Dona de um vasto currículo, Márcia Tiburi foi uma das principais atrações da oitava edição da Feira do Livro de Criciúma, que encerrou sexta-feira.
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Doutora em filosofia, escritora, professora, colunista da Revista Cult e conhecida pela participação no programa Saia Justa, do canal GNT, ela esteve no evento para conversar sobre literatura e filosofia.
Com 20 títulos publicados, entre obras acadêmicas e romances, Márcia impressiona, mas não intimida o público. No bate-papo mediado por Carlos Henrique Schroeder contou que o feminismo é tema de seus próximos romances. Desterro, com lançamento previsto para março, é ambientado em Florianópolis, cidade pela qual se confessou apaixonada.
Como foi o convite para você vir à Feira do Livro de Criciúma?
Foi o Carlos Henrique Schroeder que entrou em contato comigo. Eu tinha data, achei que era uma sorte. Achei muito bacana vir até aqui. Eu adoro esses encontros com as pessoas. Acho muito cheio de potências libertadoras. Uma conversa sobre filosofia é uma coisa impagável de boa. Eu gosto disso, esse é meu jeito de ser.
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Que dilema feminino você acha mais complicado do mundo atual?
Eu desconfio muito do feminino. Quando fazia televisão sempre rolava essa conversa do feminismo, a crítica “ai, essa mulher não é feminina”. Por que a pessoa precisa ser feminina? Que obrigação é essa? Deixa a pessoa ser como ela é. O que é isso de feminino? A mulher tem que ser feminina? O homem tem que ser masculino? Deixa a pessoa ser o que ela é. Ajude-a a ser feliz que vai ser mais bacana. Você nota que o discurso sempre é violento no sentido de enquadrar as pessoas. Você não pode ser assim, você tem que ser assado. Você tem que ser branco, você não pode ser preto. Você tem que ser magra, você não pode ser gorda. A gente tem que combater isso, porque isso não é nosso. Já pensou quantos pesos inúteis?
Você trata de feminismo em seus livros?
Na minha literatura certamente, meus próximos dois romances terão um cunho feminista bem forte. E o que eu acho é que ele não pode surgir em figuras – deputada, vereadora, advogada do movimento feminista – ou em marchas na rua. O feminismo também tem que ser a desconstrução simbólica dessa lógica, vamos chamar assim, da matriz heterossexual masculinista. No fundo, é desconstruir a cabeça dos homens, desconstruir a cabeça das mulheres, porque homens e mulheres são machistas, infelizmente. Acho que o bacana é a gente poder desconstruir tudo isso, porque existe muita opressão, muita violência e disputas nesse território de diferença entre os sexos. Até hoje muitas mulheres, em cargos iguais aos dos homens, ganham salários diferentes. Os homens se acham no direito de bater, de matar uma mulher. As mulheres não fazem isso. Raramente fazem.
Sobre o que será seu próximo livro?
Você vai achar incrível. Meu próximo chama Desterro, e ele tem um laço em Florianópolis. Ele tem essa questão da imigração. O personagem foi embora para uma cidade fria da Europa, e a família ficou. Aí acontecem coisas. Ele tem a ver com Florianópolis porque ele é o desterro. Eu sempre vivo querendo morar em Florianópolis, dizendo para o pessoal da UFSC me avisar quando tiver concurso. Nunca morei aqui. Quem mora em São Paulo fica louco por Florianópolis, porque a cidade é linda. Quem é nativo de lá foi invadido pelos estrangeiros.
E onde entra o feminismo?
O feminismo entra numa situação do personagem. Isso eu não posso contar. Ele tem uma descoberta. É um homem, é a vida dele, mas ele tem uma descoberta que é totalmente feminista.
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