Um estudo recente feito em Blumenau mostra que cerca de um terço do lixo coletado na cidade está indo parar no lugar errado. A conclusão é da Racli, responsável pelos resíduos sólidos no município. Atendendo uma cláusula contratual com a prefeitura, a empresa avaliou o conteúdo de 110 caminhões de coleta durante aproximadamente 45 dias. O resultado do levantamento obtido com exclusividade pelo Santa mostrou a necessidade de conscientizar a comunidade para o descarte adequado.
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O gerente de Resíduos Sólidos do Samae, Felipe Leite, conta que o estudo chamado de gravimetria analisou os materiais presentes em 62 caminhões da coleta convencional e apontou que 30% do material descartado ali poderia ser reciclado. A título de comparação, esse percentual era de 19% no estudo feito em 2020. Ou seja, houve um acréscimo de 11 pontos percentuais.
Em uma cidade que produz 7 mil toneladas de lixo comum ao mês, isso significa que cerca de 2 mil toneladas poderiam deixar de ser descartadas no meio ambiente e ainda gerar renda com a reciclagem. Como o Samae paga à Racli pelo material coletado e também ao aterro sanitário onde esse conteúdo vai parar, reverter esse cenário representaria economia aos cofres públicos.
— Estamos falando de uma redução média de R$ 500 mil ao mês. Imagina isso em um ano — diz Leite.
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Quando o assunto é o material descartado nos caminhões da coleta seletiva — aquela onde era para estar apenas os itens destinados à reciclagem — o percentual de descarte inadequado sobe. Numa amostra de 48 caminhões, se constatou que 35% do conteúdo deveria ter recebido outro destino. São principalmente restos de comida, lixo de banheiro, sobras têxteis e itens da chamada logística reversa, como pilhas e lâmpadas.
De acordo com o presidente da Reciblu, Arnoldo Pahl, o percentual de descarte inadequado na coleta seletiva é maior, chega a praticamente metade do que a cooperativa recebe.
Conforme o Samae, cerca de 200 das 700 toneladas do material coletado na cidade vai para a Reciblu. Se o aproveitamento fosse maior, seria possível aumentar a renda das pessoas em situação de vulnerabilidade social que trabalham na separação desse conteúdo.
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— Digamos que eu passe 100 toneladas na esteira, hoje nós tiramos quase 50 que não dá para reciclar. Se fosse uma coleta normal, a gente iria tirar cinco, 10 toneladas. Ou seja, nós renderíamos mais que o dobro — afirma Pahl.
Confira aqui os dias que as coletas convencional e coletiva passam na sua rua.
Há muito para avançar
Pahl e Leite concordam em uma coisa: é preciso investir em ações de conscientização da comunidade sobre a importância do descarte adequado. O gerente de Resíduos Sólidos do Samae garante que isso vai ser feito e algumas estratégias começam a ser traçadas para em 2022 reduzir em 10% a quantidade de material sendo despejado de forma equivocada.
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Leite reconhece haver muito para avançar. Ele conta, por exemplo, que ainda são frequentes as reclamações apontando que o caminhão da coleta comum leva junto o material reciclável. O gerente garante que a Racli tem sido notificiada para que isso deixe de ocorrer.
Outro ponto citado é o percentual elevado de material têxtil jogado junto com lixo comum enquanto deveria ser destinado a um aterro industrial. Nesse caso, seria necessária uma denúncia para chegar até quem está fazendo o descarte irregular.
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— Será um trabalho feito a muitas mãos. O poder público com campanhas, a população com a separação, a fiscalização do Samae quanto ao serviço de coleta, e também os coletores informais — pontua.
Veja o que descartar na coleta seletivo, o que vai no lixo comum e algumas dicas.
Tem solução?
Campanha educativa está no topo da lista de ações pensadas pelo Samae para reduzir o percentual de material descartado de forma inadequada em Blumenau. Outra ideia é seguir o exemplo de cidades próximas e entregar aos moradores sacolas específicas para a coleta seletiva, o que por um lado incentiva o cidadão e pode evitar que o conteúdo vá parar no caminhão do lixo comum.
Se o trabalho der resultados como esperado, a demanda da coleta seletiva deve aumentar. Leite diz que hoje a Reciblu trabalha dentro da capacidade máxima. Por isso, outras 400 toneladas da coleta seletiva vão todo mês para uma empresa privada paga pelo Samae para receber o conteúdo dos caminhões e dar o destinado adequado.
Com maior volume, vai precisar de mais empresas ou cooperativas interessadas no trabalho.
O presidente da Reciblu diz que a cooperativa se prepara para ampliar a capacidade de operação e, consequentemente, dobrar o número de cooperados, gerando emprego e renda para uma parcela de pessoas que na maioria é mulheres, veio do Haiti e ainda não tem domínio da língua portuguesa.
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