Jögan é um jovem cãozinho de 11 meses. Adotado por uma família quando ainda tinha 45 dias, ele foi devolvido para a Diretoria de Bem-Estar Animal (Dibea) de Florianópolis assim que foi diagnosticado surdo. Mas a história do mascote de olhos castanho e azul ganhou páginas felizes há uma semana, quando o doutorando em estudos da tradução na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) João Gabriel Duarte Ferreira, que também é surdo, o adotou.

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O estudante carioca, que já tinha a cadelinha Gabi, retirada das ruas, desejava encontrar um cão surdo para adotar e nas redes sociais do Dibea encontrou o Pirata, que agora se chama Jögan.

O cão se adaptou rapidamente com a cadelinha Gabi. (Foto: Arquivo pessoal)

— Eu tava lendo, uns dias antes de meu amigo me falar de Jögan, sobre um tipo de olho. De um anime do qual eu estava assistindo. Aí o amigo me falou sobre o cachorro, vi a foto nos stories da Dibea e me lembrou do anime — contou João sobre a decisão de rebatizar o cão.

Jögan, como foi batizado em seu novo lar, tem um olho marrom e outro azul (Foto: Arquivo Pessoal)

Jögan ainda está em processo de adaptação. Já responde alguns sinais de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e ao lado da outra mascote da casa, que já tem 3 anos, tá encontrando seu espaço no novo lar. João conta que o cãozinho estava bastante assustado no dia que chegou, mas que já está acostumando com a nova casa.

— No primeiro dia, estava bem assustado. Recebi visitas anteontem, ele se assustou. Só que está bem com gente. Ele é bem manso! Até dorme comigo.

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João revela que teve cachorros a vida toda e que já conhecia alguns surdos tutores de cachorros também surdos, mas confessa que ainda não sabe detalhes do diagnóstico do seu novo companheiro.

— Eu levarei Jögan na sexta-feira no veterinário para saber mais detalhes do diagnóstico de surdez.

Como identificar a surdez em cães

A veterinária Raquel Souza explica que a surdez em cães é diagnosticada através de respostas comportamentais aos estímulos sonoros e também com um teste eletrofisiológico de potencial evocado auditivo de tronco encefálico, ainda em pesquisa no Brasil, mas bastante utilizado na Europa e América do Norte.

A profissional destaca que existem raças com uma maior disposição para surdez — dálmata e boxer — porém pode ser encontrada em mais de 80 raças, além dos cães sem raça definida.

Existem várias causas possíveis para a deficiência auditiva em cães.

— A surdez pode ser hereditária, senil, provocada por medicações ototóxicas, traumas, otites, má formações, lesão neuronal, dentre outras causas — explica Raquel.

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Sobre os cuidados com o animal com esse tipo de diagnóstico, a veterinária observa que o tratamento é direcionado de acordo com cada paciente. O treinamento desses animais necessita atenção especial.

— A comunicação com pacientes surdos é feita através de gestos. Um treinamento manual deve ser realizado condicionando os animais com auxílio de petiscos adequados. Além dos gestos, o uso de fonte luminosa como lanternas devem fazer parte deste condicionamento. O olfato aguçado dos cães é outro forte aliado na orientação destes pacientes — finaliza a profissional.