Enquanto a Seleção Brasileira entrava em campo para enfrentar a Austrália na Copa do Mundo de Futebol Feminino nesta quinta-feira (13), na França, aqui no Brasil, as Donas do Placar já estavam preparadas para narrar a partida, transmitida ao vivo por rádio e internet. Dentro do estúdio de rádio da UFSC, em Florianópolis, elas narram, comentam e passam muitas informações aos ouvintes sobre a competição.

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O grupo de extensão do curso de Jornalismo da UFSC é formado apenas por meninas, e foi criado especialmente para cobrir os jogos da Copa do Mundo Feminina de 2019. Com o microfone nas mãos, as estudantes colocam em prática tudo o que aprendem em sala de aula, além de darem um passo importante para a profissão, criando espaço e incentivando as mulheres a trabalharem com esporte.

Maria Eduarda Gonçalves Dalponte, 19 anos, é uma das meninas que faz parte do grupo — são mais de 20 participantes. Estudante da 5ª fase de Jornalismo, descobriu que queria seguir carreira na área esportiva ainda no primeiro ano de curso, após vivenciar o dia a dia da cobertura de esportes nos laboratórios da universidade.

— No entanto, muitas meninas que gostam ou querem participar para aprender têm vergonha, porque normalmente só têm homens, que sabem muito sobre futebol. Elas não se sentem a vontade de estar naquele ambiente — conta Duda, como é chamada pelas colegas.

Duda participa do grupo como narradora, comentarista e na reportagem (Foto: Gabriel Lain / Diário Catarinense)

Com as Donas do Placar, não há espaço para discriminação. No grupo há meninas que sempre sonharam em trabalhar com esportes, e também quem nunca soube nada de futebol, mas estava disposta a aprender. Segundo Duda, foram mais de dois meses de preparação para a Copa, com grupos de estudos, oficinas e testes de transmissão. Elas precisaram correr atrás de informações sobre as 24 seleções, esquemas táticos, estratégias de jogo e o desempenho das jogadoras. Neste último quesito, tiveram dificuldades, porque ainda há pouca informação sobre as seleções femininas.

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— Ficamos ao vivo durante duas horas, então não dá só para pegar o esquema tático e sair narrando porque ninguém aguenta, tem que ter informação, conteúdo — explica Duda.

Dominique Cabral, 21 anos, que participa das transmissões como comentarista e na reportagem, afirma que há espaço para todas, e cada uma atua conforme seu conhecimento.

— Muitas estudaram para aprender o básico, desde os termos do futebol até estratégias de jogos. Se prepararam para atuar em diversas frentes, como nas redes sociais, na reportagem. Mas para ser comentarista, é preciso entender muito e acompanhar os jogos — conta.

Representatividade no mercado de trabalho

As Donas do Placar nasceu a partir da iniciativa da professora da disciplina de Jornalismo e Gênero, Fernanda Nascimento, que percebeu a necessidade de ter um espaço para mulheres na cobertura esportiva, uma reclamação que ela recebia com frequência.

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— Essa dificuldade que elas sentem não existe apenas daqui. Nós temos um problema estrutural de desigualdade de gênero. Estimativas apontam que 15% a 20% das coberturas de jornalismo esportivo no Brasil estão sendo feitas por mulheres. É um dos campos da profissão que temos a menor quantidade de mulheres atuando — informa Fernanda.

Foi em 18 de março deste ano que mais de 20 alunas se uniram e criaram as Donas do Placar. Desde então, as participantes se envolvem de cabeça no grupo e, além da prática de técnicas jornalísticas, estudam a fundo o esporte para mostrarem que têm muito conteúdo para transmitir.

— Pela primeira vez, as meninas são as protagonistas, e ainda mais numa cobertura especial que é a do futebol feminino — comemora Fernanda.

Para ela, a universidade tem grande responsabilidade nesse cenário: é o local onde estes projetos precisam de espaço para se desenvolverem, onde elas podem errar e, o resultado se refletirá no mercado de trabalho, quando as meninas se formarem.

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(Foto: Gabriel Lain / Diário Catarinense)

Maria Eduarda, que sempre gostou de esportes, mas nunca teve um time do coração para torcer, se interessou pelo jornalismo esportivo durante a faculdade, após ter tido a oportunidade de experimentar na prática a profissão.

— Foi a faculdade que me abriu essa porta e mostrou que tem um mundo para explorar. Pela minha vontade vou seguir no jornalismo esportivo, mas sei que tenho uma jornada pela frente, pois percebo que há mais aceitação, mas a postura machista está intrínseca, às vezes não é intencional, mas os homens têm essa superioridade com relação ao futebol. Sabemos que está melhorando muito, tem mulheres apresentando programa esportivo, fazendo reportagem e comentários, mas ainda somos a minoria.

As Donas do Placar não deve acabar após a Copa do Mundo, a intenção é ampliar a cobertura de modalidades esportivas femininas, que não têm tanta visibilidade.

— A entrada das mulheres nesse segmento vai reduzir as desigualdades, reduzir os comentários machistas, os assédios — acredita a professora Fernanda.

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Acompanhe os jogos narrados pelas Donas da Placar

As Donas do Placar fazem a cobertura dos jogos da Copa do Mundo de Futebol Feminino pela Rádio UFSC, também via internet, e pelas redes sociais, na página do Facebook do grupo e da rádio. Elas também estão no Spotify.

Confira como foi a transmissão do jogo entre Brasil e Austrália na quinta-feira (13)