Após os dois defensores terem conhecimento prévio das perguntas, a advogada Fernanda Fleck Freitas, 28 anos, aceitou pela primeira vez dar entrevista sobre o suposto envolvimento com a facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC) e o assassinato da agente penitenciária Deise Alves, em São José.
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>>> Assista a entrevista com Fernanda Fleck Freitas
Ela admitiu ter escrito um bilhete interceptado no Presídio de Tijucas, em que tentou se comunicar sobre os rumos da facção e em que usa expressões características do bando, como Paz, Justiça e Liberdade. Disse que estava desnorteada e desesperada dentro da cadeia e que o escreveu como pedido de ajuda.
A conversa de Fernanda com o Diário Catarinense ocorreu na tarde de sexta-feira, no Fórum de São José, depois que a Justiça cancelou e transferiu a audiência prevista para depoimentos das testemunhas do crime.
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Os dois advogados dela, Henrique Werner Corrêa e Bruno Damiani, de Tubarão, pediram antecipadamente quais seriam as indagações da reportagem. Informados do conteúdo, se reuniram rapidamente com a advogada em separado e concordaram em conceder a entrevista ao lado.
A conversa de seis minutos, por vezes interrompida pelos advogados, foi antes de Fernanda ser levada por policiais ao 8º Batalhão da Polícia Militar de Joinville, onde está presa desde o começo do ano. Ela estava sem algemas, calçava uma bota preta de cano alto e demonstrava boa aparência.
Durante a audiência, não sentou na cadeira ao lado dos outros três réus acusados de executar a agente e ficou o tempo todo atenta ao depoimento da delegada Ana Cláudia Pires. Na entrevista do DC, fez longa pausa quando perguntada sobre a razão de envolvimento com a facção.
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O bilhete que ela admitiu ter escrito é considerado prova pela a acusação e usado para a incriminar como mensageira do PGC – Fernanda é apontada como elo entre líderes presos e criminosos nas ruas.
Na carta, ela comentou que estava sentindo na pele o que sofre um irmão (termo usado por detentos para se referir a um integrante do PGC). Para o Ministério Público, o texto reforça o indício da participação de Fernanda com o mundo do crime e poderá servir de prova no julgamento.
Confira a entrevista:
Diário Catarinense – O Ministério Público afirma que a senhora teria levado informações dos presos a criminosos nas ruas para que cometesse o assassinato da Deise. O que tem a dizer a respeito?
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Fernanda Fleck – Tenho a dizer que isso é mentira, é um absurdo. Eu estava fazendo o meu serviço, eu fui remunerada para fazer o meu serviço jurídico.
DC – Mas o MP afirma que a senhora tem envolvimento no assassinato da agente. Qual a sua posição sobre isso?
Fernanda – De jeito nenhum. Não teria nenhum motivo para querer a morte de ninguém.
DC – Por que a senhora acha então que foi envolvida nesse caso?
Fernanda – (longa pausa) Eu não sei.
Advogado Henrique Werner Correa – Resposta para a sociedade. Usar um elo para que possam vir a acusar pessoas e permitindo que venha a acusar alguém para dar horizontes justificados para essa conexão do crime. Para se poder ter uma ordem que vem de dentro de um ergástulo, necessariamente essa ordem tem que ser repassada de alguma forma. Porém, não foi dada certa atenção de que no mesmo dia em que a Fernanda foi lá visitar e a Deise veio a ser morta, nessa mesma data, um vigia ou vigilante que tinha em São Pedro de Alcântara foi pego com chip e com maconha. Ou seja, estava infringindo o artigo 33 da Lei de Tráfico e ele ainda estava, talvez, levando mensagem que pode ter desencadeado a morte da Deise. O fato de ela estar presa é um absurdo jurídico. O pedido está na mão do doutor Minatto (juiz). O promotor de Justiça pediu para se manifestar em gabinete, vamos ver o que vai ser decidido até a próxima audiência.
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DC – A Polícia Civil e o Ministério Público afirmam que essas pessoas que a Fernanda foi visitar em São Pedro de Alcântara (líderes do PGC) não seriam clientes dela. O que aconteceu?
Correa – Atualizações processuais podem ser levadas sem qualquer problema. Ou seja, se eu, advogado criminalista, tivesse sido contratado para levar informações processuais sobre qualquer preso em São Pedro de Alcântara, eu poderia estar preso preventivamente só por ter levado atualizações processuais que muitos advogados levam, porque seria uma consulta dentro do ergástulo. Se o cliente está preso é necessário que se vá até o cliente.
Fernanda – Segundo aos autos é um procedimento até normal.
Advogado Bruno Damiani Vechi – Nem todos os advogados que visitam os seus possíveis clientes têm procuração ou já atuaram em algum processo. Inclusive é uma prerrogativa.
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DC – Esse bilhete que o Ministério Público afirma que a senhor teria escrito, confessando que era do PGC?
Correa – Ela está…
Fernanda – Deixa eu dizer, deixa. Eu posso dizer. Qualquer pessoa que é acusada de um crime, principalmente de um crime de grave comoção social, como eu fui, principalmente de um crime que vai a júri, fica completamente desnorteada. Eu não deveria estar dentro de um presídio. A minha prerrogativa foi descumprida desde o momento da minha prisão, na realidade. Eu realmente estava desesperada no presídio. Eu queria de qualquer forma uma informação que pudesse me ajudar.
Correa – É inerente à mulher que ela sente carência. A Fernanda está com 28 anos, nunca se viu nessa situação. Ela é ré primária, nunca teve envolvimento com nada. Ou seja, estava sendo remunerada a prestar um serviço e de repente se viu presa preventivamente por homicídio duplamente qualificado e dentro de um local onde tem outras mulheres que sentem essa mesma coisa que ela tem, esse sentimento inerente à mulher. Quando ela teve a possibilidade de dar um abraço alguém, ela abraçou. E agora o Ministério Público está se atentando a isso para indeferir a revogação da prisão preventiva dela. Ou seja, fugindo dos fatos que estão concretos no processo, até então da denúncia. Ou seja, um fato que ela cometeu posterior à prisão dela está mantendo ela preventivamente presa agora. Vamos ver o que vai ser decidido agora. Inclusive tem recurso no STJ que está pendente de julgamento. Esperamos que venha decisão de primeiro grau antes de ser julgado mérito lá em cima.
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