Condenado pelos incômodos gerados no ambiente escolar, o telefone celular pode se transformar em um aliado no processo de aprendizagem, segundo um estudo de um grupo de pesquisadores internacionais. O relatório Horizon 2010, que identifica tecnologias que podem ter forte impacto na educação nos próximos anos, aponta o celular como uma das ferramentas pedagógicas do futuro.
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Resultado da troca de informações entre especialistas de mais de 300 universidades no mundo, o relatório coordenado pelas organizações New Media Consortium e Educause bate de frente com a visão dos gaúchos quanto à presença do aparelho nas escolas.
Por desviar o foco da atenção do aluno para ligações e mensagens de texto em vez do professor, o celular está banido oficialmente das salas de aula de escolas e universidades do Rio Grande do Sul desde janeiro de 2008, após lei sancionada pela governadora Yeda Crusius.
Pelo estudo, o celular pode ser útil para pesquisas durante a aula e para gravar trechos de explicações do professor (veja quadro). Única brasileira a participar da edição mais recente do relatório internacional, Cristiana Assumpção defende que educadores brasileiros repensem a postura quanto ao uso.
– O celular é uma ferramenta que está na mão de todos, não importa a classe social. Não se pode tapar uma coisa que está vindo como um rolo compressor. Com a proibição, os alunos logo encontram uma forma de contornar isso, fazendo às escondidas. O pensamento deveria ser: já que estão usando, como podemos fazer para usar melhor? – afirma a especialista em tecnologia da educação, coordenadora dessa área no Colégio Bandeirantes, de São Paulo.
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A discussão sobre o uso do celular no ambiente escolar começou há alguns anos, com a popularização da comunicação móvel no país. Com a redução do preço dos aparelhos, crianças e adolescentes começaram a ganhar o primeiro celular cada vez mais cedo.
Para a professora Rosane Aragón de Nevado, especialista em aprendizagem em ambientes digitais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o desafio dos educadores para os próximos anos será aproveitar adequadamente os recursos dos aparelhos móveis.
– Os professores têm de aproveitar a familiaridade dos jovens com o celular para reverter isso em conhecimento útil na sala de aula. Isso ainda não ocorre adequadamente com os computadores, que já usamos há mais tempo – analisa Rosane.
O secretário estadual da Educação, Ervino Deon, informa que o governo do Estado aposta hoje nos computadores como ferramenta tecnológica. Além de dotar todas as escolas públicas com espaços informatizados até o fim deste ano, o esforço dos próximos anos será oferecer notebooks aos estudantes.
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O celular na sala de aula ainda é visto com ressalva pelo secretário, mas a posição pode ser mudada no futuro.
O relatório
O relatório Horizon 2010 é publicado anualmente desde 2002. A ideia é identificar e descrever as tecnologias que podem ter forte impacto na educação em salas de aula de escolas e universidades nos próximos cinco anos.
– Internet – Com o consentimento do professor, alunos podem buscar na internet complemento de informações sobre o tema estudado em sala de aula. Por exemplo, saber a estimativa da população brasileira atual, no site do IBGE.
– Pesquisas – Dados coletados em saídas de campo podem ser divulgados para toda a turma por meio de redes sociais como o Twitter ou blogs.
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– Tirar fotos – Uma imagem, uma fórmula matemática, uma explicação no quadro-negro podem ser fotografadas para serem revistas antes de provas.
– Gravar vídeos e áudios – Com permissão do professor, estudantes podem filmar ou gravar áudios de trechos de explicações para ver ou ouvir novamente depois, em casa.
– Dicionário – Consultar o significado de palavras e até conhecer o significado de algumas delas em outras línguas.
– GPS – Manipular o aplicativo de localização pode tornar mais interessante as aulas de geografia, por exemplo, nas quais frequentemente os temas envolvem mapas.
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– Armazenar arquivos – Exercícios para fixar o conteúdo e vídeos explicativos indicados pelo professor podem ser baixados pelo aluno no próprio celular.
– Ligações – Estudantes que falam ao telefone durante as aulas perdem explicações do professor e prejudicam os colegas.
– Mensagens de texto – Troca dos famosos torpedos compromete a atenção dos alunos, além de representar desrespeito com o trabalho do professor
– Toque fora de hora – Se não estiver desligado ou no silencioso, aparelho pode tocar na hora errada e atrapalhar a aula.
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– Cola eletrônica – Estudantes mal-intencionados podem usar a comunicação celular para enviar e receber irregularmente gabaritos durante provas.
– Gravações clandestinas – Com celulares cada vez menores e mais modernos, aulas gravadas sem autorização podem parar na internet sem o consentimento dos protagonistas. No You Tube, há quase 800 vídeos listados com as palavras-chave “aula chata”.
– Ouvir música – Equipados com rádio e tocadores de música, celulares podem tirar a atenção dos alunos se utilizados durante a aula.
– Gastos – Se não for usado adequadamente, celular pode significar gasto extra para os pais com contas altas.
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