Ao chegar à sala vip do terminal antigo do aeroporto Salgado Filho nesta segunda-feira para a entrevista que deveria durar 15 minutos, a presidente Dilma Rousseff justificou:
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– Tem de ser rápido, porque estou perdendo a voz. Tem acontecido isso cada vez com mais frequência.
Lembrada de que no discurso no Palácio do Piratini não parecia que estivesse afônica, explicou:
– Mas lá eu impostei e isso acaba desgastando.
A entrevista a Zero Hora e ao Correio do Povo acabou durando 33 minutos. Em dois momentos, Dilma se antecipou à pergunta: quando puxou o assunto da espionagem dos Estados Unidos e disse que vai tratar do tema na abertura da assembleia geral da ONU, e depois, para negar a reforma ministerial. Falou da ponte do Guaíba, do metrô, da crise no Ministério do Trabalho e de reeleição. Confira os principais trechos da entrevista.
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NOVA PONTE DO GUAÍBA
“A ponte nós vamos fazer aqui de qualquer jeito. Não tenha dúvida disso. Agora, nós estamos nos finalmentes. Eu ainda volto duas vezes até o final do ano. Em uma delas, nós liquidamos essa ponte de vez.”
METRÔ DE PORTO ALEGRE
“O metrô eu estou dependendo do prefeito José Fortunati. Porque tem um problema de redução do tamanho. Antes ia até a Fiergs e agora só vem até o Laçador (na verdade, até o Triângulo da Assis Brasil). E aumentou o preço. Eu sei que não é culpa do Fortunati. Tem sido assim em várias licitações no Brasil. Devemos fechar essa proposta até a metade do mês que vem. Se eu ficar dando recursos a fundo perdido para todo mundo, não vou ter fundo perdido para dar. Então, uma parte vai ter de ser com aumento de financiamento para ele. Que ele faça PPP, que era a ideia. Nós vamos ver dos R$ 2 bilhões o que vai ser e o que não vai ser, mas eu te asseguro que tudo do orçamento da União é impossível.”
CRISE ECONÔMICA
“Na reunião do G-20, ficou clara a avaliação de que a economia americana está com indícios muito significativos de recuperação. Há indícios de que ela está saindo do processo que estava, de restrição do mercado de trabalho. Os Estados Unidos e a China melhoraram. Já a Europa não tem dados muito animadores. Mas também não se tem mais aquele risco sistêmico de que o euro ia desaparecer. Então, há uma situação muito melhor no mundo. Eu diria que o fundo do poço passou. Mas você tem de tomar cautela, porque a duração da crise e a característica dela é de redução do comércio internacional.”
CONCESSÕES
“Nós estamos muito interessados nesse processo de concessões. O fato de ter havido uma concessão com oito candidatos e outra sem nenhum reflete uma coisa interessante. É impossível ter concessão sem tarifa de pedágio. Isso significa que nós vamos ter de abrir uma séria discussão no país sobre o seguinte: se querem o modelo de concessão, ou seja, se querem que as estradas sejam assumidas pela iniciativa privada, terá de ter pedágio. Eu concordo plenamente com a população quando ela diz que tem tarifas de pedágio que são insustentáveis. Mas não se pode ter uma visão simplista de que toda tarifa de pedágio é insustentável. O Dnit não tem como assumir todas as estradas federais. Temos que encontrar o chamado caminho do meio.”
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REFORMA MINISTERIAL
“Não pretendo fazer, agora, uma reforma ministerial. A minha reforma está marcada para o final do ano e terá a ver com o processo de saída dos ministros para concorrer. Isso não precisa ser no último dia (possível), porque como eu tenho um ano de governo, tenho de dar conta desse ano. Então, tem o interesse do ministro, mas tem o interesse do governo. Não quero solução de continuidade. Quero manter um padrão. Temos vários projetos em andamento, e eles serão mantidos rigorosamente.”
CRISE NO TRABALHO
“Eu não julgo o ministro Manoel Dias. Ele acabou de entrar no governo. As responsabilidades do Manoel Dias são muito circunscritas. Vou avaliar todos os dados. Nós não temos, hoje, nenhuma razão para modificar nossa visão e avaliação do ministro. Nenhuma. Agora, havendo algum caso concreto e fundado, qualquer pessoa está sujeita às exigências legais e éticas do país.”
ESPIONAGEM
“Eu vou aos Estados Unidos para abrir a assembleia geral da ONU. Irei à ONU falar a respeito disso, principalmente da neutralidade da rede, da internet, da importância da rede não ser usada para espionagem. Inclusive, quando estive com o Obama, avisei ao governo americano que, em qualquer hipótese, eu levaria isso para os fóruns multilaterais. Agora, o Brasil vai ter de se preocupar muito com criptografia, com desenvolvimento de tecnologias para poder se proteger.”
REELEIÇÃO
“Eu disse quando estive aqui da última vez que estou no governo. Eu sou a presidenta. Os outros querem o meu lugar. Eu não tenho de me preocupar com eleição, tenho de me preocupar em governar. E é isso que vou fazer até o último dia. O que tenho de fazer é isso, governar. É colocar os problemas do Brasil na frente de qualquer coisa.”
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