O ator e diretor Jorge Fernando está em Florianópolis para duas apresentações no teatro do Centro Integrado de Cultura (CIC). Nesta sexta, ele encarna oito personagens na comédia Boom, sucesso em cartaz há 14 anos, e no sábado volta ao palco no monólogo Salve, Jorge Fernando. Nesta entrevista por telefone, o quase sessentão Jorginho fala que ainda fica nervoso antes de entrar em cena e diz que o mundo está precisando de uma política espiritual.
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Você esteve em Florianópolis com a peça Boom há cinco anos e foi um grande sucesso. Qual a expectativa agora?
Eu ia viajar só com Salve, Jorge, mas eu senti saudades dos atores que trabalhavam comigo no Boom. É muito chato viajar sozinho com monólogo, então resolvi fazer a dobradinha. Então faço Boom com Marcelo Barros e a Maria Carol às sextas e aos sábados faço meu novo espetáculo. A diferença entre os dois trabalhos é que um é tudo mentira e o outro é tudo verdade.
Fazendo dobradinha com quase 60 anos de idade. Qual o segredo para manter essa energia?
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Tenho 58, ainda faltam dois! Ah, eu sempre fui assim, eu sempre fui o Jorginho. Agora que eu tô caindo em mim que a idade tá chegando, a bunda caiu… Mas na energia, no prazer, na força, eu me acho igual. Eu não tive ainda que mudar nenhuma marca por causa da resistência, muito pelo contrário. Porque eu era gordão, então, eu agora mais leve, a coisa fica bem mais fácil.
Como está sendo interpretar a si mesmo na peça Salve, Jorge Fernando?
Tá sendo ótimo, o público morre de rir. Nas duas peças, a reação é igual, e isso que é bom. O público sai feliz. O ideal é o público assistir aos dois, que são um estudo sobre a minha loucura. Salve, Jorge é sobre a minha vida, não é uma homenagem a mim. É uma baixaria a respeito do que não deu certo, dos acontecimentos polêmicos, com pedaços de peças que já fiz, pedaços de shows que eu já dirigi. É a parte humorada da minha vida pessoal e profissional. Conto histórias de bastidor, histórias pessoais, faço um pedaço da peça Pequeno Dicionário Amoroso, faço o show da Claudia Raia, faço um pedacinho de cada coisa e conto minha trajetória até aqui.
Como você consegue conciliar seu trabalho na Rede Globo com a carreira teatral?
Salve, Jorge tá em cartaz há um ano e meio, mas eu estive no palco menos do que isso porque parei durante a novela (o remake Guerra dos Sexos, dirigido por ele pela primeira vez há 30 anos e que terminou em abril). Agora que eu retomei. A minha carreira teatral depende muito do que eu tô fazendo na Globo. Se tem uma folga, tem um espaço, eu faço.
Na peça Boom, você entrava no palco um pouco antes do horário pra sacanear o público. Você continua sacaneando a plateia?
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Com mais educação, talvez. Tô bem mais centrado, mas tem muita sacanagem. E no Salve, Jorge eu danço com 10 mulheres no palco, é bem interativo. Tem histórias que dão certo um dia, eu aumento, tem outras que eu não conto, conto outras. É bem interessante como exercício meu.
Apesar de ser uma comédia, Boom fala de temas como morte e passa uma mensagem de vida?
As duas têm mensagem. É uma mensagem de vida, de como a gente pode valorizar o nosso minuto, em vez de ficar pensando no que passou, na nossa irritação, nossos preconceitos. É bem legal, o povo ri, o povo se emociona. Eu convido o público a vir morrer de rir, vir crescer rindo. Porque eu proponho uma revisão na cabeça de todo mundo. E todo mundo que para pra pensar na sua vida acaba crescendo de alguma forma. Quando a gente vê os erros dos outros, a carapuça acaba entrando. Acho que é isso que a peça quer despertar: uma vontade nas pessoas de tocar seus projetos, amar sem preconceito, ir celebrando a vida, entendendo a morte. Isso pra mim é o mais importante, saber viver.
Você é espírita?
Sou espírita, mas não faço nenhuma apologia ao espiritismo. Acho que qualquer religião te leva ao crescimento espiritual. Eu acho que é isso que o mundo tá precisando, de uma política espiritual, da volta com urgência do “por favor, dá licença, obrigado”. Da gentileza que gera gentileza.
Em Macho Man, você interpretou Nelson, um ex-gay. O que você acha da cura gay?
Ah, isso é a coisa mais ridícula. Acho ridícula essa cura gay.
Você foi pra rua protestar?
Eu tô na rua, protestando a vida inteira. Acho que o artista tem obrigação de refletir isso, o gosto do povo. Todas as reivindicações são muito justas. Chegou a hora de o Brasil acordar. Claro que sem o quebra-quebra, sem o vandalismo. Mas o momento político é muito importante, você vê despertar o país, o chega, o basta nessa roubalheira toda, na quantidade de imposto que a gente paga, e nas melhorias que a gente não vê com esse dinheiro. Acho que chegou a hora de a escola de samba sair.
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Você vai conseguir passear em Floripa desta vez?
Ah, Floripa é o paraíso. O ruim que quando a gente viaja com peça o nervoso de entrar em cena é tão grande que a gente acaba não curtindo direito a cidade. E as pessoas são maravilhosas, com a cabeça aberta, o público é bem receptivo, gosto muito de trabalhar aí. Já levei outros espetáculos meus que eram só direção, todos deram certo.
Não vai passear então?
Ah, eu vou comer nos melhores restaurantes.