de Cleiton foi marcada por idas e vindas. Os anos passaram entre tratamento em centros terapêuticos, reinserção social, recomeços, recaídas e até prisão por associação ao tráfico de drogas. Esteve detido por 11 dias, em Curitiba, tendo o pai que vender um carro da família para pagar o advogado e livrá-lo de uma condenação.
– Na rua, a única responsabilidade que se tem é com a própria rua. Não existe compromisso com os pais, com a empresa, com a lei. A pessoa não tem responsabilidade nem consigo mesma, pois se tivesse não estaria naquela situação.
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Cleiton explica que foi graças à ajuda de um amigo que conseguiu retomar a vida. O missionário que havia conhecido numa casa de recuperação o encaminhou para se tratar em Palhoça, na Grande Florianópolis. Era agosto de 2012, e um ano depois ele conheceria a mulher com quem está casado, mãe dos seus filhos.
– Hoje, quando olho para alguém vivendo na rua eu sinto tristeza. Eu paro, converso, tento ajudar. Lembro do meu tempo, de como era para mim. A rua fascina. Sair dela é um desafio muito grande, é quase um milagre.
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