Ansioso para seguir o caminho dos veteranos que via morando fora do país, o estudante de Economia da UFSC Felipe Scott, 25 anos, mobilizou a família inteira para patrocinar um semestre na Universidad Autonoma de Madrid, na Espanha. Embora viver na Europa possa abrir um rombo no bolso do estudante que precisa se manter com o próprio dinheiro, Scott botou em prática os conhecimentos como economista.

Continua depois da publicidade

Na mala, Felipe trouxe muito mais do que conhecimentos específicos sobre o curso. As aulas das disciplinas não oferecidas no Brasil, por exemplo, fez toda a diferença na formação do estudante. Além de ressaltar os novos “hermanos” que adquiriu, ele dá a dica para quem pensa em fazer um intercâmbio: “Aprenda, pratique, use, tente e divirta-se. A sala de aula é mínima perto das oportunidades fora dela”.

Confira o relato de Felipe Scott:

Atenção Pré-calouros: finanças pessoais te garantem a autonomia necessária para escolher entre ir e vir. Isso é liberdade!

O melhor consumo é o de experiências; o pior é o material desnecessário. Aproveite o seu tempo de universidade, ele vai passar muito mais rápido do que imaginamos. Use o tempo livre para seu benefício profissional: aprenda, pratique, use, tente e divirta-se. A sala de aula é mínima perto das oportunidades fora dela. Na sala de aula, esqueça ser o melhor da turma e busque o seu melhor em relação ao seu ontem. De resto? Se joga ô jogadô! Movido por sonhos, mas tento andar sempre com os pés no chão.

Continua depois da publicidade

O sonho de um intercâmbio resultou do primeiro passo que foi entrar na UFSC. Seguia mais os veteranos que já haviam morado fora. Ainda mais os que viajavam muito. Porém havia a barreira do custo, então, mapeei bolsas, oportunidades, dicas, etc. Dizem por ai que a vida é o que acontece enquanto fazemos planos e, de fato, minha história foi mais ou menos assim. Dentre as 101 estratégias mapeadas, acabei indo de uma maneira que não imaginava. Me joguei na gringa com patrocínio particular – pela minha família e por mim mesmo. Aos meus pais devo muito por se esforçarem pra me dar essa experiência.

O sonho foi se adiando por oportunidades que apareceram na jornada como trabalhar em um projeto de pesquisa em economia aplicada, colaborar na direção do centro acadêmico, monitoria, etc. Adiava-se também pela insuficiente oferta de bolsas de estudos para ciências sociais aplicadas, na comparação direta com exatas e naturais. Em um momento que faltavam só duas fases para eu me formar. Era tentar algo diferente ou abortar o sonho. Decidi seguir meu instinto. Ter controle das minhas finanças pessoais, bons “hermanos” e uma família cabeça me ajudaram a projetar cenários.

Falei com um e outro e assim fomos. Uma avó garantiu parte da passagem e eu completei o resto. Falei com amigos e mapeei contatos no exterior. Com os meus pais fiz um acordo: eles mandariam dois salários mínimos que já me ajudavam nas contas de Floripa. “Tá, mas isso é loucura vai morar na U.E. gastando o mesmo? E o risco cambial?”

Pois é, esse foi o desafio do, então, 80% economista. Precisei completar poucas vezes, lá fora vemos como o Brasil é caro. Desembolsei poupança mesmo só para viajar, mas entendo isso como investimento!

Continua depois da publicidade

Escolhendo o destino

Minha decisão foi ir à Espanha, ganhar fluência em uma terceira língua, tal qual praticar o Inglês. Queria aprofundar em disciplinas relacionadas ao mercado financeiro internacional e engenharia econômica. Escolhi a Universidad Autonoma de Madrid e enviei a papelada. O processo de decisão entre as duas instituições é demorado, requer pré-requisitos (sem bombas por frequência insuficiente, nota acima da média do curso e prova de proefiência em línguas). Normalmente as vagas são limitadas e quando nos inscrevemos nunca sabemos quantos mais vão se candidatar.

Dos papéis até a resposta foram mais ou menos dois meses. Enquanto isso, segura essa dose de ansiedade aí, jovem! Em contrapartida, dali até a viagem foram só 15 dias.

Foi fazer uma mudança de volta pra casa dos meus pais e de lá a mochila para Espanha. Na correria tive grande apoio de muitos hermanos, em especial, na chegada em Madrid. Lá fui recebido por Pedro Rosa, um excelente músico brasileiro que mora por lá há uns bons anos. Sua família e sua banda Sinuata Mallan me abraçaram como um filho. Me ajudaram muito nos primeiros passos. Sem eles, teria a pressão de diárias de hostels me empurrando para qualquer aluguel sem vergonha, ou qualquer “piso compartido”, como eles chamam as repúblicas por lá.

Já caminhando “sozinho”, passei seis meses morando com quatro pessoas: uma polonesa, um britânico e dois espanhóis. Convivi com mundos diferentes, ali pude conhecer culturas opostas para depois ver quanto somos iguais em essência. A experiência do intercambio se torna inesquecível dado a intensidade de momentos de choque cultural, aonde sua consciência expande com a queda de paradigmas, pre juízos e concepções antigas.

Continua depois da publicidade

Modelo de viagem? Pé na estrada

Ainda tinha no bolso o sonho de viajar o máximo que pudesse. A estratégia então foi conhecer lugares aonde tinha amigos e amigas, e lugares de baixo custo. Optei por ir ao Marrocos ao invés da França; depois, por ir a Turquia ao invés da Holanda. Não desmerecendo os segundos, mas chegarei lá mais velho sem grandes dificuldades! Modelo de viagens? Uns bons amigos, pé na estrada e só vai! Sem destino, expectativas ou ideias. Viajo, logo existo.

Entro no meu ultimo semestre na UFSC, vejo o final de um sonho a abertura de muitos outros. As possibilidades de aprendizado no mundo profissional também são gigantes. Sem falar nas inúmeras possibilidades de empreender, explorar, errar e trocar!

Pré-calouro: sem dúvida o intercâmbio, para onde quer que seja e custe o esforço que custar, é uma experiência que vale muito o empenho da preparação e os riscos da jornada. Se joga. Dentro da UFSC agradeço amigos do Centro Acadêmico Livre de Economia (Cale) pela grande escola nos primeiros anos de UFSC. Aos meus colegas da Fiesc pelo aprendizado no trajeto diário até agora. Aos colegas e amigos da Fundação CERTI pela incrível oportunidade de conhecer mais sobre Economia Verde. Aos amigos, hermanos e nossa família por me ajudarem “to keep walking”. Oxalá venha muito mais experiências a todos nós – “bag your dreams in your backpack and go”.