O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi prestado por 5,8 milhões pessoas no Brasil inteiro ano passado. A prova, que hoje é um dos principais métodos de entrada no ensino superior, tem na redação uma das notas mais importantes. Segundo dados do Ministério da Educação, 53 mil pessoas tiraram nota zero na redação, enquanto somente 104 no país inteiro alcançaram nota mil, a máxima possível. Neste seleto grupo de estudantes brasileiros, está uma jovem de 17 anos da cidade de Witmarsum, no Alto Vale do Itajaí.

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Márjori Larissa Padoin mora na pequena cidade de menos de 4 mil habitantes e fez o Enem somente nos dias 1º e 2 de dezembro, pois na região do Alto Vale as provas foram adiadas por conta da enchente que atingiu algumas cidades em outubro. Ao invés do tema “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, Márjori teve que escrever sobre a valorização do professor no Brasil. Filha de uma professora de português, ela conta que o tema a ajudou, por assistir de perto o trabalho da mãe:

– Fiz o Enem pela primeira vez em 2014 e já tirei uma nota boa na redação, fiz 860, então esse ano esperava ir ainda melhor, mas me surpreendi. O tema ajudou bastante para chegar aos mil pontos. Eu cresci rodeada por livros, sempre ganhava da minha mãe em todas as datas festivas – conta.

Ela lembra que viu a nota de madrugada, e quando percebeu que havia tirado mil acordou todos em casa com a notícia, celebrada com muito orgulho pelos pais. Com o sonho de ser médica, Márjori conviveu nos últimos anos com uma rotina de estudos puxada. No ano passado cursava o terceiro ano do ensino médio de manhã e um curso técnico à tarde, na cidade vizinha de Ibirama, e à noite ia para Rio do Sul, onde frequentava um curso preparatório para o vestibular.

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– Eu chegava em casa 23h30min e às vezes ainda precisava estudar ou fazer algum trabalho da escola, além de me dedicar bastante nas aulas – lembra a jovem, que diz que o adiamento da prova no Alto Vale não a atrapalhou, pois deu algumas semanas a mais para estudar.

Para alcançar a nota mil na redação, ela explica que usou uma tática que aprendeu com a mãe e dividiu o texto em pontos principais que precisava abordar:

– Falei sobre o fato do Brasil buscar sempre um bom índice de educação mas não investir o suficiente no professor, que é o responsável pela educação de qualidade no país. Outro ponto foi a desvalorização dos professores, que precisam estudar muito para poder repassar os conhecimentos aos alunos, mas não são remunerados para isso.

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Entre os 100 melhores do país, Márjori diz que não se considera uma nerd e que às vezes recebe da mãe cobranças para ir estudar.

– Gosto de estudar, mas também como qualquer adolescente faço outras coisas. Saio com os amigos, gosto de assistir seriado, ler, ficar de pernas pro ar e etc.

Entre os livros favoritos da garota nota mil estão “O Diário de Anne Frank” e “Eu Sou Malala”. Histórias reais, do tipo que ela diz gostar mais e que a incentivam a escrever.

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Mudança de cidade e mais estudos pela frente

Estudante de escola pública durante todo o ensino fundamental, ela avalia o Enem como uma prova extensa e complicada. Com maior aptidão para a língua portuguesa, diz que nem conseguiu terminar a prova de matemática, o que abaixou sua nota geral no exame. Mesmo com a nota máxima na redação, Márjori não conseguiu entrar no sonhado curso de Medicina na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, e na UFSC. Agora, ela faz as malas para no mês que vem, quando completa 18 anos, se mudar para Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde vai fazer um curso preparatório específico para as faculdades de medicina.

Ansiosa para a mudança para uma cidade nova, onde vai morar com outras três garotas que ainda não conhece, Márjori espera entrar logo na universidade e seguir o sonho de virar médica. Assim como teve o apoio da mãe para ir tão bem nas redações, o sonho vem de casa. O pai é secretário de Saúde de Witmarsum, e foi das histórias dele sobre médicos que ela decidiu pela profissão.

– Tive muito apoio em casa, por conta do trabalho do meu pai e também de ver a minha mãe estudando para o mestrado quando eu era criança. Via ela com livros e queria aquilo também, foi um exemplo.

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