A mãe não consegue segurar as lágrimas ao falar do filho, que se recupera em um quarto do Hospital Regional de São José. Na última sexta-feira pela manhã, o garoto de 17 anos levou um tombo na entrada para a aula, nas dependências do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC) de Palhoça.
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A mãe conta que colegas de escola, que perseguem seu filho com brincadeiras e zoações há bastante tempo, teriam preparado uma armadilha. Enquanto um se inclinou atrás do adolescente, fazendo uma cama de gato, outro o empurrou com força. O rapaz de 1,96 metro caiu de costas, batendo a cabeça no chão.
– Cheguei no colégio e vi meu filho estava atordoado, com um corte na cabeça, sem saber que tipo de livros segurava nas mãos – diz a mãe, que não quis ser identificada na matéria.
Levado ao Hospital Regional, o adolescente recebeu um curativo, uma receita e foi liberado. Voltou no domingo, com as dores ainda mais fortes. O diagnóstico feito pelo próprio diretor da unidade, Ademar Nienkoetter Carpes, que cobria um buraco na escala dos plantonistas, indicava cálculo renal.
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– A dor era lombar. Ele foi medicado e não aliviou. Fizemos uma ultrassonografia que identificou cálculo renal (pedra nos rins) e assim ele foi internado – contou o médico.
Sem apresentar melhoras e com uma dor que avançava pela região abdominal, o rapaz foi submetido a uma ressonância na quarta-feira pela manhã, quando finalmente foi descoberta a causa do mal estar. O jovem não estava com cálculo renal, mas com apendicite.
Diagnóstico tardio e cirurgia de emergência
Identificado o real problema, o jovem foi submetido a uma cirurgia de emergência. A apendicite se encontrava em grau 4 de infecção (varia de 1 a 5). A mãe alega que momentos antes um médico cirurgião do hospital disse a ela para que procurasse a direção para conseguir uma vaga no centro cirúrgico, pois caso contrário seu filho morreria em meia hora.
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– Eu sai desesperada pelo hospital para implorar que salvassem meu garoto – lembrou ela.
O diretor Ademar Nienkoetter Carpes diz que o paciente não apresentava um quadro típico de apendicite até quarta-feira. Ele confirmou ter recebido o pedido da mãe, mas nega que não havia quarto.
– Era uma situação de urgência, mas não corria este risco. Ele vinha tomando antibióticos desde a internação. Agora, a informação que não tinha quarto não procede, pois logo foi providenciado o centro cirúrgico para ele – afirmou Nienkoetter, que ainda não conversou com o médico envolvido no episódio.
O médico também não foi encontrado pela reportagem para responder às acusações.
Para mãe, foi bullying
A mãe tem certeza seu filho está em uma cama de hospital por ser vítima de bullying. Ainda na sexta-feira ela registrou um boletim de ocorrência sobre o fato, considerando que a escola foi negligente.
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– Desde os 12 anos que meu filho é perseguido. Um dos meninos do grupo que o agrediu sexta-feira já tinha perfurado seu braço gratuitamente este ano – contou ela.
A diretora do CAIC, Diocléia dos Santos Reus diz que a escola fez tudo o que podia ter feito.
– Prestamos os primeiros socorros, acionamos o SAMU, chamamos os pais dos estudantes envolvidos e avisamos o Conselho Tutelar. O caso foi encaminhado ainda para avaliação da Secretaria Municipal de Educação – afirmou a diretora, que nega ter havido bullying.
– Eles são amigos, sempre andam juntos. Foi um acidente, fruto de uma brincadeira de mal gosto – disse por telefone.
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Os pais dos quatro alunos envolvidos na ocorrência não foram encontrados para se explicarem na matéria.
Bullying é crime?
Tramita na Câmara dos Deputados o projeto lei Nº 1011/2011, que inclui o bullying no Código Penal. A proposta foi aprovada na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO) no ano passado, mas ainda depende de parecer favorável de outras duas comissões parlamentares antes de seguir para plenário.
Pela proposta, o crime consiste em intimidar, constranger, ofender, castigar, submeter, ridicularizar ou expor alguém, entre pares, a sofrimento físico ou moral, de forma reiterada.
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A pena prevista é de detenção de um a três anos e multa. Se o crime ocorrer em ambiente escolar, a pena será aumentada em 50%.