Após uma semana de disputas, o Rio Surf Pro Internacional, a etapa do WQS (a divisão de acesso) na Praia do Arpoador, chega à reta final neste domingo, dia 12, no palco considerado o berço do surfe brasileiro. Os competidores da atual edição nem eram nascidos quando a mesma praia recebeu as lendárias edições do Waimea 5000, que entre os anos de 1976 e 1982, colocaram o mar do Arpex no cenário mundial. As etapas, organizadas pela então entidade máxima do esporte, a International Professional Surfers (IPS), trouxeram os melhores do mundo à praia da zona Sul do Rio de Janeiro.

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E, para delírio do público que compareceu em peso para prestigiar o debute brasileiro no cenário mundial, a primeira etapa do Waimea 5000 teve como vencedor um garoto da zona Sul, o saudoso Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o Pepê, que entrou para a história do surfe nacional como o primeiro brazuca a participar de uma final em Pipe, no Havaí. Pepê foi um atleta de destaque em outras “praias” como o hipismo e o vôo livre – esporte em que foi campeão mundial em 1981 e que também lhe custou a vida uma década depois, em sua última decolagem no Japão, aos 33 anos.

Além de Pepê, o Arpoador conheceu um outro campeão brasileiro. Na edição do Waimea de 77, o também carioca Daniel Friedman conquistou o título, deixando Pepê com o segundo lugar no evento finalizado na praia do Quebra-Mar. Depois, o domínio foi dos gringos. O vitorioso de 78 foi o novato australiano Cheyne Horan, que completou 18 anos no dia em que conquistou as esquerdas do Arpoador. Ele fazia parte dos “bronzed aussies”, que contava ainda com Ian Cairns, Peter Townend e Jimmy Banks. Horan voltaria a vencer no Rio na edição de 81. No ano anterior, Joey Buran (EUA) foi o campeão e, no último Waimea-82, o australiano Terry Richardson levou a melhor.

Com a despedida do Rio de Janeiro do circuito mundial, o Brasil só voltou a receber um outro grande evento com o épico Hang Loose Pro Contest, na Praia da Joaquina, em Florianópolis. O pico da capital fluminense retornou ao circuito mundial somente em 2001, numa etapa móvel, que teve a final disputada no Arpoador. O pódio acabou dominado pelos australianos: Trent Munro (1º), Mark Occhilupo (2º) e com Joel Parkinson e CJ Hobgood (EUA) empatados no terceiro lugar. Os brasileiros mais bem colocados foram o catarinense Neco Padaratz e o paranaense Peterson Rosa (PR). Além do lado competitivo, o evento também teve um destaque negativo. Então campeão mundial, o havaiano Sunny Garcia perdeu a cabeça e deu uma pranchada em um fotografo que participava da cobertura do evento.

R$ 1 milhão para o primeiro WQS no Arpex

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Depois de sediar mundiais no final da década de 70 e início de 80, além do WCT em 2001, a praia do Arpoador recebe pela primeira vez em sua história uma etapa do WQS, a divisão de acesso. O evento é nível máximo seis estrelas no masculino e quatro no feminino. Segundo o promotor do evento, Sérgio Lindeman, que nem era nascido na época dos primeiros mundiais no Arpex, foram necessários dois anos para planejar o evento e um total de R$ 1 milhão:

– Foi por volta de R$ 1 milhão de investimento. Foi bem difícil para colocar ele (o WQS) aqui. Por ser ano de eleições, tivemos dificuldades em angariar em recursos públicos, mas é um evento que conta com apoio do governo municipal, estadual e federal – disse Lindeman.

O idealizador de tudo

Longe de todo o glamour e do retorno proporcionado nos dias de hoje, na década de 70 investir no surfe era algo considerado no mínimo exótico, para não dizer totalmente arriscado. Isso, no entanto, não foi obstáculo para Nelson Machado, proprietário de uma lojinha chamada Waimea e que entrou para a história como um dos responsáveis por introduzir o Brasil no cenário internacional do surfe.

O Waimea 5000 tem esse nome por causa da perigosa onda do Havaí e também por conta da premiação de US$ 5 mil, considerada uma fortuna para os padrões da época. Desde lá, o Brasil já recebeu 33º etapas da elite do surfe. O Rio de Janeiro sediou 21 eventos, São Paulo três, e Santa Catarina chegou a 9 etapas, incluindo o WCT em Imbituba no ano passado, de acordo com o levantamento do surfecatarinense.blogspot.com.

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Homenagem ao pai do surfe moderno do Brasil

Enquanto a nova geração compete dentro da água, a velha guarda dos anos de ouro do Arpoador realizou um encontro histórico neste sábado, em homenagem ao australiano Peter Troy. Ele apareceu no Arpoador em 1964 e entrou para a história como o pai do surfe moderno no Brasil. Troy chegou ao Brasil vindo do Peru “cheio de doenças e com uma ameba”, de acordo com lembranças da época de Mário Bração, um dos primeiros shapers, (responsável pela criação de pranchas) do país. O australiano foi acolhido pela galera do Arpoador e revolucionou o surfe nacional, com suas manobras sobre a prancha de fibra em uma época em que os brasileiros só conheciam o madeirite.

O pai do surfe moderno brasileiro faleceu no último dia 29 de setembro por causa de uma embolia. Ele foi homenageado por alguns pioneiros do surfe nacional como Arduíno Colasanti, o mais velho de toda essa galera, com 78 anos, Rosaldo Cavalcanti e Mário Bração. Todos usavam colares havaianos que foram atirados ao mar em homenagem a Troy. Depois, houve um encontro inédito entre o ex-surfista catarinense Teco Padaratz e Arduíno, que se abraçaram e conversaram no calçadão do Arpoador enquanto a nova geração competia dentro da área na tentativa de também um dia deixar de alguma forma o nome gravado na história do surfe.