Um dia depois de passar pelo perigo, Cristiano Manoel dos Santos ainda não conseguiu dormir. Em casa se recuperando após ser picado mais de 100 vezes por um enxame de abelhas que atacava um homem nos Ingleses, no Norte da Ilha em Florianópolis, o soldado da Polícia Militar conversou com a reportagem do NSC Total nesta quinta-feira (5).
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Cristiano temeu pela própria vida depois do ataque do enxame de abelhas. O caso ocorreu em um terreno baldio no bairro Ingleses na quarta-feira (4) de manhã, quando policial atuava durante as rondas tradicionais na região. A guarnição de Cristiano foi acionada por outro policial que chamava com urgência algum auxílio após ver um homem caído e coberto pelos insetos. Os bombeiros também haviam sido chamados mas estavam longe do local.
— A gente não tinha nenhum extintor, então paramos num posto de gasolina perto do local e pegamos emprestado o extintor deles. Cheguei lá e o cara estava no meio do mato, era impossível chegar perto porque tinha muita abelha. Elas já estavam atacando na calçada, longe do homem que estava lá no meio do terreno, nunca vi tanta abelha na minha vida — lembra o policial.
Cristiano foi alertado pelos colegas para não entrar no terreno, mas quis salvar o homem que poderia morrer se continuasse no meio das abelhas.
— Abotoei toda a roupa, fechei tudo, botei balaclava, óculos escuros, peguei o extintor e já fui no caminho com ele, mas quanto mais eu soltava o extintor mais elas vinham pra cima de mim. O corpo do homem estava todo coberto de abelhas. Eu cheguei nele e bati no corpo, falei pra ele vir comigo, mas ele não conseguia se mexer, só levantou o braço. O único jeito foi pegar ele, botar nas minhas costas e tentar tirar do foco das abelhas. Caminhei uns 10 metros e as abelhas invadiram minha roupa, minha balaclava, picaram meu rosto inteiro, meu corpo. Não dava mais pra continuar, mas eu já tinha tirado ele do foco delas, então deixei ele perto da estrada e voltei correndo pra viatura. Me batia todo pra tentar tirar elas de mim, até que consegui e o meu companheiro já me levou direto para a UPA enquanto os bombeiros jogavam água no homem pra tirar as abelhas — conta Cristiano.
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O policial e o homem atacado foram para a unidade de saúde no Norte da Ilha, onde os médicos e enfermeiros tiraram os ferrões, deram injeções e soro. Cristiano foi liberado, mas o homem que ainda não foi identificado estava em estado grave e precisou ser levado ao Hospital Celso Ramos.
Ainda com o corpo inchado e dores das picadas, Cristiano diz que não se arrepende de ter negado o conselho dos parceiros e entrado no terreno para salvar a pessoa:
— Eu faria tudo de novo. Meu pai chegou depois, olhou pra mim e disse "filho, o pai tem orgulho de ti. Tu foi louco, mas o pai tá orgulhoso". Isso não tem preço que pague, salvar uma vida. Desde 2017 eu estou na PM, eu lutei muito para estar ali, desde pequeno eu via reportagens de policiais salvando gente e pensava que queria também. Ontem eu pude fazer isso. Não esperava nada em troca, não passava nada na minha cabeça, só pensava em salvar ele.
Cristiano tem 30 anos e é nascido e criado no Norte da Ilha, em Ponta das Canas. Antes de ser policial trabalhava no restaurante que o pai tem na beira da praia. Na cozinha, chegou a ser picado algumas vezes por abelhas e se assustava ao ver o inchaço. Não sabia se tinha ou não algum tipo de alergia às picadas. A salvo depois do susto, ele agora espera alguma notícia do homem que salvou. Segundo o que ele ouviu de moradores, seria um andarilho que recolhe latinhas no bairro e teria entrado no terreno baldio exatamente para pegar recicláveis.
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— Eu espero que ele esteja bem, vou querer ir lá conversar com ele assim que possível — completa o policial.