De canetas digitais e simulações em computador à boa e velha criatividade. A conversa entre um experiente arquiteto de Florianópolis e uma estudante que vai prestar Arquitetura e Urbanismo este ano não deixou nenhum assunto de fora.

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Michel Mittmann, 39 anos, relembrou seus tempos de faculdade, comentou o mercado profissional atualmente e ressaltou a necessidade de se recuperar a função social do arquiteto. E Fernanda Ferreira, 18, ficou ainda mais determinada a conquistar uma vaga no segundo curso mais concorrido da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Assista ao depoimento do arquiteto Michel Mittmann

O profissional das formas

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O arquiteto Michel Mittmann se formou no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1997. Ele brinca que “era um daqueles que adorava desenhar”, e na adolescência tinha convicção de que queria seguir carreira na área. Durante a faculdade participou de projetos de iniciação científica na área de urbanismo e fez estágio em edificações.

Hoje, tenta unir as duas coisas em seu dia a dia. Há 12 anos fundou o escritório de arquitetura, urbanismo, design de interiores e paisagismo Studio Methafora, do qual é sócio. Mittmann fala da profissão com segurança e paixão, sentimentos que transmitiu no encontro com a estudante Fernanda Ferreira.

Segurança na escolha

A estudante de 18 anos pensa em trabalhar com design de interiores ou com conservação de patrimônio histórico. Mas antes precisa passar no vestibular para o curso de Arquitetura e Urbanismo, desafio para o qual se prepara este ano. Na 8ª série, quando começou a pensar mais no vestibular, se encantou com a profissão. Passou a pesquisar sobre as possibilidades de atuação e, desde então, nunca mais mudou de ideia.

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(Foto: Daniel Conzi/Agência RBS)

Foto: Daniel Conzi/Agência RBS

Como foi o bate-papo

Graduação

A espinha dorsal do curso – pelo menos o da UFSC, onde estudei – são os projetos e os ateliês. É lá onde a “coisa acontece”. É possível trocar ideias com colegas, inclusive de outros períodos, mais adiantados. Quanto mais você vive aquele ambiente mais o seu trabalho evolui. A graduação exige muito tempo de dedicação. É muito comum “virar a noite” fazendo projetos, por exemplo. Além de ser um curso referência, que possui um ótimo laboratório na área de conforto ambiental e conservação de energia, a formação te dá uma visão sociológica do papel do arquiteto e urbanista, que te faz contestar e refletir sobre sua posição política na sociedade.

Dia a dia

Em um escritório de arquitetura, o mais comum é existir uma equipe de no mínimo três pessoas trabalhando em um projeto. Existe uma certa hierarquia, com cada etapa tendo pessoas diferentes. Tudo é sempre muito discutido, entre os profissionais e também com os clientes. O trabalho coletivo vai além do escritório. A relação com construtoras e engenharias também demanda comunicação constante. É preciso tirar da cabeça das pessoas a ideia do arquiteto “popstar”. São poucas as pessoas que se destacam individualmente.

Mercado de trabalho

Tem espaço para todo mundo. No início você não vai ter retorno à altura de suas horas dedicadas, mas aos poucos, se você for uma boa estudante, antenada, e fizer bons projetos, vai conseguir o seu lugar. A experiência que você vai adquirindo ao longo dos anos conta muito. Estamos vivendo um momento favorável para a construção civil, que movimenta muito a arquitetura.

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Tecnologia

Atualmente o emprego da tecnologia, através de ferramentas de simulação, de modelagem e visualização tridimensionais e de plantas digitais colaboram bastante para o trabalho do arquiteto e urbanista.

Social

O papel social da arquitetura tem que ser recuperado. É importante pensar a mobilidade urbana. O litoral catarinense, por exemplo, é lindo, mas as construções nesse espaço são feitas sem reflexão. A arquitetura tem que conversar com o local onde ela está inserida. Uma cidade com mangue tem que ser planejada de maneira diferente de uma localizada sobre uma planície. As prefeituras precisam de arquitetos para ajudar a “ordenar a cidade”. Existem pessoas que trabalham especificamente em regiões de baixa renda.

Impressões da estudante

A estudante conta que gostou de saber sobre os ateliês na faculdade e a possibilidade de interação com estudantes de outras fases chamou sua atenção. Fernanda não sabia sobre os concursos em arquitetura e design, e depois da recomendação de Michel, pensa em participar de alguns enquanto estiver na faculdade. Outro aspecto do dia a dia de Michel que lhe fez querem ainda mais ser arquiteta é a relação tão próxima com recursos tecnológicos.

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Por dentro da carreira

Opções de atuação

Para o professor e chefe de departamento do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, Fernando Simon Westphal, além de escritórios de arquitetura e consultorias, é possível trabalhar no setor público, em secretarias de infraestruturas e institutos como o Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis) e o Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Ambiental). Atualmente, algumas construtoras e engenharias se unem aos arquitetos em uma mesma empresa. Essa prática é mais comum na Europa, por exemplo, mas no Brasil começa a crescer.

O que é mais gratificante

Para Michel Mittmann, o ambiente criativo em que se trabalha cotidianamente mantém o profissional sempre imaginando e pensando o espaço. Todo dia existe um desafio novo, ideias novas, e isso é muito positivo. O trabalho em equipe também é muito prazeroso. Para o professor Fernando Westphal, conseguir fazer uma obras integrada ao meio ambiente, com materiais sustentáveis e que contribua para a sociedade traz grande satisfação.

O que é mais difícil

A valorização do trabalho do arquiteto tem crescido, mas ainda não é o ideal, acredita Mittmann. O arquiteto afirma que é difícil manter um escritório de ponta em um mercado assim. O professor Westphal aponta outra dificuldade é fazer com que o cliente aceite a solução mais adequada, proposta pelo arquiteto.

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Do que precisa gostar

Para Mittmann, a arquitetura é a soma das exatas com a arte. É preciso ter apreço pela arte e pela história, e conseguir expressar seus desejos e ideias através dos projetos, seja através do desenho ou de ferramentas de computador. O profissional afirma que a ideia de que o arquiteto precisa ser um mestre do desenho é um mito. Desenvoltura com computação também é importante. O professor Fernando Westphal confirma que as exatas são importantes. Cerca de 10% das horas curriculares obrigatórias são ligadas à matemática, física e geometria. Aproximadamente 8% das disciplinas tem relação com o design.

Disciplinas e tempo de duração

O professor Fernando Westphal explica que o currículo do curso da UFSC é montado com base em quatro áreas principais: ateliês de projetos arquitetônico e urbanístico, tecnologia, teoria e história. Já nas primeiras fases os alunos têm contato com disciplinas dos quatro núcleos e com a prática. Geometria descritiva, desenho, história da arte, disciplinas de tecnologia, de experimentação estrutural, conforto ambiental e sustentabilidade são algumas das disciplinas que permeiam o curso.

O curso é composto por dez períodos. A partir da sexta fase os alunos devem fazer um estágio obrigatório em algum escritório, e apresentar um relatório. Os alunos concluem a graduação com um trabalho final, que geralmente é um projeto arquitetônico, mas pode ser uma monografia ou uma obra mais artística, como uma intervenção.

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Mercado de trabalho

Santa Catarina tem cerca de 20 cursos de Arquitetura e Urbanismo, de acordo com o professor Westphal, portanto a oferta de profissionais é grande. Atualmente, existem muitas oportunidades, principalmente por causa da agitação provocada por eventos de futebol como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, que mesmo indiretamente atraem investimentos. O Brasil é visto como a bola da vez por estrangeiros.

É importante se especializar em alguma área, sendo possível também fazer mestrado e doutorado e seguir a carreira acadêmica. Em Florianópolis o serviço público é forte. No país, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e a região nordeste se destacam como mercados mais movimentados. O professor aponta que o futuro da arquitetura é o desenvolvimento sustentável, que tem sido buscado por muitas empresas preocupadas com sua imagem.

Salário inicial

Uma resolução federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (Cau/BR) determina que, para jornada de até seis horas diárias, a remuneração deve seguir o piso de seis salários mínimos (R$ 4.068,00). Para jornadas superiores a seis horas diárias, o salário desse profissional tem como base o custo da hora, mais 25% para as horas excedentes. De acordo com o professor Westphal, na prática um recém-formado ganha entre três e quatro salários mínimos para oito horas diárias de trabalho (40 horas semanais).

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