Quem trafegar na única rodovia totalmente duplicada de Santa Catarina, o trecho norte da BR-101, vai começar a ver um cenário menos verde pelas janelas nos próximos anos. A transformação já está em curso. E pode não demorar muito, dada a velocidade com que as cidades do Litoral Norte catarinense cresceram nos últimos 10 anos.

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Enquanto os municípios às margens do trecho duplicado aumentaram seu PIB em média 476% nos últimos dez anos, Santa Catarina cresceu 290%. As informações fazem parte de um estudo realizado pelo Instituto Jourdan, de Jaraguá do Sul.

– Em um futuro próximo o trecho de Joinville até Palhoça vai ser uma coisa só. Não vai demorar muito tempo para que aconteça como na Grande São Paulo, onde todas as cidades são interligadas e você não sabe onde começa uma e termina a outra – afirma o diretor-presidente da Havan, Luciano Hang.

Certa da expansão, a rede de lojas já tem quatro unidades às margens da rodovia federal. Barra Velha, Itapema, São José e Palhoça têm a bandeira da Havan.

Com o investimento da Havan e outros empreendimentos, o PIB de Barra Velha cresceu 599% em 10 anos. Outros municípios emblemáticos pelo volume de crescimento são Garuva (com 944% de expansão), que recebeu a fábrica de tratores LS Mtron, por exemplo, e Araquari (536%), que em breve deve ter em operação a primeira fábrica da BMW na América Latina.

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Itajaí aproveitou o momento e foi a que mais cresceu entre os municípios pesquisados, 986% nas medições de seu PIB pelo IBGE ao longo da última década. Em grande parte graças ao seu porto: a APM Terminals, empresa operadora de logística do terminal de Itajaí, é a maior pagadora de impostos municipais.

– Estamos no epicentro de uma região que concentra 70% do PIB do país – diz o diretor de Indústria, Comércio e Serviços da prefeitura de Itajaí, Carlos Fernando Priess, em referência às regiões Sul e Sudeste.

Desenvolvimento aponta para mudança urbana

Os terrenos gramados ao lado da estrada duplicada começaram a dar espaço a fábricas, centros de distribuição, comércios e residências. Ainda não ocorre em toda a BR-101 norte a sensação de sair de um município e chegar a outro sem notar a diferença, mas há regiões que já vivem essa situação.

Para quem vem do norte em direção ao sul pela rodovia – de Joinville até Penha, de Balneário Camboriú até Porto Belo e de Biguaçu até Palhoça, a impressão é de que as cidades estão unidas pelo desenvolvimento.

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– Há essa tendência de conurbação, principalmente nas áreas litorâneas – explica a urbanista Angela Favaretto.

A pesquisadora fez seu mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre a paisagem urbana da BR-101 no trecho norte do Estado. Agora, desenvolve o doutorado dentro do mesmo assunto.

Angela acredita que pode ocorrer a formação desse corredor urbano às margens da rodovia, com a instalação de indústrias principalmente, ao longo dos próximos dez anos. Mas é improvável uma conurbação real neste período, o que significaria que as áreas urbanas se unissem completamente. Para ela, ainda existem espaços bem rurais entre alguns municípios e formações naturais que impedem esse movimento.

Expansão menor longe da BR-101

Praticamente todas as cidades localizadas ao longo do trecho duplicado tiveram crescimento do PIB bem acima de outros municípios de Santa Catarina e do próprio crescimento do Estado, que teve um aumento de 290% nos últimos dez anos (veja o infográfico). Esse eixo que puxa o crescimento da economia catarinense tem três centros: o polo metalmecânico de Joinville, a logística portuária da foz do rio Itajaí-Açu e a economia diversificada da Grande Florianópolis.

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São essas três regiões que criam a maior parte dos empregos gerados no Estado. E, mesmo cidades próximas desse eixo de desenvolvimento, como Jaraguá do Sul, que está a 40 quilômetros da BR-101, e Blumenau, a 50 quilômetros, não conseguiram reproduzir o mesmo crescimento ao longo dos últimos anos. A situação se repete ao analisar a criação de empregos. As novas vagas se concentram neste eixo produtivo (ver gráfico).

– Há mais dificuldade de desenvolvimento econômico, sim. Se você analisa o crescimento, não só percentual, mas em números absolutos, fica evidente que esse eixo de deslocamento, essa estrutura logística próxima a outras indústrias atrai mais indústrias e gera esses clusters – explica Benyamin Parham Fard, presidente do Instituto Jourdan.

A entidade faz planejamento para a prefeitura de Jaraguá do Sul e elaborou o estudo que compara o crescimento das cidades beneficiadas pela duplicação com outras catarinenses.

Oeste catarinense sente os reflexos

O caso mais extremo é o Oeste catarinense. A agroindústria precisa trazer milho para o Estado, por rodovias, e depois transporta suínos e frangos pelas mesmas estradas de pista simples. Uma solução seria a via ferroviária, por meio da chamada Ferrovia do Frango, que não saiu do papel.

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– Os projetos estão prontos há mais de 20 anos. O que falta realmente é compromissso da parte governamental de aplicar isso. E não só na época de campanha – diz Cristian Dihlmann, vice-presidente da Facisc para a Indústria.

A própria BR-101 norte, duplicada, já opera acima de sua capacidade. Se a intenção é manter o protagonismo nos anos que virão, além de garantir o equilíbrio histórico que é uma marca do Estado, pelos depoimentos, há mais serviço a ser feito que tempo para executá-lo.

Foto: Arte DC / Reprodução