Ney Matogrosso já tem data e horário para colocar a voz e o gingado em solo catarinense outra vez. Será no dia 22 de julho, às 19h30min, na Arena Opus, em São José. Para o espetáculo, que mistura história da música popular brasileira e muita energia de uma personalidade icônica do Brasil, ele reserva um tom mais coração e menos político. Essa é a diferença do show que trouxe para Santa Catarina antes da pandemia.

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Em uma entrevista exclusiva por vídeo, Ney falou sobre os projetos futuros, as influências de parceiras como Rita Lee e Gal Costa, e de amor.

Amor por Cazuza, amor pela música, amor pela liberdade e amor pela arte. Também falou sobre ser um precursor da liberdade sexual, de chutar a porta por fazer o que a liberdade inspira e por poder fazer da música a maior expressão de sentimentos.

Leia a na entrevista:

Você já está em turnê com o Bloco na Rua?

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Sim, em viajando direto. Todo fim de semana em algum canto diferente.

Tens alguma ligação especial com SC?

Tem pessoas queridas que moram por aí e eu já gravei um DVD inteirinho em um dos teatros de Florianópolis. Gosto muito de ir a Santa Catarina.

O que mudou no espetáculo desde a última vez que você veio a SC, antes da pandemia?

Ele mudou um pouquinho. Ele era mais radical e agora eu dei uma amenizada. Eu tinha um final mais político. E agora eu fiquei querendo um impacto muito mais emocional do que outra coisa. Então, botei Poema, botei Homem com H. Ele está mais alegre, assim, mais animado.

Isso tem a ver com a política brasileira?

Sim, que saímos daquela, daquele filme de terror, né?

A tua música sempre expressou os teus pensamentos sociais e políticos, além do amor?

Não é uma coisa que seja o foco específico no meu trabalho, mas eu me dou ao direito de comentar sim sobre o nosso país, sobre a situação, as coisas que acontecem. Então, é isso. Tinha isso [política] muito acentuado, sabe? E eu acho que não é mais necessário.

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Ney Matogrosso fala da relação com Gal Costa e Rita Lee (Foto: Marcos Hermes, Divulgação)

Falando lá do início da tua carreira, por que que você resolveu fazer música?

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Não resolvi, fui empurrado pra ela e fiquei. Eu não pensava que música seria a minha vida. Eu achava que eu seria um ator de teatro. E que o fato de cantar era útil ao ator. Aí fui parar no Secos & Molhados. Eu fazia teatro até então. Mas tomei gosto pela coisa. Tomei gosto pela música. E nunca mais saio dela. Mas me dei a liberdade de fazer coisas esporádicas. Teatro, por exemplo. Não dá para fazer porque solicita tanto quanto a música, né? Mas faço cinema, tenho feito muito cinema. Já fiz com a Helena Ignez quatro filmes. Já fiz com a Ana Carolina e fiz com outras pessoas também. Recebi uma resposta de novo para outro filme com a Ana Carolina, ela está escrevendo o roteiro. Dei uma entrevista e disse que gostaria de fazer um serial killer. Aí, Ana Carolina me ligou e perguntou se eu queria fazer, falei que sim. Aí, ela está escrevendo com um personagem serial killer pra mim.

Que músicas você escuta em casa?

Para te falar a verdade, ouço muito pouca música em casa. Ouço mais quando estou no carro. Ouço rádio para entender como é que está no panorama.

O que você gosta de ler?

Leio muito. Tudo muito variado. Bom, agora um livro que marcou minha vida foi o Tao-te King. É sobre uma religião que não é presa a nada. Não é sobre o mundo real.

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Você é religioso?

Não, eu não tenho nenhuma que me atraia. Não, não, não tenho mesmo. Sou católico, não é porque eu fui batizado, fiz primeira comunhão, mas eu não tenho nenhuma. Meus pais eram espíritas.

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Você tem medo de alguma coisa?

Não. Pelo contrário, tudo que aconteceu na minha vida me deixou com menos medo. Eu já não tinha medo, agora, depois da pandemia, menos ainda.

Como um ícone da liberdade sexual, como você enxerga o atual momento da sociedade e o que vem pela frente?

Com relação a essa questão da sexualidade não adianta governo nenhum querer controlar e querer impedir porque as pessoas continuam nascendo. A sexualidade das pessoas ninguém controla. É uma coisa delas e pronto. E como o mundo está aceitando mais esse tipo de coisa, né? De pessoas trans, essas coisas mesmo. E eu já estou. Eu acho que, de uma maneira geral, as pessoas estão aceitando mais fácil esse tipo de coisa. Que tem que ser aceito mesmo porque ninguém determina que vai nascer assim ou assado, não é isso?

Falaram muito mal de mim no começo da minha vida artística, mas nunca dei trela. Durante dois anos meu nome era proibido de sair no Jornal do Brasil. Eles diziam que não publicavam o nome de travesti, só que nunca fui travesti. Sempre gostei de ser do sexo masculino, mas isso não me impede de nada, sabe? Fiquei dois anos sem aparecer no jornal e, agora, cadê o Jornal do Brasil? Acabou. Eu estou aqui. É dessa maneira que eu vejo.

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Você se enxerga como um ícone da liberdade sexual no Brasil?

Não, mas a realidade é que eu fui o primeiro. Eu chutei a porta. E exatamente por isso eu não podia viver submetido a esse tipo de mentalidade. Eu achava que tinha direito de ser quem eu era e de que as pessoas me conhecessem como eu realmente era.

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Ney Matogrosso conta detalhes sobre o figurino para o show em SC (Foto: Marcos Hermes, Divulgação)

E a música te ajudou nesse sentido?

A música sempre me expôs. E nas entrevistas que eu sempre fiz, eu sempre falei a verdade. Eu nunca me escondi. Isso provocava um espanto, até nas pessoas que vinham conversar comigo. Mas eu sempre fui muito claro, muito, muito explícito quando me perguntavam sobre sexo, eu respondi sobre sexo. A primeira vez, quando eu fui ler, era sobre o amor. Eu disse, mas eu não falei sobre o amor! Falei objetivamente sobre sexo. São coisas diferentes.

De onde vem a ideia dos teus figurinos e da tua performance no palco?

Eu danço com toda a liberdade. Não sou um dançarino. Não tenho esse problema de mexer quadril, de mexer nada, porque corpo é assim. Basta olhar para África. Todos os homens dançam se requebrando, todas as mulheres dançam se requebrando. Qual é o problema, se tem vontade? A dança é uma expressão. E sobre o show, hoje eu só pinto os olhos como maquiagem para que ele fique mais visível. E o figurino vai variando com o passar do tempo. Às vezes eu tenho inspirações sobre as roupas. Outras não tenho. Uma vez fiz um figurino baseado em Eldorado, sabe aquela figura da América Latina? Que era assim, era a história de um imperador, inca, asteca. Tive a ideia de cobrir todo o corpo com ouro em pó, porque ele entrava num lago para se banhar para os deuses. E achei essa ideia tão atraente, tão latino-americana. Aí, contratei uma pessoa que fez um macacão com 40 mil micro paetês dourados.

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Qual o figurino vais usar no show em SC?

Olha, essa foi a primeira vez que não interferi no figurino que foi feito pelo Lino Villaventura (estilista). Já estou usando há três anos. Estou achando até que está na hora de começar a pensar em outro, porque é muito tempo para ficar usando o mesmo. Em outras vezes eu usava vários durante o show. Tinha por baixo de uma calça, depois tinha outra. Então eu ia tirando uma e vinha outra por baixo. Então, desta vez não tem. Vai ser um macacão que não dá nem pra mexer com ele. Ele é todo justo no corpo e fechado. Eu estou querendo já pensando em trocar, fazer um outro.

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Cantor comenta sobre o gingado e as performances no palco (Foto: Rita Vicente, Divulgação)

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Qual a influência de Gal Costa e Rita Lee na tua carreira?

Gal foi mais próxima, né? Nós fomos mais próximos nos anos 70. A gente se encontrava em todos os lugares. Rita eu conheci quando estava no Secos & Molhados e depois nos encontramos algumas vezes. Rita era mais reclusa, não é? A última vez que encontrei com ela foi numa peça que fizeram sobre ela, um musical que fui assistir e, para minha surpresa, ela estava sentada na minha frente. Fiquei muito feliz.

Rita teve alguma influência na tua carreira? Tem uma música dela no teu repertório, né?

Tem. Já gravei nove músicas da Rita. Ela me deu meu primeiro sucesso realmente solo, que foi “Bandido Corazon”. Rita me antecedeu. Cheguei muito tarde na música. Quando comecei “Os Mutantes” lançavam um disco e eu ficava enlouquecido. Sabe, como Caetano (Veloso), como Gal, como Chico (Buarque), como Gil (Gilberto). Rita Lee sempre foi estimulante pra minha cabeça, desde lá atrás.

A Gal parece ser mais coração para você. É isso?

Sim. Nós fomos mais próximos. A gente se encontrava nas festas, ficava assim porque era uma outra época, né, que tudo era mais. Por incrível que pareça, éramos todos mais livres no comportamento. Então a gente se beijava muito. A gente não tinha nada, mas a gente se beijava e era ótimo, sabe? Boquinha cheia, boca mais cheirosinha que conheci na minha vida.

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E na última vez que se encontraram rolou alguma coisa marcante para você?

Olha, a última vez que a gente se encontrou foi no aeroporto. Estávamos chegando não sei de onde. Aí saímos conversando, sem rumo.

Qual a palavra para definir Gal?

Insubstituível. Mas também cristal. Cristal da voz. E não vai ter outra igual. Tem outras grandes cantoras, como Marisa Monte, por exemplo. Mas a Gal Costa tinha uma coisa assim, excepcional na voz dela. Era um cristal.

Você canta Gal no teu show?

Não é uma homenagem porque eu já estava fazendo, mas é “Como 2 e 2”.

Cazuza foi seu primeiro amor?

Olha, o Cazuza foi um grande amor, mas não foi o primeiro nem foi o único. Depois dele, tive outros amores.

Mas é uma pessoa muito importante na tua vida?

Sim. Ainda tenho uma relação com a Lucinha [mãe do Cazuza], que recentemente estava no meu show.

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Veja Ney Matogrosso cantando “O tempo não para”:

E o que acontece quando você canta “Poema”, música dele?

Quando eu canto, eu não penso na música. Mas nesta música, as pessoas ficam em pé e é retumbante. E fico, olha como gostam. E lembro dele ali naquele momento.

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Como surgiu “Poema”?

Ele (Cazuza) fez para a avó dele, quando ele tinha 17 anos. E ela guardou num livro que ficava na cabeceira dela. E quando Cazuza morreu a Lucinha [mãe do Cazuza] pediu a letra. A avó disse que era dela. Depois que ela morreu, Lucinha me mostrou e Frejat [do Barão Vermelho, amigo de Cazuza] musicou.

Na tua geração, muita gente morreu de Aids e agora os números voltaram a subir.

Eu não tinha como lidar com as perdas. Era aceitar ou não aceitar. Tenho uma tendência a aceitar tudo o que a vida me oferece. Aceitei tudo e hoje em dia não sinto mais dor nenhuma, porque aceitei tudo, vivi tudo na hora. Tudo que tinha que viver. E hoje em dia eu estou liberado. É assim que eu olho para a vida.

Não tem mais informações para uma biografia aí?

Não tenho mais o que contar. Já existem algumas por aí.

Aos 81 anos, tem muita coisa para fazer ainda pela frente. O que planeja?

Essas coisas vão chegando e vão me ocupando. Eu vou liberando espaço para elas. Ainda não entrou nada novo, sabe? Ainda não chegou nenhuma ideia. Mas eu estou fazendo seleção de repertório, escrevendo eu tenho um caderno que tudo o que eu gosto de ouvir. Pode ser que dali mais tarde futuramente possa sair alguma coisa.

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Serviço

Ney Matogrosso, com a turnê “Bloco na rua”

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Veja Ney Matogrosso na “Série Grandes Nomes”, da TV Globo:

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