Após sete anos na Avenida Professor Nelson Martins, no centro de Palhoça, a Biblioteca Pública Municipal Guilherme Wiethorn Filho vai mudar de endereço. A partir do dia 2 de maio passará a funcionar dentro da Faculdade Municipal de Palhoça (FMP), no bairro Ponte do Imaruim. Estudantes e funcionários da biblioteca não concordam com a mudança e afirmam que, no novo local, o espaço do acervo vai diminuir, a realização de projetos será prejudicada, assim como o acesso dos alunos e da comunidade aos livros. A prefeitura alega que a transferência vai gerar economia de gastos com aluguéis.

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Esta não é a primeira vez que os livros são encaixotados para mudança. Em 42 anos desde sua criação, a biblioteca já passou por nove prédios, dentre eles o Colégio Estadual Governador Ivo Silveira e o Caic Professor Febronio Tancredo Oliveira. A bibliotecária Erli Paulo, 52, conta que a cada novo local parte do acervo se perde – em 2008, eram 25 mil livros, em 2013, dois anos, na última transferência, o número passou para 6 mil e atualmente são 12 mil – e, desta vez, vai perder metade do espaço.

— Uma mudança sempre traz pontos negativos, principalmente quando a gente vai deixar um espaço de 300 metros quadrados para outro de 120 metros quadrados. Não há como negar que vai ser prejudicado porque vamos ter menos espaço de circulação. Aqui recebo 50, 60 crianças para uma contação de histórias e lá, se a gente quiser fazer este tipo de atividade, teremos que nos deslocar para outro espaço — diz.

Segundo Erli, por mês, a biblioteca tem uma circulação de 300 a 400 livros emprestados, fora as pessoas que vão até o local pesquisar no acervo ou nos computadores disponíveis. Além disso, há contação de histórias, eventos durante datas comemorativas e o projeto Conecta Biblioteca, que tem o objetivo aumentar em 60% o número de usuários.

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— Eu penso que o acesso das pessoas aqui é mais fácil, porque todos os bairros convergem para o Centro. Na Ponte do Imaruim, as pessoas vão descer do ônibus, pegar uma rua e caminhar uns 200 metros para chegar ao prédio da faculdade. Vai ser mais difícil, como é que os alunos vão até lá? As escolas do entorno de lá talvez usem a biblioteca, mas as daqui não sei se vão frequentar.

Alunos e líderes estudantis não concordam com a transferência da biblioteca municipal para um ambiente acadêmico. No Colégio Governador Ivo Silveira, o maior da cidade, foram colhidas 400 assinaturas contra a mudança. Na Faculdade Municipal de Palhoça (FMP) foram mais de 200 assinaturas. Os estudantes também levaram a insatisfação ao prefeito Camilo Martins e usaram a tribuna da Câmara de Vereadores da cidade para falar sobre o assunto.

Estudantes mobilizados

Sara Oliveira, 17, diretora acadêmica da União Palhocense dos Estudantes Secundaristas (Upes), argumenta que o local atual da biblioteca ainda não é o ideal, mas é melhor do que ir para a faculdade, onde vai prejudicar o atendimento à população.

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— A comunidade não vai sair daqui e pagar uma passagem de ônibus para ir até a FMP. O estudante não vai gastar o passe que ele usa para a escola pra ir até a faculdade pra ter acesso à biblioteca. A gente quer sair daqui para um lugar fixo, para uma sede própria, para ter melhorias e não sair daqui para ficar escondido numa faculdade onde apenas um bairro será beneficiado.

William Nazaré, 23, diretor acadêmico da faculdade de Palhoça, diz que a biblioteca universitária já está em um espaço improvisado, onde duas salas de aula abrigam o acervo acadêmico:

— Estão quebrando a parede para juntar mais uma sala ao lado onde será a biblioteca municipal. É uma precarização. O prefeito não vê a biblioteca como algo importante, ele vai usar a faculdade como depósito de livros.

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Segundo Nazaré, dentro da comunidade acadêmica não há uma posição unânime sobre a transferência da biblioteca municipal. Mas a falta de espaço e como vai ficar o atendimento são questionamentos de todos.

Apesar de atender pessoas de todo o município, o colégio que mais usa a biblioteca é o Ivo Silveira, pela proximidade. O presidente do grêmio estudantil da escola, Lucas Cunha, 18, diz que a mudança vai prejudicar o andamento de projetos feitos pela unidade, que passou a ter ensino integral.

O que dizem:

A prefeitura

A prefeitura de Palhoça informou, em nota, que o principal motivo da mudança é a economia referente ao aluguel, um custo de R$ 92.177,04 por ano. Ainda de acordo com a nota, os projetos realizados atualmente na biblioteca municipal vão continuar no novo espaço, que terá o acervo separado do acervo acadêmico.

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Além disso, alega que o bairro Ponte do Imaruim é o mais populoso do município e onde fica o terminal de integração. “A prefeitura tomou todos os cuidados para que a biblioteca não perdesse suas funções e projetos perante os usuários”, diz a nota. Hoje, a biblioteca funciona no período da tarde, das 13h às 19h. Na FMP ela passará a atender das 8h às 21h.

A Faculdade Municipal de Palhoça

O diretor administrativo da Faculdade Municipal de Palhoça, professor Denis Liberato, informa que diariamente o fluxo de pessoas que passam pela faculdade é intenso e conecta todas as idades. As crianças participam da brinquedoteca, jovens fazem EJA e CEJA, adultos dos cursos de graduação e pós-graduação, além dos idosos que participam da faculdade da maturidade.

Segundo Denis, o espaço da biblioteca acadêmica tem 180 metros quadrados e o acervo municipal ficará no mesmo local, porém separado. A comunidade terá acesso ao acervo da biblioteca acadêmica e vice-versa. Porém, só não poderá emprestar livros específicos de disciplinas.

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Os projetos de contação de histórias ocorrerão na brinquedoteca que, de acordo com Denis, é mais apropriado, e os computadores irão para o laboratório de informática.

— Estamos contentes de receber a biblioteca e acreditamos que ela vai conseguir chegar ao objetivo de atender a comunidade num espaço acadêmico. Embora a faculdade não fique no Centro, ela geograficamente é mais acessível porque os ônibus passam por aqui, tem estacionamento — diz Denis.

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