Ninguém nasce pronto para ser um estudante de medicina. Acredite. Aliás, costumo dizer que tal escolha incide diretamente no fato de você ser ou não um verdadeiro Hércules dos estudos, excetuando-se pela premissa de – nesta jornada – não serem apenas doze trabalhos a se cumprir.
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Além de, obviamente, mais numerosas estas tarefas iniciam muito antes do ingresso como acadêmico. Afinal, insistamos sobre a verdade mor: no Brasil, há que se nascer médico de forma prematura e o grande passo para tamanha façanha tem nome. É o vestibular.
Talvez William Douglas, autor do livro Como Passar em Provas e Concursos, discorde de minha opinião, no entanto, vem a ser nítido o inexistir de formato padrão aos estudos daquele o qual dá vida ao sonho de ser médico. Paredes rabiscadas, resumos coloridos, amizades com a caneta marca-texto, vídeos sobre os assuntos, repetições da matéria em voz alta, grifos em partes importantes ou até paródias musicais.
Não importa, cada um possui um ritmo e uma maneira de inclinação ao sucesso deste objetivo. Vale ressaltar a comparação da rotina de um vestibulando ao sistema de volvismo pois – para obter melhor desempenho – se preconizará a sintonia do seu eu. Por exemplo: caso seu nível de concentração seja máximo ao anoitecer, será ótimo enamorar-se das madrugadas. Caso seja ao amanhecer, o nascer do sol deverá lhe servir como incentivo.
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O interessante é que, de dia ou de noite, o admirável gado novo “dar muito mais do que receber” marca o estereótipo que se montou acerca da luta. Serão momentos de insônia, tardes exacerbadas e manhãs longas. Contudo, valerá a pena. A vitória de ingressar na faculdade, ao concorrer com a maior taxa de candidatos por vaga, cicatriza o espírito de doação. Desta conquista em diante o corpo humano deixa de ser apenas um lugar para se estar e passa a incorporar o objeto de estudo mais curioso de todos.
Sendo assim, livros de anatomia, com suas incontáveis nomeações, irão ocupar a estante (ou a vida?). Atitudes simples ganharão novas cores. Quem sabe o choro será evitado pois o bendito ducto nasolacrimal desemboca no meato inferior da conha nasal e então ao chorar você inevitavelmente também irá congestionar a cavidade nasal. Talvez a alimentação seja repensada posto que a gliconeogênese explica o quão benéfico é se alimentar várias vezes ao dia. Em suma, a anatomia do corpo, a biologia das células, a bioquímica das reações, a antropologia das situações assim como também a embriologia do princípio de tudo serão tidas como alicerces do iniciar desta empreitada.
A medicina, portanto, tende a induzir uma postura rígida com a qual poucos sabem lidar. Ao inteirar este mundo, você – estudante – verá muitos ficarem pelo caminho seja no vestibular, seja durante o curso, seja por descaso, seja por desilusão. Há que se entender, no entanto, que a verdadeira vocação incidirá na ideia de o sucesso ocorrer para aqueles os quais souberem internalizar a lei do desapego. Pode ser que não seja de agrado ter de, por vezes, dar cabo de si mesmo em prol deste curso. Nesses instantes, sugiro a desistência do terrorismo sentimental e a lembrança de Drummond afinal , “as coisas findas, muito mais que lindas – estas ficarão”!
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