<P>O dia amanheceu como em uma intensa manhã de inverno. Frio. Mas não um frio daqueles à que estamos acostumados sentir no Litoral. O frio era cortante. Batia recordes. Em Itajaí, a temperatura era de 5°C. Um frio tão bruto que só os necessitados se atreveram a deixar a cama. As ruas não estavam movimentadas como de costume. O sol não apareceu pela manhã e o vento insistia em mostrar presença. As portas e janelas das casas e condomínios estavam, em sua maioria, fechadas. Assim estavam também, as janelas do prédio número 1.230 da Rua Lauro Müller, em Itajaí. O edifício igualmente gelado que ironicamente abriga a redação do Jornal “O Sol Diário”. Tocamos o interfone e nossa entrada foi liberada. Dois lances de escadas nos levam à redação. Quem nos recebe é o fotojornalista Marcos Porto, vencedor do Prêmio Embratel de Fotografia em 2011. Um homem alto de sorriso largo, que deixa evidente seu bom humor matinal. Um homem que por sua simplicidade seria confundido com qualquer outro, não fosse os equipamentos que carrega consigo, e que parecem ser sua própria extensão.</P>

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<P>O cheiro do ambiente é peculiar. Uma mistura de tangerina e café. Aromas típicos no inverno. A sala com 10 computadores está com apenas uma de suas máquinas ocupadas. Marjorie Basso, uma das repórteres do jornal, atualiza as redes sociais. Com a versão impressa do jornal em mãos, analisa as principais notícias publicadas. A função não é propriamente dela. Marjorie explica que todos na redação se mantêm em sintonia para deixar as páginas atualizadas, mesmo havendo um profissional responsável por essa tarefa. Até às 10h da manhã, período de maior acesso, as matérias de destaque são postadas e “O Sol Diário” consegue brilhar nas páginas da internet.</P>

<P>Aos poucos os lugares começam a ser ocupados. Entre um telefonema e outro, Fernanda Friedrich, checa as ocorrências policiais. Tudo segue tranquilo. Com a ronda feita, a repórter está livre para cobrir sua primeira pauta do dia. O tema da matéria será a preparação dos agricultores para enfrentar um fenômeno climático conhecido como “geada negra”, em parte responsável pelo imenso frio que assola a região. </P>

<P><A href=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388445.jpg” target=_blank><IMG title=”” alt=”” src=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388446.jpg”></A><BR>Foto: Marcos Porto/Agência RBS</P>

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<P>Para registar as imagens, Marcos Porto acompanha a jornalista. É ele também quem dirige a Parati branca pilotada com a logo do jornal e o nome “imprensa”. O fotojornalista mantem o olhar atento ao trânsito e a possíveis imagens que valham ser fotografadas. </P><A href=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388426.jpg” target=_blank><IMG title=”” alt=”” src=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388427.jpg”></A><BR>Foto: Marcos Porto/Agência RBS

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<P>Seguimos até uma região rural, conhecida em Itajaí como Colônia Japonesa, local onde a agricultura familiar impera. À margem da estrada, uma imensa área verde com plantações mistura-se ao matagal e às casas simples da região.</P>

<P><A href=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388433.jpg” target=_blank><IMG title=”” alt=”” src=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388434.jpg”></A><BR>Foto: Marcos Porto/Agência RBS</P>

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<P>Os destinos estavam previstos em pauta, os entrevistados não. Assim, como quem encontra ouro, avistamos uma senhora, possível agricultura. Nossa suspeita se confirma. Mas a entrevista ainda não será aqui. A senhora nos indica seguir em frente em busca de alguém que esteja trabalhando. Seguimos mais alguns quilômetros por uma estrada de barro. Uma parada rápida para fotografar as comportas abertas na barragem do rio Itajaí-Mirim, para facilitar o escoamento da água. A situação está normal, mas o registro é válido. Num instante Marcos vai de motorista a fotografo. Seguimos adiante até o bairro Espinheiros, no qual avistamos alguns trabalhadores rurais encapuzados dos pés à cabeça. Só o rosto e as mãos estão expostos, sendo castigados pelo imenso frio. Fernanda se apressa para perguntar sobre a preparação para a “geada negra”. E somos levados a conhecer uma espécie de estufa improvisada de lona, com 50 metros de comprimento, criada primeiramente para evitar os danos causados pela chuva, mas que servirá para esta ocasião de frio. O rapaz de vestes simples que nos recebe, diz nunca ter presenciado um frio de tamanha proporção. Calçado com botas sujas de lama nos guia plantação adentro.</P>

<P>O trabalhador que nos acompanha, Cesar Augusto Lana, entra na proteção que se assemelha a uma estufa, e entre as cebolinhas verdes é fotografado por Marcos. Aproveita a ocasião para retirar as folhas atingidas e mortas pelo frio. Acompanhando o agricultor, nossos sapatos enchem de lama, uma terra muito negra e aparentemente fértil. Andamos entre as plantações como se estivéssemos pisando em ovos para evitar um escorregão. </P>

<P>- Ser repórter é ter o eterno treinamento de escrever andando ou fazendo qualquer coisa. – diz Fernanda. Mais adiante encontramos outras pessoas trabalhando. A repórter não perde tempo e pergunta: – Vocês estão preparados para enfrentar a “geada negra”? </P>

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<P>- A gente está esperando é que ela não venha. – Brinca Maria Aparecida enquanto embala alguns produtos. Voltamos ao carro e Marcos chega por último. A tarefa de captar imagens às vezes é demorada. </P>

<P>- Eles são muito tímidos, isso atrapalha um pouco. – Comenta o fotojornalista.</P>

<P>Continuamos nosso percurso pela a estrada de barro. Avistamos algo que parece ser uma estufa legítima. Vale um clic e dois dedos de prosa com uma moça que mora ao lado da plantação. Continuamos nosso trajeto. As plantações estão vazias de trabalhadores. No mato, os gados pastando parecem não se importar com o frio. Mais um clic! Indiferentes à temperatura estão também vários pássaros em revoada. Outro clic! De longe, vemos dois agricultores trabalhando no campo. Clic especial!</P>

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<P>Com dois caixotes repletos de alface nas mãos, um jovem agricultor cuida da plantação. Não se queixa do frio, apenas da chuva. Ao lado de Giovane Tonkelski três crianças acompanham a colheita, e tímidas pousam para foto. São várias as cenas fotografadas no caminho de volta. Pegamos a rodovia em busca de produtores de arroz. No percurso, uma parada para fazer algumas imagens do Parque Municipal do Agricultor Gilmar Graf, onde acontece a festa do Colono. Ao ver um veículo da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural/Epagri, Fernanda desembarca do carro em busca de informações. À procura de produtores, são diversas as paradas para pedir informações. Durante essa “saga” passamos por uma das pontes do bairro Paciência, que mesmo não estando em pauta, merece uma foto. Seu passeio está extremamente danificado. </P>

<P>- Quem sabe alguém do jornal se interesse para uma matéria. – explica Marcos.</P><A href=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388498.jpg” target=_blank><IMG title=”” alt=”” src=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388500.jpg”></A><BR>Foto: Marcos Porto/Agência RBS

<P><BR>Aventuramos-nos por outra estrada de barro coberta por água. Por sorte o carro não atolou. Os arrozais que cercam a pista estão igualmente alagados. É hora de tentar outro destino. Seguimos pela rodovia Antônio Heil e as plantações de arroz começam a ser avistadas, mas não há ninguém por perto para ser entrevistado. Entramos no bairro Brilhante, e em outra parada em busca de informações encontramos um agricultor.</P>

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<P>- Nessa época aqui não se planta arroz. – Explica o agricultor Ademir, aliviado porque seu plantio não será afetado. Com esse esclarecimento, o jeito é buscar outra plantação que esteja em época de cultivo. E enfim encontramos alguém. Dona Ilma Victorino, que planta aipim há mais de 30 anos. Embora não tenha tomado nenhuma providência para proteger sua plantação, não se intimida pelas condições climáticas.</P>

<P>Depois de diversas conversas, várias fotos e pedidos de informações, tomamos o caminho de volta à redação. Nesse instante a reclamação pela sensação de frio divide espaço com a fome. Passadas mais de três horas, chegamos ao jornal por volta das 12h30. A parada para o almoço é breve. Agora é preciso compilar todo o material recolhido, selecionar e editar. O processo é o mesmo em todas as pautas. O repórter escreve a matéria, envia ao editor que revisa o texto. Depois o material é impresso e revisado novamente. Com tudo checado, as páginas são diagramadas e mandadas à gráfica para impressão.</P><A href=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388505.jpg” target=_blank><IMG title=”” alt=”” src=”http://www.clicrbs.com.br/rbs/image/15388504.jpg”></A><BR>Foto: Marcos Porto/Agência RBS

<P><BR>Produzir uma notícia ou reportagem não é tarefa fácil. Quem olha o texto e as imagens dispostos de forma organizada na folha do jornal, pode não ter ideia de quanto empenho isso exige. Todos os dias, faça chuva ou faça sol, diversos profissionais saem às ruas e travam batalhas contra o tempo em busca de informação. Todos os dias, homens e mulheres como Marcos e Fernanda enfrentam diversos obstáculos para dar vida ao conteúdo que chega até você. Assim, fica claro a responsabilidade de cada profissional da comunicação com o seu leitor. Por isso, como diria o jornalista Cláudio Abramo “O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter.” Acrescentamos à essa frase que a prática e o exercício a que Abramo se refere, é tanto de quem escreve o texto, quanto de quem o lê.

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Texto: Letícia Dias da Costa e Pricilla Tiane Vargas *<BR>* Acadêmicas do 6º Período do Curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí</STRONG></P>