Animação é a palavra que define a costureira aposentada Célia Cecília Reis. Aos 75 anos, ela faz parte de um grupo de pessoas que já representa aproximadamente 12% da população blumenauense. São 43 mil idosos na cidade, de acordo com o professor universitário Fábio Marcelo Matos, que acaba de ter a tese de doutorado aprovada sobre o cenário dos idosos em Blumenau. Ele leva em consideração a estimativa populacional divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 28, bem como os índices de natalidade e mortalidade do município. O trabalho de Matos avalia a situação das pessoas que passaram dos 60 anos a partir de um conceito chamado de envelhecimento ativo, que tem quatro pilares:
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– É uma política pública baseada em conhecimento permanente, acesso à saúde, segurança para autonomia do indivíduo e participação social. Os locais que desenvolvem projetos com essas dimensões estão promovendo um envelhecimento bem sucedido – explica o docente.
Em sete anos, o número de idosos em Blumenau deve chegar a 50 mil, acredita Matos. A taxa de longevidade está na casa dos 75 anos para homens e 83 para mulheres. Em 2050, a expectativa é de que no Brasil existirão mais idosos que crianças abaixo de 15 anos, fenômeno inédito, aponta o IBGE. A preocupação agora é como essa população chegará até lá e se há instrumentos que permitam um envelhecimento sustentável.
Um evento que ocorre essa semana na cidade surge como opção nessa direção. Entre segunda e quinta-feira, Blumenau recebe a LongevidadeFest. O evento é voltado ao público acima de 50 anos, com foco promoção da qualidade de vida, integração social, vivências culturais e lazer (confira a programação na tabela).
A cidade conta com um trabalho para esse público desenvolvido pela Fundação Pró-Família, que atualmente atende 6,8 mil idosos. Célia é uma dessas pessoas. Uma vez por semana faz ginástica na capela em frente à casa onde mora com o marido de 78 anos.
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– Ele está sempre arrumando pintando, roçando. E eu gosto de estar no meio das pessoas, de dançar, viajar, passear – conta a aposentada.
Para o professor Matos, é dessa forma que as pessoas precisam chegar à terceira idade. Para isso, ele destaca a necessidade de o poder público estar preparado para atender essa parcela da população e atuar na promoção da qualidade de vida dela, para que no futuro essas pessoas tenham saúde e independência.
Matos defende que, após analisar trabalhos semelhantes nas capitais federal e estadual, Blumenau é o que tem uma rede mais efetiva de atenção aos idosos. A afirmação é reiterada por ele após conhecer a realidade de diferentes cidades da região no 1º Fórum Regional de Envelhecimento Ativo e Sustentável do Médio Vale do Itajaí, que reuniu cerca de 950 pessoas em junho. Na ocasião, o prefeito Mário Hildebrandt (PSB) assinou o decreto que institui a Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa, iniciativa criada com a colaboração do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Para a presidente da Fundação Pró-Família, Cristiane Marta Loureiro, o ato representa o comprometimento da administração municipal com as políticas dos idosos. Atualmente, 43 oficinas são oferecidas gratuitamente àqueles que passaram dos 60 anos, com atividades físicas, artesanato e música. O serviço contempla ainda palestras sobre temas como saúde, educação financeira e autoestima.
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O trabalho é descentralizado e está presente em praticamente todos os bairros da cidade. Para Matos, essa presença cada vez maior no local onde o cidadão está faz toda a diferença. Ele defende uma atenção especial aos bairros Itoupava Central, Velha e Garcia, apontadas pelo IBGE como as localidades com a maior concentração de idosos.
– Blumenau é um território que você vai conseguir aplicar as dimensões do envelhecimento ativo. Porém a efetividade e transversalidade das políticas têm que existir para que se alcancem mais pessoas – pontua o professor.
Trabalho e atividades físicas para se ocupar
Manter-se ativo é fundamental para Afonso Krueger, 66 anos. Motorista do transporte coletivo de Blumenau, ele tem como lema que quanto mais estiver no meio das pessoas e fazendo o que ama – dirigir –, melhor. Atualmente ele reveza a disposição entre passar as manhãs alimentando os bichos que tem em casa e as tardes a transportar os passageiros. Para Afonso, o trabalho é um remédio para o corpo e a mente, pois o mantém ativo e focado nos planos para uma vida que promete ser muito longa.
– Meu pai trabalhou até os 75 anos. Quero trabalhar até os 70, depois vou cuidar do sítio – planeja o motorista.
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Para alcançar o objetivo, Afonso sabe que precisa se cuidar. Por isso, entre uma escala e outra, encontra tempo para pedalar, caminhar e remar. O médico Mario Kato brinca dizendo que ao deixar o pediatra a pessoa já deve começar a se preocupar com a chamada terceira idade. Ele defende que o indivíduo precisa se responsabilizar pelo processo de envelhecimento, com boa alimentação, atividade física, social e trabalho.
Entretanto, Kato reforça que o poder público deve se preparar e ofertar condições para que esse envelhecimento ocorra da melhor forma e exemplifica com a necessidade de acessibilidade das calçadas, do transporte coletivo e até mesmo a ampliação da rede de cobertura das equipes de Estratégia Saúde da Família.