A primeira entrevista que fiz no Egito – uma conversa informal com o meu intérprete – mostrou que os egípcios estavam longe de parar com as manifestações que iniciaram em janeiro de 2011. Graduado e com filho pequeno, o rapaz de 27 anos resumiu o sentimento nas ruas do Cairo em uma só frase:
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– Só vamos deixar os protestos quando Mubarak (Hosni, ex-presidente) for morto.
Na época da cobertura, em setembro de 2011, achei forte a declaração. Porém, foi apenas o início do que eu iria encontrar nos próximos dias.
Quando cheguei ao país árabe, encontrei um povo que vive diferente do que costumamos ver nas belas imagens das pirâmides. O cenário é de probreza pelas ruas, sem saúde e vivendo sob a truculência do exército. Só não são piores do que as imagens dos dias de violência.
Por causa dos conflitos, tive que lidar com uma das piores dificuldades da vida de repórter: a falta de fonte. Não era pela ausência de pessoas – a cidade do Cairo tem milhares de habitantes -, e sim por causa da Lei de Emergência.
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Ninguém podia falar de política e não ousavam comentar sobre os conflitos. Do universitário até o vendedor ambulante. Todos ficavam com medo. Quem falava tinha ligação com os protestos.
Durante a permanência no Egito – 15 dias -, senti um país calado, com medo. Nas ruas empoeiradas do deserto havia muitos militares bem armados e tanques de guerra, cenário que ainda existe.
O que mais emocionou foi o grandioso prédio do governo queimado, preto por causa das chamas. No chão, cartuchos de munições. Não era difícil saber que ali aconteceu uma guerra que ainda não tinha acabado.
Depois de viajar pelo deserto, usar um sistema de transporte público precário, entrevistei um personagem que fez uma declaração que me colocou mais nesta história. Segundo ele, eu participava de um momento único no mundo que estava longe de acabar. Até hoje mantenho contato com o colega através de uma ferramenta que ajudou nas manifestações: o Facebook.
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Entrou e saiu presidente eleito, houve mudanças, mas não o suficiente para parar o povo, que foi para as ruas novamente. Porém, agora a violência está assustadora. Ainda mais com a declaração de que as forças do governo podem usar força letal. Uma receita para um genocídio. Hoje acompanho por aqui a saga dos egípcios, mas com a vontade de estar lá.